Vida que floresce

Por Débora Ireno Dias

A vida não tem sido bonita. Não tem tido cores, apenas alguns amores que ainda resistem ao descompasso da respiração. Não tem sido bonita, tem tido sabor amargo das frustrações, o cheiro fétido dos dias cinzentos. Não tem sido, não tem ido. Mesmo assim, saio de mim e vou percorrer meus quilômetros, em busca do que me falta, deixando para trás o que me pesa. Passo por vazios, por lixos, por cheiros que mais parecem ilustrar quem estou no momento. Um latido voraz traduz o sentimento que vai dentro, a raiva, a angústia, o medo. A paisagem seca, cinza, concretada traz a sensação do aperto, do ar sufocado, do coração tenso, do pensamento pesado. As passadas vão passando por metros, quilômetros. O coração acelera libertando o ar que insiste em sair, em entrar, em purificar. A oração vai e volta, acompanhando os pensamentos que desejam se acalmar. Passo por caminhos de sempre. Olho o de sempre. Pedras, árvores, carros, acenos. Sorrisos! Sorrisos e abraços em meio ao caos que se faz presente. Olho mais! Sinto uma brisa, um calor. Escuto um pio, vejo revoadas. Olho ao redor e vejo as cores. Flores! Sinto aromas da padaria, da comida e do perfume daquele que passa por mim. Sinto o ar entrar, o olhar encontrar algo que encante, os passos ficam mais firmes na direção que se deseja chegar. O caos continua, o medo e a angústia ainda ali. O vazio por hora foi tomado pela beleza daquelas flores com suas cores, anunciando primavera na terra, primavera na alma. À beira do que é feio, fétido, sujo, quase desprezível, nasce vida, cor, esperança. Sinal de amor! Se até ali, onde jaz o imundo, nasce o belo, como não nascer, florescer e transparecer o belo também aqui?! Vida segue, ainda carregada, mas buscando a leveza do que se viu no caminho.

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