No mês de agosto, a professora Débora Ireno Dias, docente da rede municipal de Barbacena, apresentou sua dissertação de mestrado, no curso de Mestrado em Educação e Formação Humana da Faculdade de Educação da UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais.
O objetivo principal foi pesquisar junto aos professores do Ensino Fundamental II da citada rede de ensino, sobre o apoio e suporte que tiveram no tempo de trabalho remoto e, principalmente, no retorno à sala de aula presencial, dentro do período pandêmico. A pesquisa se justificou pelo fato de, em 2021, a professora Débora realizou um estudo na especialização em Qualidade de Vida nas Organizações (IF-Sudeste MG), sobre a qualidade de vida dos professores durante o ensino remoto emergencial (ERE), sendo uma revisão de literatura abrangendo pesquisas e artigos, que ainda consistia em material escasso entre 2020 e 2021.
“Ao retornamos ao presencial, em meados de setembro de 2021 e, retornando com 100% de presença nas escolas em 2022, comecei a perceber como nós professores estávamos após aquele período de ERE. Comecei a questionar sobre o que a gestão educacional estava fazendo para nos apoiar em nosso trabalho, sendo que estávamos num novo contexto educacional, vivendo as consequências do tempo de distanciamento e senti a necessidade de traçar os dados que eu tinha do meu TCC com a realidade que estava vivendo”, relata a professora, indicando o que motivou sua pesquisa para o mestrado.
Ao ser aprovada no Mestrado em Educação e Formação Humana da UEMG, a professora elaborou a pesquisa junto à sua orientadora, Profª Drª Juliana Branco. Foram 2 anos de estudos sobre o trabalho docente durante e após o ERE, traçando os dados que as pesquisas realizadas no âmbito da educação pública apontavam com os dados apontados pela própria pesquisa junto aos professores da rede municipal. “Um dado importante que trago é que, por eu estar docente na educação pública e fazer mestrado numa instituição pública, eu busquei dados em artigos que também tratavam de professores da educação pública, pois acredito que educação pública se faz com dados capitaneados dentro dela, por pesquisadores de instituições públicas”, diz Débora a falar da importância de se valorizar as pesquisas feitas na e para a educação pública.
Sobre a pesquisa de forma específica, a mesma foi feita via questionário com questões “fechadas e abertas”. Ainda, foram selecionados 4 professores para descreverem, via carta, suas percepções dentro do objetivo geral da pesquisa. “O objetivo das questões abertas e das cartas, foi dar oportunidade para os professores, meus pares, falarem, colocarem sua voz e sua percepção acerca do que vivenciaram nos tempos pandêmicos e a repercussão em sua qualidade de vida e no seu magistério, vozes que nem sempre estão sendo ouvidas pela gestão educacional”, relata Débora acerca da metodologia utilizada na pesquisa.
Traçando todos os dados, chegou-se à conclusão: “os docentes vivenciaram solidão em sua jornada de trabalho remoto e que, ao retornarem ao presencial, não tiveram o acolhimento necessário por parte da gestão educacional, algo que pudesse amenizar os impactos do ERE tanto no magistério quanto na sua percepção de qualidade de vida, relataram adoecimento não só mental, mas físico também e que o suporte ao trabalho foi apenas o tal ‘kit máscara e álcool gel’, não havendo ações efetivas, rodas de conversas que fosse, para escutar os docentes, apontaram também as pressões que sofriam por preencher relatórios e mais relatórios, não ficando espaço para o trabalho pedagógico, de organizar aulas, sendo que eles, os docentes, estavam sendo acusados socialmente como os principais responsáveis pela defasagem de aprendizagem dos alunos, relatavam a falta de profissionais para trabalhar esta defasagem, sendo que era algo ‘prometido’ pela gestão educacional e, por fim, relataram que não houve política pública de qualquer natureza para que o professor tivesse cuidado com sua saúde, não separando aqui em física e mental”, relata Débora ao falar dos dados da sua pesquisa.
“Por fim, os professores ouvidos falaram da falta de real valorização do seu trabalho, não somente com salários, mas com estrutura física para o trabalho, com demais profissionais que devem atuar junto a eles, tais como psicólogos, ações que serão efetivas não só no seu magistério, mas também na sua percepção de qualidade de vida”, conclui a mestre Débora, ao falar dos dados importantes que sua pesquisa traz e que podem, agora, embasar ações por parte da gestão educacional que abarquem as demandas apresentadas pelos docentes.