Estamos preparados para o vazio que a morte nos traz?

Valeska Magierek

A morte é a concretização do término de um ciclo. Tudo que nasce, um dia morre. Faz parte da natureza e da própria história.

Para algumas pessoas a morte se transforma num pesadelo difícil de acordar! Algumas conseguem entender que histórias têm começo-meio-fim e, apesar do vazio, se dispõem a reescrever novas histórias. E tem pessoas que ressignificam toda a dor e vazio e buscam melhorar a própria qualidade de vida e dos outros também.

E quando a morte inverte sua ordem? E quando morre uma criança? Quem nos disse haver uma ordem imutável quando falamos de vida e de morte? É uma invenção puramente humana o fato de que os pais e os mais velhos devem morrer antes dos filhos e das crianças. Em tempos da Medicina pouco ou nada desenvolvida, as crianças eram as principais vítimas. A maioria das pessoas sequer chegava à velhice. Hoje temos uma Medicina que nos favorece melhores condições de sobrevivência e vida longa. Mas os efeitos emocionais atrelados à morte infantil nos colocam frente a frente com nossa incapacidade de modificar aquilo que não nos cabe. Imaginar que uma criança não irá experimentar a vida a longo prazo nos apavora e entristece. Contudo, deixamos, ou não queremos pensar que talvez aquele tempo minúsculo aos nossos olhos, era o tempo suficiente para ela, se considerarmos a imortalidade da alma, independentemente das crenças de cada um.

É possível continuar a viver após a morte de uma pessoa muito amada?

Passamos por experiências diferentes porque precisamos aprender lições diferentes. ‘Perder’ uma pessoa que amamos, sobretudo aquelas com quem mantemos laços muito fortes, pode nos paralisar momentânea ou indefinidamente. Mas se eu conseguir vencer a dor e compreender que ciclos se fecham, mesmo eu não querendo ou não concordando, eu tenho a oportunidade de seguir em frente com qualidade, sem adoecimentos físicos e psíquicos. O corpo morre por causa da sua constituição. Mas muito além dele existem a alma, a sintonia, as histórias, o crescimento, as alegrias e os ensinamentos. Possível retomar a vida é. Mas preciso ter certeza de que é isso que eu realmente quero. Eu quero viver a vida e o tempo que me resta com qualidade resguardando dentro de mim aquela pessoa que se foi ou eu quero viver das recordações de um tempo e de uma pessoa que não volta mais? Eu quero ressignificar a minha vida e a de outras pessoas ou eu quero lamentar o resto da minha vida por algo sobre o qual eu não tenho nenhum controle?

Escolhas são feitas o tempo todo. Escolher aprender com a dor e com a finitude é uma das lições mais difíceis da vida. Mas há muito aprendizado possível neste contexto. Que escolhamos sempre amar em vida, viver o presente e ser um presente de fato para quem estimamos. De tudo o que vivemos, o que sobra são o amor que pudemos dar e as obras que conseguimos realizar.

Valeska Magierek – Neuropsicóloga – @amadesenvolvimento

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