A vida é um sopro

A crônica de Francisco Santana

Há certas palavras e frases que aparecem no cenário nacional e desaparecem rapidamente. Isso se chama modismo. Nos movimentos políticos, era comum ouvir os manifestantes dizerem: “Um país mudo não muda”, ”Vem prá luta!”, “Derrubar a corrupção é elevar a educação!”. Na virtualidade, duas se destacaram: “Irmão sol, irmã lua” e mais recentemente, a morte do ator Domingos Montagner fez surgir a frase: “A vida é um sopro”. O que isso quer dizer?  O clímax da obra criadora de Deus foi a Sua criação extraordinária do homem. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o homem tornou-se alma vivente” (Gênesis 2:7). O Supremo Criador do céu e da terra fez duas coisas ao criar o homem. Primeiro, formou-o do pó da terra e, segundo, assoprou o Seu próprio fôlego nas narinas de Adão. Isso distingue o homem de todas as outras criaturas de Deus.

Com um suave sopro ganhamos a vida que se habita num corpo. Essa vida nos trouxe livre arbítrio para crescermos física e espiritualmente. A vida é tão rara! Devemos aproveitá-la para fazermos obras meritórias e nos tornarmos seres felizes amando e perdoando mais. Rechaçar os vícios como o ódio, ciúme, egoísmo e exaltar as virtudes. Não dar importância a determinados assuntos banais que só tendem a nos prejudicar nos contatos com nossos semelhantes. Viver o presente e lembrarmos que o que passou, passou e que o amanhã pode não existir. A única certeza que temos na vida é a morte. Ela chega e nos leva. Então, vamos crescer sempre procurando nos melhorar como pessoas. Vamos construir pontes e não muros porque a vida é um sopro.

Se a vida é um sopro e a morte é inevitável que possamos declinar o nosso amor aos nossos familiares e amigos. Há muitas palavras sinceras enclausuradas em nossas gargantas, prontas para serem pronunciadas e que não são liberadas por timidez ou medo de ser mal interpretados. Se for para edificar e melhorar uma relação, não há motivos para cativá-las no coração. Ambas as partes ficam felizes e um horizonte iluminado pelo amor e compreensão se abre clareando corpos e mentes. É o nascimento da razão e do coração.

O comportamento social e o medo, às vezes nos colocam em situações vexatórias ao discursarmos. Sinceridade sempre, mesmo que sofra algum revés. Há tempos resolvi colocar em prática algumas declarações. Comecei dizendo aos meus pais e minha irmã, em seus leitos de morte, que os amava e que aprendi muito com eles, dignos mestres. Lágrimas rolaram, fiquei leve quase flutuando. Resolvi então, fazer o mesmo expediente com amigos e amigas. Comecei com o amigo Etevaldo.  Pessoa boníssima, jovem, casado, três filhos, esposo apaixonado, pai carinhoso e presente, excelente salário, feliz, altruísta, um ser voltado para o bem. Eu precisava lhe dizer o quanto o admirava e que pedia a Deus que lhe proporcionasse felicidades plenas. Assim aconteceu. Eu o chamei e comecei a lhe dizer que o admirava e o porquê dessa confissão. Em segundos ele me interrompeu e disse: “Santana, conheço esse tipo de papo, já estou calejado, se o que quer é dinheiro emprestado, já vou dizendo que não tenho porque moro de aluguel e estou gastando todo o meu dinheiro na construção de minha casa”. Deixei-o falar tudo e prossegui o meu discurso. Ele ficou totalmente sem graça, sorriu e me abraçou.

Manuela é uma amiga de longa data. Casada, mãe de três filhos, marido aposentado, fumante inveterado, alcoólatra e excessivamente ciumento. Em crises, fica insuportável e agride verbalmente a esposa, perto dos filhos. No outro dia, ao ser cobrado, nega tudo, chora, pede perdão e na outra semana, faz tudo novamente. Manuela exerce os papeis de pai e mãe diante da ineficácia do pai. É uma pessoa iluminada, um ser especial. Com todos os problemas caseiros sempre encontra tempo para praticar a fraternidade ao cuidar e dar carinho às crianças e velhinhos.  Manuela comanda um grupo denominado “Solidariedade” que pratica o altruísmo. Um exemplo a ser seguido. Fui elogiar suas atitudes, dizer que seu trabalho é digno aos olhos de Deus e que a admiro muito por isso. Ela me disse: “Santana, eu sou casada e você é casado. Você fala muito bonito e fico comovida e emocionada com suas palavras. Só espero que os elogios a mim não tenham a conotação de assédio”. Suas palavras soaram como um tapa no meu rosto. Depois do entendimento da minha intenção, ela concordou e se desculpou seguindo seu caminho solidário.

Com o amigo Ariosvaldo, 75 anos foi tranquilo. Ele presta serviços comunitários há décadas doando carinho, amor, fraternidade e dezenas de cestas básicas a comunidades carentes. Esposa, filhos e colaboradores o ajudam nessa empreitada fraterna. Ao me declarar, percebi emoções e lágrimas. Ele me disse que seu objetivo maior é levar alegria, amor e alimentos a essas pessoas para diminuir seus sofrimentos. Que se cada um colaborasse um pouco, talvez diminuíssemos a desigualdade social no país; que faz o que gosta e hoje, ao ouvir minhas palavras, pela primeira vez sentiu a elevação do seu ego.

Expresse com clareza tudo aquilo que sente no coração. O momento é agora. “O segredo da saúde da mente e do corpo está em não lamentar o passado, em não se afligir com o futuro e em não antecipar preocupações, mas está no viver sabiamente e seriamente o presente momento”. (Sakyamuni). O médico Dráuzio Varella já dizia que “se não quiser adoecer, fale dos seus sentimentos”. O seu relacionamento com você define todos os relacionamentos que você tem com os outros.

(Fonte: site Got Questions: o que é o sopro da vida? Internet).

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