Elogios – quem não gosta?

Maria Solange Lucindo Magno

Li um dia desses na internet algo mais ou menos assim: “O elogio “linda” está igual à sola de sapato. Já gastou. Todo mundo usa.” Em seguida vieram algumas sugestões para substituir o termo já muito usado.

Nós nos deparamos com muitas bobagens virtuais, mas achei bem interessante a referência porque já faz um tempo que eu procuro uma definição para “lindo” nos dicionários e não encontro uma que me satisfaça. Para mim, lindo significa de uma beleza extrema, excepcionalmente belo. Entretanto, nunca externei a minha opinião para não ser apedrejada virtualmente. No advento das redes sociais, o adjetivo lindo foi banalizado. Tudo é lindo. Todos são lindos.

Uma rancorosa virtual, com quem eu tive alguma convivência, me disse anos atrás que eu gostava de ser bajulada e chamada de linda nas minhas postagens. O comentário me surpreendeu sobremaneira, não só pela ousadia, mas também porque tal pessoa fazia parte do grupo de “bajuladores”, de acordo com a visão que ela tinha. Passada a surpresa inicial, respondi à invejosa que eu não tinha controle sobre o que as pessoas diziam ou pensavam a meu respeito e que não era para ela se preocupar porque nas redes sociais todos são lindos, todos no mesmo patamar de beleza, o que leva de alguma forma o elogio ficar desmerecido. Até alguém em uma foto desfocada é considerado lindo. Disse ainda que eu não precisava e nem gostava de ser adulada.

Um elogio feito de maneira sincera pode levantar o moral de uma pessoa que está desanimada ou melancólica. O poder das palavras é muito grande e, uma vez proferidas, é difícil voltar atrás. Através delas podemos erguer ou derrubar alguém.

Ser elogiado é muito bom, principalmente se for um gesto verdadeiro. Faz bem para a autoestima e para a alma. Elogios feitos na hora certa e merecidos nos impulsionam, entretanto, deveria ser igualmente prazeroso elogiar. Todo mundo faz jus a ser elogiado por aquilo que realiza de maneira primorosa.

Eu nunca me contive diante do impulso de elogiar alguém, fosse pela aparência, roupas e assessórios, um feito, uma aula bem dada, uma palestra interessante, uma viagem bem conduzida, um bom atendimento em uma loja… Eu pensava: deixa eu dizer a essa pessoa algo bom que a fará feliz.

Mas nem sempre me dou bem, pois certas pessoas recebem com reserva um elogio de quem pouco conhece. Não me importo, eu falo e pronto! Porém, me calo diante daquilo que não me agrada.

E, claro, tenho que controlar a minha vontade de perguntar: “onde eu encontro desse sapato, brinco, vestido…?”

Desde a mais tenra idade, as pessoas precisam ouvir elogios. Não quero dizer com isso que precisamos ser movidos por eles, pois, do contrário, pode caracterizar uma fragilidade ou pouca confiança em si mesmo. Entrementes, algo notável ou que demandou esforços genuínos tem que ser recompensado com palavras de aprovação. Chefias, professores, pais deveriam se ater a isso.

Eu apenas me abstenho de elogiar quando a pessoa em questão até merece o elogio, mas tem o ego tão inflado ou é tão narcisista que já não precisa do meu. Ah, não suporto os “puxa-sacos” que de forma ridícula distribuem elogios repetidamente, cansando quem os ouve.

Certa vez, num local de trabalho, eu presenciei uma cena que me deu repulsa. Conclui o quanto o ser humano pode ser tão medíocre quando, a meu ver, canaliza os seus complexos e frustrações fazendo maldade com outros.

Havia nesse local uma senhora que vinha de fora. Ela tinha uma aparência jocosa, bem diferente, indispensável dizer que era discriminada por não se encaixar nos padrões. Mas era uma pessoa boa e não perturbava ninguém, ficando literalmente em seu canto. Nem permaneceu por muito tempo nesse trabalho. Ela chegava para trabalhar com uma espécie de mala onde, certamente, trazia de tudo. E ela tinha o hábito de cantarolar (eu soube depois). Pois bem, presenciei o que ocorreu pela coincidência de estar na sala no momento. Os dois funcionários do setor (um homem e uma mulher) ao virem a mulher chegar, pediram efusivamente para que ela cantasse, cobrindo-a de elogios, dizendo que ela cantava muito bem. A mulher toda vaidosa com tantos elogios e por ter a chance de se mostrar para mim, que era sua colega de sala, começou a cantar de forma esganiçada, gritando e nem de longe foi o espetáculo que alardearam. Ela terminou a sua apresentação, sendo aplaudida pelos “jurados” e foi embora para a sua sala. Os dois colegas do setor me olharam buscando a cumplicidade para aquele gesto. Fizeram a maior troça da coitada depois que ela se foi e eu fiquei séria. Nunca me esqueci desse episódio. Por que fazer uma pessoa crer em algo que não é verdadeiro apenas por deboche?

Há aqueles que não conseguem receber um elogio talvez por terem a autoestima tão baixa, que pensam não serem merecedores de escutar algo positivo. É o caso, por exemplo, de uma pessoa que ao ouvir que seus cabelos estão bonitos, responde que eles estão ressecados ou ainda quando tem a sua roupa elogiada, responde que ela é antiga e estragada. Por que não dizer apenas: obrigado (a)? Elogios a gente agradece. Minha mãezinha era alguém que recebia com muito acanhamento qualquer elogio feito a ela. Fico pensando se ela acreditava que não era digna de recebê-los…

É comprovado por especialistas que o elogio não faz bem apenas para quem o recebe, mas também para quem o faz.

O elogio que mais recebi ao longo da minha vida foi o de me chamarem de elegante, e amo quando sou chamada de inteligente. Tem coisa melhor que isso? Há dois que gosto de citar por terem sido interessantes: certa vez, ao entrar numa sala de aula que não era a minha, um garoto disse para mim na frente de todos: “Nossa, tia, você é tão bonita, quem nem parece que é velha!” Todos riram, claro, e eu, surpresa com aquele elogio inusitado, refleti sobre a transparência das crianças quando dão suas opiniões. Para eles a gente é sempre velho. De uma outra vez, um rapaz de um setor de telefonia olhou bem para mim, desviou o olhar, tornou a olhar e disse: “Você não parece ter nascido em 1960”. Intimamente achei fofa a maneira delicada que ele encontrou de me dizer que eu não aparentava ter a idade que de fato tinha. Essa interação que é o bom da vida: dizer coisas às pessoas, sem magoá-las.

Eu dou uma dica para quem quiser: se porventura vir algo bonito, que lhe chame a atenção, em vez de se deixar dominar pelo nefasto sentimento da inveja, elogie aquilo que tenha sido o objeto de sua admiração. Poderá constatar que faz um bem danado: para você e para o outro.

Portanto, que abramos o nosso coração para elogiar e receber sem modéstia os elogios que merecermos, sem, contudo, achar que precisamos deles o tempo todo para sermos bem sucedidos ou mostrar o nosso potencial.

 

 

Maria Solange Lucindo Magno, casada, sem filhos

Professora da rede estadual de ensino (anos iniciais do Ensino Fundamental – aposentada

Inspetora Escolar da rede estadual de Minas Gerais

Pedagoga tendo atuado como Técnico em Educação na Secretaria municipal de Educação de Barbacena – aposentada

Autora do livro “Escritos com o Coração” – publicação independente e de várias crônicas

Participação em duas Antologias

Possui um perfil na comunidade Scriv, onde tem publicações

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Instagram: @mariasolluc

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