A Arte de Ser Avô

A crônica de Francisco Santana

Por Francisco Santana

Entre prazeres e felicidades, apareceram os filhos. Agora, o lar está em festa. Papai, mamãe e nenê. Tudo é alegria, já não falta mais nada. Falta sim! Para que servem os filhos? Eis o grande enigma. Só quem avalia essa pergunta, sabe que a grande importância dos filhos e nos dar netos. Duvida? Com muita propriedade a escritora Rachel de Queiroz escreveu:  “Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo…”

Agora sim, o lar está completo: avós, pais, filhos e netos. Tenho dois netos: Ana Luísa, 12 anos, que reside em Belo Horizonte e Bernardo, 3 anos, que reside conosco em Barbacena. Sempre tive em mente aquela figura do vovô de cabelos e barba branca com os netos assentados perto dele ou no seu colo lhe pedindo para contar uma história. Com a Luísa pouco aconteceu, mas com o Bernardo é uma tarefa diária para minha alegria e emoção. O velhinho de cabelos brancos ficou careca. Bernardo é uma criança inteligente, eletrizante, astuto, atencioso, fascinante e questionador. Ao ouvir minhas histórias ele presta atenção nos detalhes, nomes e se na segunda contada, se observar um deslize, pede que a pare, corrige a falha e manda seguir. Há momentos interessantes onde ele pede para parar e me diz: “Vovô, vou fazer cocô e quando eu voltar o senhor termina de contar a história. Comece de onde você parou”. É gratificante ver sua atenção estampada naqueles olhos enormes e pretinhos. É maravilhoso vê-lo bem próximo a mim, sentir o seu cheiro e ouvir sua respiração harmoniosa. Semana passada a proximidade foi tamanha que ele me falou: “Vovô estou escutando o seu coração bater”. Não há como represar lágrimas.

Ele é extrovertido, falante, negociador e divertido. Há dias, concedeu entrevista a uma jornalista. Seriedade de todos diante de suas respostas.   “O coronavírus é um bichinho do mal que a gente não consegue enxergar. Ele é malvado porque não deixa a gente sair de casa e, se sair. tem que usar máscara. Por causa dele, a minha escolinha está fechada e sinto saudades dos coleguinhas. Estão fazendo uma vacina para acabar com ele. Não vai demorar. Bem feito!” Outras perguntas e respostas. Se você tivesse 1 milhão de reais, o que compraria? Yakut. O que sempre falo com você? Prá não fazer bagunça. O que quer ser quando crescer? Um papai. De onde vêm os bebês? Lá da casa deles. Com qual idade você se tornará adulto?  Com 5 anos. Se você fosse um super herói, qual poder você gostaria de ter? Velocidade. Se você tivesse que comer apenas uma coisa para o resto da sua vida, o que seria? Iogurte. Quanto custa uma casa? R$ 5,00. Por que devemos ser educados com as outras pessoas? Tem que ser gentil. O que o amor significa para você? Meu amor. Do que você tem medo? Dos Monstros SA do mau. Qual a coisa mais importante para você? Bateria. O que te faz feliz? Mexer no computador.

Para mim, ele disse que quando crescer formará uma banda musical onde será o baterista, tecladista, baixista, guitarrista e cantor. Ele se apresentará na Inglaterra, onde farei parte da plateia me assentando na primeira fila, e cantará músicas dos Rolling Stones, Europe, Bon Jovi e Iron Maiden.

Bernardo é peralta e serelepe o dia todo. Só dorme se levar bronca. É um menino de muita energia. No tocante a brinquedo, ele curte carrinhos de corrida e coleciona figurinhas da série que mais ama assistir atualmente: Detetives do Prédio Azul. Ele é tão fascinado por ela que passou a se chamar  Pipo. Ele gosta de me fazer companhia nas meditações e na pratica da yoga. Como me concentrar com suas perguntas e chutes?

Sempre gostei de praticar e assistir futebol pela televisão. Eu tento passar essa adoração para ele, mas encontro resistência. O negócio dele é música que nos ensaios em casa às vezes ele me convoca para ser o baterista de sua banda ou guitarrista. Outro dia, ele convocou sua mãe para cantar. Mal ela abriu a boca e ele a mandou parar dizendo que ela canta muito mal. Como ele sabe que desde pequeno gosto da cor verde, sempre quando pega algo que contém essa cor, vem correndo me mostrar, abre um sorriso lindo e me diz: “Eu adoro verde, vovô”.

Eu almoço de marmitex. Ao som da buzina ele sabe que ela chegou bem como os nomes dos entregadores. Para um ele disse que a buzina da sua moto é muito alta e para o outro, que ele deve demorar a fazer suas entregas porque sua moto é pequena. Quando abro o marmitex ele corre para inspecioná-la.  Dependendo do que tem lá dentro, dividimos o conteúdo. Ele gosta de comer batata frita, macarrão, tomate e almôndegas. Na compra mensal, temos a mania de dialogar sobre o que vai se comprar. Atento a tudo, ele é sempre o primeiro a pedir que compre Gatorade de limão e morango com “maracujá”. Quando as compras chegam do supermercado ele corre para inspecionar e dá gritos de alegria quando enxerga os Gatorades solicitados. É uma festa. Ele adora comer pão de queijo, mas tem que ser da padaria Aurora, bem como, coxinha e empada, da padaria La Guardia. Refinado ou esnobe? Ao me ver comendo ele trunca a cara, chama minha atenção por comer muito e estar barrigudo. Atualmente, sua grande paixão são os garis. Ele sabe a hora que eles passam e vai para a janela para esperá-los passar para lhes enviar beijos, adeus e chamá-los de amigos. Em troca, ele recebe, abraços, tchau e o apelido carinhoso de amiguinho. Ele quase chega a chorar de tanta emoção. Bernardo é fascinante e a cada dia a gente descobre nele um novo talento.   Contratamos um bombeiro hidráulico para fazer um serviço em nossa casa. Assim que ele viu o sem máscara, chamou sua atenção e o pediu que a usasse.

Esse é o Bernardo Santana Ferreira ou Bê Santafé, que amo de paixão e sempre peço a Deus que me dê mais alguns anos de vida para vê-lo crescer e se desenvolver. Meu ser se enche de júbilo ao ouvi-lo dizer: “Vovô, amo você!”. Haja emoção! Haja coração!

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