Pauta em prosa, verso em trova (volume 28)

Por JGHeleno*

Um texto sagrado não deve ser desdenhado nem tratado com desrespeito. Mas pode perfeitamente ser lido também como literatura. É o que pretendemos fazer aqui.

Você mesmo, se quiser, apanhe sua Bíblia e leia o início do Gênesis onde se fala da criação da luz, do firmamento, dos vegetais, dos animais, e, por fim, do homem. No fim desse processo, o Criador entregou tudo ao homem. Fez-lhe apenas uma restrição: não comer dos frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal, plantada no meio do jardim do Éden. Mas antes disso, o Criador tinha dado ao homem uma companheira. Leia as palavras do Gênesis: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda. Iahweh Deus modelou então, do solo,  todas as feras selvagens e todas as aves do céu e as conduziu ao homem para ver como ele as chamaria: cada qual deveria levar o nome que o homem lhe desse. O homem deu nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras selvagens, mas, para o homem não encontrou a auxiliar que lhe correspondesse. Então Iahweh Deus fez cair um torpor sobre o homem e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer a carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem. Iahweh  Deus modelou uma mulher e a trouxe ao homem (Gênesis, 2,18-22) . Copiado da “Bíblia de Jerusalém”).

O texto bíblico não está tomado aqui como revelação, mas como narrativa literária. Uma leitura não implica nem exclui a outra. Do ponto de vista literário, o texto é fundamental quando afirma duas coisas: primeiro: que o Criador concedeu ao homem o poder de criar SENTIDO para as coisas, ao lhes dar nomes. Esse é o significado literário de dar nome a tudo; segundo: o ser humano não foi criado para viver sozinho. Por isso, o Criador fez uma companheira para ele.

Ao dar nomes às coisas, o homem se viu diante de dois problemas: primeiro problema: algumas coisas não parecem ter sentido: a morte, por exemplo. A solução para este problema, ele encontrou no recurso a uma Divindade. Surgem aí as religiões. Segundo problema: os nomes das coisas são desnecessários para um ser solitário. Não havendo com quem compartilhar sentidos, os nomes das coisas ficam praticamente inúteis. Aí ele viu mais uma vez como companhias são importantes. E decidiu valorizar o convívio , no amor, na amizade, na parceria, na ciência etc.

São pois, quatro balizas que o homem usa para dar sentido ao mundo: 1. A inteligência/razão (para dar o nome certo a cada coisa), 2. O convívio (porque o homem não cria nada sozinho). A criação supõe: amor, amizade, parceria, colaboração, acordos, pactos etc. A própria linguagem não tem sentido se não existir o outro; 3. A religião, ao transferir a um Ente superior, divino, a explicação daquilo que a inteligência sozinha não consegue explicar); e 4. A arte. Por ela, ao invés de o homem se inquietar diante da dificuldade em encontrar sentido para algumas coisas, ele passa a explorar justamente essa incerteza. O ilimitado – ou infinito, ou universo – é o lugar privilegiado em que cada ser humano pode ser único sem ser isolado dos demais seres humanos, e em que ele pode obter o máximo de sucesso em sua ação criadora de sentido.

Em reumo: o sentido do mundo apoia-se em quatro pilares: 1. Inteligência/razão; 2. Convívio; 3. Religião; 4. Arte.

Como aqui tudo acaba mesmo em trova:

SENTIDO flui na incerteza(4),

no convívio(2) e na razão(1);

e também na natureza

da própria religião(3).  (JGHeleno).

 

*(JGHeleno, da Academia Barbacenense de Letras; da Academia Juizforana de Letras, da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora; da União Brasileira de Trovadores, da Associação Brasileira de Poetas Aldravianistas; da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos)

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