Encher-se do vazio

O andar mostra-se elegante, roupas elegantes. Um jeito educado de falar, de cumprimentar. Rotina tranqüila, na medida do possível: academia, alimentação, trabalho, lazer, viagens, amigos, família. Redes sociais sempre em ebulição, onde pode ser o que se quer, pode discutir, postar opiniões e receber “likes”. Vida boa, agitada, feliz. Preenchida! Mas no apagar das luzes…

…descobre-se o rosto, o corpo, a alma. Tira-se a maquiagem (ou a máscara) do dia, tira-se a vestimenta. Aparece um rosto marcado de linhas expressivas: tristeza, medo, raiva, abatimento. Aparece um corpo que carrega marcas de uma vida surrada pelos excessos ou pela escassez, um conflito entre o que sobrou e o que faltou de sentimentos, de ações, de verdades e mentiras vividas. A alma parece não estar mais ali, o que sustenta a vida é apenas um sopro. Um olhar, encoberto pelos óculos, já não enxerga o horizonte, nem o norte nem à frente. Já não enxerga a existência.

O que se viveu até aqui foi um encher-se de vazios. Preencheu-se a vida de festas, amores, cores, experiências, fotos, “likes”, consumismo. Preencheu-se a vida de cifras, depois gastas com coisas até necessárias, boas, mas não perpetuadas. Preencheu-se de tudo…e de nada. Algo faltou, algo falhou.

Fico a pensar naqueles que assim vivem, assim se sentem. Se não sou eu mesma. Se não é você. E me vem um pensamento: encher-se de vida. Da vida vivida a cada dia, do sorriso solto, da respiração profunda, da partilha do sentimento e do pão, da festa celebrada com quem se ama, das mãos dadas se entrelaçando em amor e doação.  Encher-se de vida, preenchendo-se de Deus, na oração sincera, no coração irmanado com quem sorri e com quem chora, deixando-se conduzir pelo Seu Espírito a cada dia, a cada hora. Encher-se, preenchendo seus vazios com o que é eternizado…

NOTA DA REDAÇÃO – Débora Ireno Dias é Educadora Física, docente na rede municipal de ensino. Desportista.