“Indiana João” em busca do tesouro perdido de Dom Sebastião

Jairo Attademo

BATALHA DE ALCÁCER QUIBIR – CORTESIA GET ARCHIVE

Há um tesouro escondido sei lá onde em Portugal.

Não é um tesouro qualquer, desses que os piratas escamoteavam em buracos, normalmente debaixo de uma árvore a sete passos a oeste da segunda pedra da oitava ilhota de algum arquipélago.

É difícil achar a fortuna, porque nenhum pergaminho roto, engarrafado ou não, foi encontrado até hoje dando indícios de sua localização.

Onde se esconde esse baú? Sim, todo tesouro desaparecido está num baú, não estraguem a minha infância, já basta não ter sido encontrada nenhuma garrafa.

É um tesouro que cativa a imaginação e mexe com o coração dos portugueses há tempos, desde que o Brasil era um mero rapazinho de setenta e oito anos, inocente, e não esse senhor de 523 anos cansado de maracutaia.

O monte de brasões, braceletes, colares, brincos e pepitas, tudo de ouro, e ainda a pilha de diamantes maiores que ovos de avestruz, moram dentro de uma lenda que pode ser a mais impressionante e misteriosa de Portugal: a lenda do Tesouro Perdido do Rei Dom Sebastião.

LIVRO O TESOURO DO REI SEBASTIÃO – TRADE STORIES

Dom Sebastião era um jovem rei do século XVI, solteiro, sem herdeiros, cuja vida é envolta num nevoeiro de mistérios. Aliás, literalmente, como veremos.

Segundo uns, Tião (começou a intimidade) era um monarca idealista e ambicioso, devotado à religião e ao desejo de expandir seu reinado.

Em 1578, Tatão e seus soldados partiram numa expedição militar até o calorento norte da África para conquistar o reinado do Marrocos.

Fazia sentido na cabeça de Bastião conquistar aquele país do outro lado do estreito de Gibraltar.

Afinal, o fundador de Portugal, Afonso Henriques, saíra de Guimarães séculos antes para “descer” país abaixo com os mouros, que acabaram ficando para lá do Algarve.

Claro que não faltaram conselhos ao jovem Tão: uns achavam a empreitada perigosa, outros dispendiosa, outros desnecessária, mas venceu o cordão dos puxa-saco que, como dizia o sábio Abelardo Barbosa, “cada vez aumentava mais”.  Lógico, Chacrinha nasceu um pouco depois disso.

Parênteses: sempre achei que o grande problema da Humanidade é o tal cordão.

Será que os líderes fariam tantas pataquadas se, perto deles, existissem pessoas de bom-senso dispostas a convencê-los a não pôr em prática algumas de suas alucinações? Pelas porcarias que vemos acontecer, parece que o séquito de bajuladores prevalece incólume.

Por bajuladores entendamos medrosos, covardes, incompetentes, ambiciosos e os meramente preguiçosos.

Pensem na soma dos seguintes fatores: lambe-botas, líderes vaidosos, poder absoluto e mistura de genes de familiares próximos. É a perfeita fórmula para desastres.

Fechando parênteses, voltemos à história do Tiãozinho (que nome bom para colocar apelido).

O TESOURO NÃO É ESSE

O que deveria ser uma campanha rápida e bem-sucedida no Marrocos acabou se transformando numa tragédia, pois as tropas marroquinas venceram as portuguesas na batalha de Alcácer-Quibir.

O rei-menino, insistente, não se deu por vencido e continuou lutando, mesmo depois de tudo acabado. Segundo contam, um denso nevoeiro (ou a poeira do Saara, vai saber) cobriu toda a área da batalha.

Há quem o tenha visto adentrando a névoa (ou a areia) para sumir em seguida. Há quem jurasse de pé junto que conseguiu vê-lo sendo levado pelos inimigos.

A verdade é que a notícia de sua morte – ou desaparecimento – abalou o país, mergulhando-o num período de incerteza e luto.

Assim, surgiram boatos de que o Rei continuava vivo, escondido ou servindo ao rei marroquino em palácio, enquanto aguardava o momento certo para voltar e recolocar Portugal na condição de quase dono do mundo.

Claro que uma boa história alimenta a esperança e a imaginação de um povo ansioso pelo seu retorno a um período glorioso.

INDIANA JOÃO – SE EXISTISSE

Como toda lenda, essa tomou proporções épicas ao longo dos séculos, já que recontada por gerações. Até nas escolas brasileiras se conta a história e a lenda de Dom Sebastião, que estaria vivo até hoje, preservado por algum tipo de fórmula oculta.

Daí para surgir a lenda do tesouro escondido foi um pulo.

Há os que advogam a tese de que ele levava um tesouro valioso, o que vem despertando a cobiça de aventureiros e caçadores de tesouros até hoje.

Contam que já houve muitas expedições de Indianas Joões ao longo dos séculos para desvendar os segredos da lenda do rei vivo e, principalmente, para encontrar a grande fortuna.

Até hoje, o mistério está insolúvel e o tesouro continua em lugar não sabido.

A lenda do Tesouro Perdido do Rei Dom Sebastião continua encantando e intrigando gerações de portugueses. Quem não ama histórias, ainda mais quando elas acontecem pertinho de onde a gente mora?

Essa lenda, como tantas, representa a esperança e a busca por algo maior. É um lembrete de que a fé e a determinação ajudam muito em momentos de dificuldade.

Assim, o Tesouro perdido do Rei Dom Sebastião permanece no imaginário popular como testemunho do passado glorioso e da perseverança da gente portuguesa. A lenda alimenta a imaginação e o espírito aventureiro das crianças e jovens que a ouvem.

É uma inspiração, pois depois de tanta treva, guerra e tirania, Portugal emerge como um país moderno, seguro, culto, produtor de vinhos maravilhosos, com excelente diplomacia, bem urbanizado, detentor de patentes, com educação e saúde públicas de qualidade, mas lutando democraticamente contra seus problemas, já que ninguém é perfeito.

Eu acho, só acho, que o maior tesouro a ser buscado é o Elixir da Juventude que teria preservado o rei vivo até hoje.

Ou o elixir se chama esperança?

 

Jairo Attademo é de Barbacena e vive em Portugal, onde tem buscado aprender a história do país e suas lendas. Depois de ajudar a fundar a FM Sucesso, Jairo permaneceu por mais de 35 anos na indústria farmacêutica, onde treinou mais de mil profissionais de vendas, marketing e gestão de clientes. Hoje colabora com o Contato Direto, tem um programa de música portuguesa às sextas e sábados na Sucesso e é correspondente da TV Diversa.

⚠️ A reprodução de conteúdo produzido pelo Portal Barbacena Online é vedada a outros veículos de comunicação sem a expressa autorização. 

Comunique ao Portal Barbacena Online equívocos de redação, de informação ou técnicos encontrados nesta página clicando no botão abaixo:

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Aceitar Saiba Mais