Pauta em prosa, verso em trova (volume 87)

JGHeleno*

 

A crítica de hoje se volta para um texto extraído do romance Sete mentiras e uma verdade, do escritor Rodrigo Barbosa, lançado pela editora Patuá em 2023. O autor escreve um romance, que é também uma tese de doutorado. O suspense de um romance é alimentado desde o início do livro. Espetacularmente, isso não impede que todo conhecimento acadêmico, que ele pretende apresentar, seja apresentado de maneira magistral.

Dia 18 de abril de 2024 às 19:30, vou apresentar esse livro em uma das aulas do curso “Escritores de Juiz de Fora” pela Academia Juiz-forana de Letras. A gravação ficará disponível no Youtube. Abaixo transcrevo um pequeno trecho do livro.

“A Jaiane caberia a tarefa de acabar com o fato. Sim, pois, travestido de notícia, o fato morre, torna-se outra coisa. A cena narrada não será a cena, mas a narração da cena. Entre o que acontece no terreno da granja 11C  nesta noite chuvosa de quinta-feira, debaixo da grande pedra negra, e o que vai chegar ao sujeito que vai visitar o site Leitura Mais, um batalhão de metáforas vai se instalar. O estímulo nervoso que transforma em imagem o que os olhos de Jaiane miram: primeira metáfora. A imagem remodelada em som para ser descrita: segunda metáfora. O som organizado em palavras e estas ordenadas em texto: terceira metáfora. O texto editado, colocado na tela do site, acompanhado da foto de Luciana… quarta, quinta, sexta metáfora… E, finalmente, o texto reescrito pela experiência e pela performance daquele sujeito acessante, o leitor: mais metáforas. Jaiane discutira as verdades e mentiras de Nietzsche com o professor de filosofia, mas não se lembrava daquilo no momento. Ela precisava saber mais do que se apresentava a seus olhos de espectadora. Precisava apurar. Para matar de vez sua excelência, o fato.” (BARBOSA, Rodrigo. Sete mentiras e uma verdade. São Paulo: Patuá, 2023, p. 38)

Boa parte do conteúdo do romance do Rodrigo se desenrola em meio a tarefas jornalísticas. Essas matérias se fundam principalmente em relatos de testemunhas, e também na própria interpretação da personagem redatora delas. Qualquer matéria jornalística está sempre condicionada à necessidade de motivar os potenciais leitores, ao espaço disponibilizado pelo meio de divulgação. Se for uma mídia impressa, ou mídia digital, isso influi na maneira de apresentar e até na extensão dos conteúdos.  Dito isso, caio no mais  importante. Cada testemunha que relata, relata aquilo que é bem vindo e interessante para seu próprio universo de sentidos. Aí os fatos penetram na forma de ideias; e essas ideias dialogam com outras ideias que fazem parte previamente de seu universo interior, antes de serem expressas em palavras. Depois que todos os relatos são ouvidos pela jornalista, cada fato na visão de cada depoente se submete ao mesmo processo no universo da jornalista, para no final ser publicado como notícia. A esse processo, o narrador chama de metáfora. Uma vez feita a notícia, o que existe é a notícia e não o fato. Por isso diz-se que ali o fato morreu.

Como aqui tudo acaba em trova:

 

 

 

Jornalista é quem dá cores

ao fato, que, em si, é branco;

cabe enfeitá-lo de flores

ao jornal, comércio franco. (JGHeleno, 10/04/2024)

 

*ABL, AJL, LEIAJF, UBT

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