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Natal era Assim….

Marina Lúcia de Cerqueira Marinho Oliveira

 

Em um passado distante, aqui no Brasil, as comemorações do Natal eram bem diferentes dos tempos atuais.

No mês de dezembro, tanto nos centros urbanos como no meio rural, as famílias se preparavam para o Dia de Natal com muitos afazeres.

As costureiras e alfaiates trabalhavam intensamente para atender aos pedidos, pois as confecções eram restritas aos centros urbanos maiores. Padarias se limitavam à produção de pães e roscas secas, com raríssimas exceções.

A missa do galo era o ponto alto das celebrações natalinas. Acontecia à meia noite na passagem do dia vinte e quatro para o dia vinte e cinco de dezembro. A grande maioria da população participava com entusiasmo e fé, independente de classe social.

As famílias mais abastadas preparavam ceias para, após a Celebração Eucarística, reunir a família em torno de uma grande e farta mesa. Era um encontro regado à vinho, licores, leitoa assada…, guloseimas; muito riso e dança ao som de música ao vivo.  Geralmente os membros da família eram protagonistas no violino, piano, violoncelo, sanfona, violão, viola…; tudo era de acordo com os dotes pessoais. A troca de presentes e cantoria animava o evento natalino. Todos rezavam diante do presépio em reverência ao Menino Jesus, nas Igrejas e nos lares.

Os menos favorecidos economicamente, em sua maioria, prestavam serviços aos nobres.  Aqueles saíam de suas casas longínquas, predominantemente à pé, em direção à Igreja para a missa do galo, pois os cavalos e demais meios de transporte da época eram destinados aos patrões e seus familiares. Carros praticamente inexistiam até porque estradas de automóveis eram raras, pouquíssimos privilegiados tinham acesso a esse transporte tão comum em nossos dias.

Os caminhantes iam um atrás do outro pelos trilhos que ataiavam o percurso em relação aos que iam à cavalo, em charrete, em carroça pelas estradas de “carros de boi” – alguns nobres usavam esse transporte também. Nas noites escuras acendiam uma tocha que era feita de bambu com um nó ao fundo, retirava-se o nó superior, onde se colocava a querosene, combustível que garantia a iluminação, tendo uma bucha de pano que funcionava como pavio, sendo molhada pela querosene, quando a lavareda diminuía tombava-se para molhar o pavio. A fumaça e a luz eram de grande alcance. Pelos estreitos trilhos caminhavam animados, batendo prosa até chegarem próximo à vila, arraial ou cidadezinha; onde haveria a missa do galo. Parados, tomavam água, pois comidas sólidas não podiam ingerir – o jejum de sólidos era de três horas, líquidos até uma hora antes. Para felicidade geral “água pura” não quebrava nem quebra jejum antes da Sagrada Comunhão Eucarística. Os pés descalços eram passados no orvalho das gramas e limpos com um trapo úmido que traziam nos embornais.  Os poucos que vinham com alparcatas, às vezes feitas de pedaços de pneus e couro, as escondiam em moitas, próximos a cupins para não perdê-las ao retornarem para a casa, pós missa.

Os que tinham consciência de pecados graves confessavam antes da missa, enfrentando longas filas.

Durante a celebração da Missa de Natal ou do Galo havia muitos cânticos ao som de Harmônio e coral bem ensaiado. A homilia era longa e sem microfone, os padres expressavam com alta entonação a mensagem de Cristo em púlpitos elevados.

Ao final acontecia o beijo ao Menino Jesus, que era levado do Presépio até a frente central do altar. Nessa fila, geralmente além de cantarem “Noite Feliz” e outros cânticos propícios havia troca de olhares, pois a maioria estreava roupas novas, confeccionadas especialmente para esse dia. Os trajes femininos expressavam o respeito para com o templo divino e local sagrado, sem exposição corporal. Os homens iam de ternos completos, inclusive gravata. Os que não tinham terno iam de camisa de manga comprida e paletó de brim. Todas as vestes eram passadas com ferro à brasa.

Na residência dos pobres, a felicidade após a missa era saborear um franguinho ou tirar uma carne de porco da lata, onde estava guardada há tempos para a data tão especial. As crianças abriam os presentes doados pelos avós, tios e padrinhos… Não escolhiam, ficavam felizes com o que ganhavam e acreditavam que Papai Noel colocou os presentes em seus sapatinhos que ficavam atrás da porta, e que Papai Noel veio pela chaminé. Não havia fogão à gás naquele contexto, todas as casas tinham fogão à lenha e chaminé, consequentemente.

Essas são algumas das muitas lembranças de infância que carrego até hoje.

Ontem, hoje e sempre; o protagonista do Natal, Jesus Menino, veio e vem para redimir os nossos pecados, semear a harmonia, a alegria e a união; visíveis pela generosidade e união fraterna que são praticadas nesse período natalino. São amenizadas e até apagadas dores, desavenças, discórdias… O Natal promove a esperança, o perdão, a aliança entre os corações humanos, embora muitas crianças e adultos estejam distantes da alegria natalina: as vítimas das guerras, da fome, da violência, dos abusos, enfim das injustiças praticadas por nós. Sim, nós que somos hipócritas, omissos, covardes… diante do sofrimento de nossos irmãos e irmãs.

Como gostaria que nesse Natal e nos vindouros os corações de todos, principalmente, dos líderes mundiais fossem transformados pelo amor! Cessariam as guerras, as tragédias, os homicídios; toda forma de violência contra os seres humanos, os animais e a nossa mãe natureza.

Como diz o nosso querido Padre Zezinho: “tudo seria bem melhor, se o Natal não fosse um dia, e se as mães fossem Maria e se os pais fossem José, e se a gente parecesse com Jesus de Nazaré.”

Cultivemos a esperança, com atitude, amor e fé.

Feliz Natal, hoje e sempre, se possível todo dia, com Jesus, José e Maria!

 

NOTA DA REDAÇÃO: Marina Lúcia de Cerqueira Marinho Oliveira, são-joanense de nascimento e barbacenense há 44 anos, ama ler e escrever. Autora de três livros, vários poemas e textos. É Mestre em Educação, Psicopedagoga e Pedagoga. Atuou em todas as etapas e anos da Educação Básica e Superior. Lecionou na Pós-graduação. É casada com José Augusto, mãe de três filhos e avó. Felicidade envolve amor à vida e histórias de vida, por isso ama a Cultura, principalmente a Literatura!

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