Publicidade Local

Não é um animal, é um ser humano

Francisco de Santana

 

Nós nos acostumamos a ver gatos e cachorros revirarem lixos à procura de comida para saciar suas fomes. Pasmem! Deparei-me semana passada com uma cena dantesca desta vez com um homem, um senhor fazendo o mesmo num lixão de uma padaria no centro de Barbacena. Ele aparentava ter menos de 50 anos, magro, estatura mediana, trajava um terno verde e não aparentava ser um pedinte, mendigo ou um morador de rua, muito pelo contrário.  A sua postura chamou a minha atenção.

Diante da lixeira ele olhava discretamente para o lado direito, esquerdo e para a movimentação da rua. Despistadamente olhava para o interior da lixeira e imediatamente voltava o olhar para a movimentação ao redor da padaria. Ele descobria o plástico que envolvia o recipiente e voltava ao normal. Esta cena se repetiu várias vezes. Eu, no interior do carro da minha esposa observava tudo, detalhe por detalhe.

Quando se sentiu seguro sem os olhares indiscretos ele retirou algo da lixeira, a passou na blusa como se a quisesse limpar, a levou à boca e comeu ou melhor devorou em segundos. Nitidamente deu para ver que se tratava de um pedaço de pizza. Ele comia rapidamente na mesma proporção que observava tudo que se passava ao seu redor.

A cena se repetiu com outros alimentos. Um fato estranho aconteceu, ao enfiar a mão na lixeira ele levou um grande susto, tirou a mão rapidamente, a examinou e a colocou na boca. Tive a nítida impressão que ele cortara o dedo e tentou estancar o sangue chupando-o. O que se segue foi interessante. Do interior do seu terno verde ele retirou uma sacola tipo ecológica de tamanho médio. Sempre alerta voltou sua atenção para a lixeira.

De lá ele retirava algo e colocava dentro da sacola. Isso levou alguns minutos, pois a operação era meticulosa, estratégica e silenciosa para não ser descoberto fazendo o que para ele poderia ser uma vergonha, um pecado, um ato insano ou até mesmo um roubo. Uma senhora saiu da padaria e o viu retirando restos de alimentos da lixeira. Eles conversaram por alguns minutos. Vi quando ela abriu a lixeira, pegou algo e colocou dentro da bolsa do nosso personagem. Eles sorriram e ela foi embora.

Ele abriu a bolsa e percebeu que cabia mais um pouco e a cata continuou. Minha esposa que estava no interior da padaria retornou ao carro e fomos embora para casa. Ela dirigindo e eu pensativo.

A desigualdade social em nosso país chega a ser repugnante. “Ela é um problema que ocorre quando algumas pessoas têm acesso a mais recursos e oportunidades do que outras. Isso pode acontecer por várias razões, como renda, educação, localização geográfica ou preconceito. A desigualdade social é prejudicial para a sociedade, pois pode levar a conflitos, pobreza, exclusão social e falta de mobilidade social. As pessoas mais afetadas são aquelas que têm menos renda, menos acesso a serviços públicos, menos educação e menos oportunidades de emprego. Essas pessoas podem enfrentar muitos obstáculos para melhorar suas vidas e alcançar seus objetivos. Existem muitas maneiras de abordar a desigualdade social, incluindo políticas públicas para garantir igualdade de oportunidades, campanhas de conscientização e ações individuais para ajudar aqueles que estão em desvantagem”.

Comprovo que a lixeira estava bem fechada, situada num local de difícil acesso para os animas, não difícil para os humanos. O nosso protagonista correu um grande risco ao revirar o lixo na busca de comida pelas inúmeras bactérias, algo estragado, que leva a alguma intoxicação alimentar e também ao cortar o dedo ao levá-lo à boca, ele também correu o risco de levar ao seu organismo outras doenças.

Durante o trajeto da  padaria até nossa casa encontramos com o caminhão coletor de lixos. Pensei no protagonista da crônica. Fim de sua coleta. E a desigualdade social persiste em nosso querido Brasil onde tudo que se planta  colhe. Por isso vivemos nesse caos social. Há séculos plantamos desigualdades sociais e as colhemos até hoje. É sempre bom nos lembrar da frase ”Fora da caridade não há salvação” do Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec que é um dos pilares fundamentais do Espiritismo.

 

(Fontes: Sites “Quero Bolsa” e “Como o lixo afeta os animais de rua? – Serviço Autônomo de Água e Esgoto).

Destaques do dia

Os mistérios do amanhã

Sirlene Cristina Aliane   Quando vejo uma Árvore sem as folhas, Árvore sem os frutos, Pensar na primavera Me enche de esperança, Novamente renascem, A