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Ainda estou aqui

Francisco de Santana

 

“Rubens Paiva, no dia 20 de janeiro de 1971, foi preso em sua residência, na presença de sua esposa e filha. Às 11h numa chamada telefônica, uma pessoa lhe havia pedido o endereço, alegando desejar entregar-lhe uma correspondência que trazia do Chile.

Meia hora mais tarde, sua casa foi brutalmente invadida por seis pessoas em trajes civis, todas armadas, que não se identificaram e o levaram preso. Guiando seu próprio automóvel e acompanhado por dois policiais, Rubens foi  conduzido ao quartel da Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, onde funcionava o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna) do I Exército.

Sua casa ficou ocupada por quatro policiais. Seus familiares nem podiam usar o telefone. As visitas eram detidas e conduzidas presas ao quartel. Vasculharam toda a casa, nada encontrando. Apreenderam as agendas telefônicas.

No dia seguinte sua esposa Maria Eunice Paiva e sua filha Eliana, então com 15 anos de idade, foram presas, encapuzadas e conduzidas ao DOI-CODI-I Exército, onde foram fotografadas, identificadas e separadas. A filha foi liberada 24 horas depois, tendo sido interrogada por três vezes nesse período. A esposa ficou detida 12 dias, sempre incomunicável, prestando depoimento diversas vezes, inclusive à noite.

A acusação que pesava contra Rubens Paiva era simplesmente a de manter correspondência com brasileiros exilados no Chile.

Quando Maria Eunice foi liberada, os responsáveis pelo DOI-CODI-I Exército devolveram à família de Rubens seu carro, que se encontrava no pátio daquela dependência militar, passando-lhe recibo de entrega.

O fato foi submetido à apreciação do Superior Tribunal Militar, que pediu informações ao comandante  do I Exército. Apesar dos dados indiscutíveis que confirmavam a prisão em sua casa, guiando o seu próprio carro, tendo por companhia dois agentes de segurança, e a devolução do veículo mediante recibo, o I Exército respondeu que ele não se encontrava detido”.

Em diversas cartas ao presidente Emílio Garrastazu Médici e outras direcionadas a diferentes autoridades, Eunice exigiu a verdade sobre o paradeiro do marido. Os órgãos oficiais, quando forneciam alguma resposta, davam relatos diferentes: ou que ele havia sido sequestrado por desconhecidos ou que havia fugido para Cuba.

Fernanda Torres, venceu o Globo de Ouro 2025 como a melhor atriz em Drama participando do filme “Ainda estou aqui” . Ela competia contra Angelina Jolie, Nicole Kidman, Tilda Swinton, Kate Winslet e Pamela Anderson. A cerimônia aconteceu domingo, 05.01.25. No filme, Fernanda Torres interpretou Eunice Paiva, esposa do Deputado Federal Rubens Paiva. “Hoje conhecida como símbolo da luta contra a ditadura militar, Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em São Paulo em 1929. De família de origem italiana, estudou no Colégio Sion. Ávida leitora, foi amiga de grandes escritores, como Lygia Fagundes Telles, e passou em primeiro lugar na Universidade Mackenzie para o curso de Letras.

Eunice se formou em Direito depois da viuvez e se tornou uma das principais forças de pressão que culminou com a promulgação da Lei 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar. Ela se tornou símbolo das campanhas pela abertura de arquivos sobre vítimas do regime. Ela lutou ao lado de nomes como a estilista Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel, de Crimeia de Almeida, Inês Etienne Romeu, Cecília Coimbra, entre outras mulheres.

Foi apenas em 1996, após 25 anos de luta por verdade, que Eunice conseguiu que o Estado Brasileiro emitisse oficialmente o atestado de óbito de Rubens Paiva. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-CODI.

Eunice Paiva conviveu com Alzheimer por 14 anos e morreu em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo, aos 86 anos.

No seu discurso, Fernanda Torres assim falou sobre a sua personagem: “Isso é uma prova de que a arte dura na vida até durante momentos difíceis pelos quais a Eunice Paiva passou. Com tantos problemas hoje no mundo, tanto medo, esse é um filme que nos ajudou a pensar em como sobreviver em tempos como esse”.  

O filme “Ainda estou aqui” dirigido por Walter Salles é estrelado por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro que interpretaram Eunice Paiva em diferentes fases da vida, contou também com a participação de Selton Melo no papel de Rubens Paiva. O livro que o originou o filme possui o mesmo título e foi escrito por Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens e Eunice Paiva.

 

(Fontes: transcrição trechos do Livro Brasil Nunca Mais/Site É tudo história de Amanda Capuano e outros da Internet).

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