Pauta em prosa, verso em trova (volume 23)

Por JGHeleno*

 

 

“Dentro de um taquaruçu

Veio de Itapemirim

Notícia para Iguaçu

De como o infinito açu

Passa a infinito mirim”. (EPIGRAMA  de José Joaquim Correia de Almeida)

 

ALMEIDA, José Joaquim Correia de. Rio de Janeiro: “Sátiras, epigramas e outras poesias”. Editora Casa de Eduardo e Henrique Laemmert, 1872, p. 105).

Essa estrofe acima, do Padre Mestre Correia de Almeida fala do “infinito” de forma satírica. Usa sufixos de origem tupi (açu e mirim) para dizer de um infinito grande e de um infinito pequeno. É uma clara ironia, uma gozação. Infinito é infinito. Em princípio, não há variação de tamanho para o infinito. O poeta faz isso de propósito. O poeta Correia de Almeida é mais conhecido justamente por esse tipo de poesia. De certa maneira, ele está tomando o infinito como se fosse uma coisa material, mas fingindo. Não é na mesma linha do Plínio, porque Plínio descreve o rio São Francisco conforme suas características de objeto, sem fingimento. Não repare: o poeta português Fernando Pessoa diz que todo poeta é um fingidor.

Mas há outras maneiras de falar do infinito. Sugiro que pegue seu computador ou celular e procure a canção Infinito Particular, cantada por Marisa Monte. O infinito lá tem outro sentido. Na próxima semana, vamos comentar a letra dessa canção.

José Joaquim Correia de Almeida (4/9/1820-6/4/1905), o mais conhecido poeta barbacenense, teve toda sua vida ligada especialmente a Barbacena, onde ele nasceu. Mesmo assim, frequentou muito as cidades de São João del Rei,  Juiz de Fora, Mariana, Ouro Preto, Caxambu e Rio de Janeiro. Foi amigo, entre outros vultos de sua época, de Belmiro Braga e Antônio Feliciano de Castilho. Correia de Almeida, que era padre e professor, deixou 21 livros publicados e uma monografia sobre o município de Barbacena. Ele é o patrono da cadeira número 1 da Academia Barbacenense de Letras, e da número 19 da Academia Mineira de Letras. O nome do distrito Correia de Almeida foi dado em homenagem a ele. Curiosamente, sua obra nunca foi reeditada. Ironia não faz amigos. Talvez isso explique.

 

Como aqui tudo termina em trova:

 

Nós queremos ver agora

bem  mais do que o restrito

lado que se vê de fora:

o de dentro, infinito.

 

*(JGHeleno, da Academia Barbacenense de Letras; da Academia Juizforana de Letras, da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora; da União Brasileira de Trovadores, da Associação Brasileira de Poetas Aldravianistas; da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos)

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