Nos últimos anos, a preocupação excessiva com a estética e a apresentação pessoal tem alcançado contornos preocupantes no que se refere à saúde mental das pessoas.
A dificuldade em aceitar o envelhecimento, a dificuldade em aceitar o próprio corpo, a necessidade da aprovação externa e a tentativa de camuflar quem se é de verdade são elementos frequentemente envolvidos nesta questão.
Sobretudo no Brasil temos uma variabilidade genética muito grande, decorrente da miscigenação do nosso povo.
E muitas pessoas escolhem padrões de beleza que não combinam ou não compactuam com sua apresentação real.
E o perigo está justamente aí: como eu, com a expressividade genética que tenho, posso me transformar num dado padrão que considero perfeito?!
Melhorar a aparência é algo possível, exerce papel positivo na autoestima e é comum dentro de todas as culturas.
Mas o que tem se apresentado como doentio é a mudança estética que leva ao não reconhecimento de si mesmo.
Os riscos das modificações do próprio corpo
Modificações estéticas podem ter duas finalidades: a de correção de alguma questão disfuncional ou que interfira na qualidade de vida da pessoa ou a de adequação ao que se considera bonito, perfeito e padrão.
E para algumas pessoas, a linha entre essas duas questões é muito tênue. E o perigo mora bem aí.
Se eu perco a noção de quem eu sou, de onde eu venho (do ponto de vista genético mesmo) e de que o tempo exerce seu poder sobre todos nós, sem distinção, caio fácil nas armadilhas estéticas.
Não há fórmulas mágicas e nem nenhuma outra que impeçam de envelhecermos; não há fórmulas e/ou procedimentos que façam aquilo que a genética e a natureza fazem a fim da nossa própria sobrevivência; nada existe para me transformar naquilo que eu imagino ser melhor, perfeito e mais bonito.
Neste sentido, pessoas insatisfeitas consigo mesmas têm procurado cada vez mais especialistas que realizem as tais transformações.
Atualmente temos uma infinidade de profissionais, médicos e não médicos, atuando nessa área, com os mais diversos resultados; alguns levando até mesmo à morte do paciente. E isto se configura crime.
Neste cenário precisamos nos atentar para algumas perguntas importantes:
– Por que eu quero modificar alguma coisa no meu corpo?
– É por necessidade ou é por vaidade?
– O padrão que eu considero perfeito me cabe?
– Por que o que eu quero mudar me incomoda tanto?
– Como eu realmente me vejo?
– A modificação externa fará com que eu me sinta bem internamente e me aceite de verdade?
Não podemos deixar de nos fazer essas perguntas.
Muitas vezes, a vontade de modificar ou mudar uma característica externa está muito mais relacionada à não aceitação de mim mesma do que à melhoria da qualidade de vida. E, sendo esta a questão, o tratamento não é estético; é psicológico e/ou psiquiátrico.
O desafio de “olhar para dentro”
Carl Gustav Jung que diz: ‘quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda’.
Nesta frase Jung nos leva a refletir sobre o fato do que eu realmente quero: quero viver a realidade de alguém? Desejo estar no lugar de alguém? Por que não estou satisfeita ou satisfeito com o que tenho e com o que eu sou? Por que a aparência tem tanta influência sobre mim? Por que tenho dificuldades em aceitar a minha realidade e de me aceitar do jeito que sou?
Ao contrário, se olho para mim mesma, para as minhas características físicas, posso vislumbrar uma história contada em detalhes ao longo do tempo. Minhas sardas, os vincos e rugas que marcam meu tempo neste planeta, os traços dos meus ancestrais, o efeito do que fiz de bom e também de ruim com meu corpo ao longo dos anos que vivi e etc.
Olhar para dentro de si traz descobertas necessárias que nos livram de armadilhas perigosas. Conhecer a si próprio nos livra de caminhos, por vezes, sem volta.
Insatisfações externas e internas
Continuo citando, agora, Simone de Beauvoir: ‘perder a confiança no seu corpo é perder a confiança em si mesmo’. Neste sentido, insatisfações desmedidas com o próprio corpo nos fazem pensar mais sobre uma insatisfação interna do que que qualquer outra coisa.
Existem pessoas que, ao se olharem para si, diante do espelho, já não sabem mais quem são, de tão diferentes ficaram após os excessos em busca de perfeição e beleza. Para aquelas que se assustam e percebem o quão longe foram, o caminho de volta a si mesmo pode ser menos doído.
Mente sã, corpo são
E, para finalizar a nossa conversa de hoje, citarei Elizabeth Gilbert: ‘Você precisa aprender a selecionar seus pensamentos da mesma maneira que seleciona as suas roupas todos os dias. Se você quer cuidar de você, trabalhe a mente’.
Ou seja, a insatisfação com a aparência pode estar relacionada a dificuldades na auto aceitação, na autoestima e no autoconhecimento. E para resolver essas questões, a Psicologia é uma forma eficaz de cuidado.
Enfim, diante o espelho, aceite-se! Valorize sua história, sua herança genética, suas conquistas e procure priorizar-se. Preocupe-se menos com a opinião dos outros e valorize mais o que te faz sentir-se bem.
Valeska Magierek – Neuropsicóloga
@amadesenvolvimento