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Um grama de ação vale uma tonelada de teoria (Friedrich Engels)

Francisco de Santana

 

O futebol de campo sempre foi o meu esporte predileto, talvez este gosto tenha surgido assistindo meu irmão, Santana, jogar muito bem e as imarcáveis tabelinhas do Pelé e Coutinho, jogando pelo Santos Futebol Clube. De tamanha perfeição eles pareciam se entender pelo olhar ou pensamento. Sou do tempo dos dribles desconcertantes do Garrincha que provocavam delírio da torcida e ira dos seus marcadores. Era sensacional ver os passes longos e milimétricos do Gérson, parecia que ele possuía uma trena nos pés pela precisão das jogadas. O que dizer de Tostão e Dirceu Lopes? Inteligência, velocidade, arremate certeiro e um fôlego que parecia não ter fim. Eu me encantei vendo Rivelino, Reinaldo do Atlético Mineiro, Zico, Romário, Ronaldinho gaúcho e Ronaldo fenômeno. Eu gostava de ver os chutes fortes do Pepe, Eder Aleixo, Nelinho e das batidas de faltas cobradas com perfeição pelo Zico, Didi, Pelé, Zenon dentre muitos outros.

 

O futebol passou por muitas modificações em todos os sentidos. A principal delas foi o aparecimento de táticas milagrosas. A mais conhecida é a defensiva. Há quem diga que o melhor ataque é a defesa. Eu prefiro dizer que a tática defensiva dá uma sobrevida aos treinadores porque são bem pagos e não perdem seus empregos. Quando menos perder um jogo, melhor para o treinador. Conheci jogadores apaixonados pelos seus times, pelo amor à camisa, jogadores inteligentes, clássicos onde os craques exibiam dentro de campo um futebol alegre, sem violências, vistoso, gostoso de assistir, onde a até a torcida adversária aplaudia jogadas. Adversários sim, rivais nunca! É tão falso ver jogadores beijando os escudos das camisas que vestem. Será que sobram beijos para as esposas e filhos?

 

Temos hoje um cenário da valorização do preparo físico. Jogadores medíocres são vendidos a peso de ouro porque são bem preparados fisicamente e obedecem as táticas preparadas pelos seus treinadores. Creio que não verei no Brasil mudanças radicais no desenvolvimento dos times de futebol. Vou continuar vendo jogos pobres tecnicamente e times com um ou dois jogadores acima da média do jogar bem. Mesmo com todos esses percalços ele nos comove, apaixona e nos envolve a continuar torcendo mesmo estando nosso time de coração, numa péssima fase técnica. Para o torcedor apaixonado o próximo jogo sempre será a reabilitação do seu time.   

 

Atualmente o jogador de futebol é glamuroso e a mídia fala, mostra e escreve mais sobre o extra campo do que suas atuações profissionais; falam mais dos extravagantes cortes de cabelo; altos salários; com quem tal jogador está se relacionando amorosamente; quantos carros luxuosos possuem ou mesmo quantos helicópteros também possuem, sem falar dos imóveis. Se não tiverem uma boa cabeça ou administração, eles se arruinarão rapidamente. Todos nós somos seus censores ou críticos, lá no fundo do  nosso âmago, parecemos sentir inveja ou ciúmes de suas aventuras e dos seus bens.  

 

Eu tentei entrar para este seleto mundo futebolístico, mas em casa eu tinha uma ferrenha adversária: minha mãe. Ela era avessa à essa profissão. Aos 15 anos recebi um convite para treinar no América de Barbacena pelo seu massagista senhor Zé Rosa que me viu participar de um torneio colegial e disse que eu levava jeito para o futebol. Aceitei o convite para um treino. Na terça-feira lá estava eu me apresentando para uma avaliação. Coincidentemente neste mesmo dia estava chegando um novo treinador que era um policial militar. Fomos para o centro do gramado para ouvirmos a sua primeira preleção.  

 

Ele se portou como um veterano da arte futebolística. Comparou o futebol ao militarismo (lógico). “O sucesso do time depende da nossa união dentro e fora do campo; futebol é conjunto e nada de individualismo. Não sou contra o individualismo que depende muito do momento do jogo e da habilidade do jogador. Vamos respeitar a hierarquia, os horários dos treinamentos; se quisermos almejar o sucesso, devemos evitar vícios como o álcool, o cigarro e outras drogas. Devemos ter uma boa noite de sono, evitar os excessos e principalmente, devemos seguir as orientações do treinador”, arrematou ele. “Eu sou um estrategista, conheço muitas táticas de jogo e iremos colocá-las em prática, dependendo de cada adversário”. E prosseguiu: “Gosto muito de estudar o time adversário; procuro estudar seus jogadores e principalmente a tática colocada em  jogo. Espero contar com a colaboração de todos. Se vocês me ajudarem, eu garanto que vocês poderão contar com o meu irrestrito apoio”. Distribuiu as camisas separou os times e prosseguiu: “O meu time vai atacar e defender em bloco. Não quero ninguém parado, quero todos se movimentando. Lembrem-se que a vida é movimento. Vou utilizar a tática do CARROSSEL. Calma! Vou explicar! Na frente do goleiro eu quero quatro zagueiros; pelo meio, à frente deles vou utilizar mais três e na frente, lá no ataque quero mais quatro se movimentando sem parar, sendo que um jogando pela direita, outro pela esquerda e os outros dois infiltrados na área adversária. Entenderam? Alguma dúvida?” Lá no fundinho um jogador humildemente levantou o dedo pedindo a palavra.

 

  • Pela ordem, Professor!
  • Professor, não! Sargento!
  • Desculpe-me, Sargento. Num time de futebol jogam onze ou doze jogadores?
  • É claro que jogam onze jogadores! Isso é primário e óbvio ululante, como dizia Nelson Rodrigues.
  • Desculpe-me, mas a sua escalação nessa tal tática do CARROSSEL, nosso time vai jogar com doze, o que não é permitido. Analise comigo: goleiro, quatro zagueiros, três volantes e quatro atacantes! 1+4+3+4=12.

 

Todos riram. Notamos uma grande decepção em seu semblante. No outro treino ele não compareceu alegando afazeres profissionais. O professor ou sargento pediu demissão do cargo que ocupou por apenas um treino. Neste treino eu fui testado em menos de dez minutos quando, quase não se via a bola pela chegada da  noite. No segundo teste, nem convocado eu fui para treinar e me dei por encerrada a minha curta carreira como pretenso jogador de futebol.

Destaques do dia

56ª Expô: E o sábado foi assim

No sábado (17), pela manhã tivemos o encerramento dos minicursos promovidos pela Liga do trabalho, com o professor Daniel no tema PANCS Plantas Não convencionais.