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A pessoa idosa merece respeito

Difícil aceitar essa fase da vida e, convenhamos, a negamos enquanto for possível. Sim, não admitimos para nós mesmos a nossa velhice. E ela chega de mansinho com as rugas, as limitações, os incômodos físicos em todas as instâncias. De um dia para o outro as pessoas começam a nos tratar por senhor, senhora e a gente se pergunta: será que já estou velho (a) assim? Quase ultrajante.

Porém, a minha abordagem será sobre a maneira como a pessoa idosa é tratada, o (a) velho (a) como se fala, e nem sabemos mais se é pejorativo ou não. Depois que inventaram o 60+ ficou aparentemente mais ameno. Mas eufemismos como “melhor idade”, “terceira idade” não minimizam o incômodo causado pela velhice e o que ela representa.

Há uma tendência a se tratar os idosos de forma a fazer com que eles se sintam inúteis ou como diria Xênia: débeis mentais. Entrementes, como é rica a bagagem que um (a) idoso (a) carrega, mas que ninguém, infelizmente, quer saber. Na África faz parte da cultura dos povos os idosos serem os propagadores da história. Eles são muito respeitados nesse papel.

A pessoa idosa quer ser reconhecida e valorizada por seu histórico de vida, quer que entendam que ela é capaz de fazer as coisas e fazer escolhas, ter a sua autonomia respeitada e que, a menos que esteja senil, tem ciência de tudo que lhe acontece. Eu acompanhava regularmente a minha mãe a uma determinada consulta e observava que o médico conversava com ela usando tudo no diminutivo, como se ela fosse uma criança, com o intelecto reduzido. Ela mesma, como vivia voltada para o seu mundo, nunca se queixou de nada, entretanto, nos últimos tempos, aquilo passou a me incomodar. Minha mãe faleceu praticamente lúcida, tinha noção do que lhe acontecia. Inicialmente, pensei que era um tratamento carinhoso, mas depois entendi que não era apenas isso, representava uma subestimação de sua capacidade. É comum até mesmo os profissionais da saúde e familiares tratarem assim os seus velhos, não levando em conta suas opiniões e preferências.

Infantilizar uma pessoa idosa desconsidera a existência dessa pessoa em sua fase adulta, com uma longa trajetória de vida e que tem ainda muito a oferecer e contribuir. A isso é dado o nome de ageísmo, que se caracteriza por diversos tipos de discriminação em virtude da idade de uma pessoa. Embora pareça uma demonstração de carinho, costuma trazer consequências avassaladoras, pois a pessoa idosa pode se sentir diminuída, afetando a sua autoconfiança e autoestima.

O que se deve evitar ao lidar com uma pessoa idosa que esteja lúcida: falar com ela usando palavras no diminutivo; ajudá-la a se locomover, sem que haja necessidade; falar mais alto, pressupondo que ela não escuta com nitidez; ignorar a presença dela e se dirigir apenas a um parente ou a um cuidador; não a incluir em passeios em família, em idas ao cinema, teatro ou shows; não conversar com ela sobre temas atuais; não levar em conta a sua opinião acerca de decisões sobre comemorar ou não aniversários, sobre a roupa que vai vestir ou sobre fazer uma atividade que lhe dê prazer.  Enfim, são tantas as formas de discriminar uma pessoa idosa, que é preciso haver preparo, sensibilidade para lidar com ela. Qualquer um de nós está sujeito a praticar um ato desses, mas, à medida que vamos tomando conhecimento, devemos mudar a postura.

Aqui eu puxo pela memória e me recordo de uma vez que presenciei uma tia sendo obrigada a lavar os cabelos ao chegar do salão, pelo simples fato de que o penteado não havia agradado aos familiares. Foi de cortar o coração, principalmente porque não havia nada de errado com aquele penteado.

Fui levada a refletir ao ler um artigo onde alguém opina que as pessoas idosas que ficam em asilos estão lá porque merecem, a julgar por todas as coisas ruins que confessam já terem praticado. Ora, uma pessoa idosa já foi criança, jovem e adulta. Depois ela envelhece e leva consigo a bagagem de tudo que praticou e viveu. Não é porque se transformou num(a) velhinho(a) de aparência adorável que se torna um santo, mártir ou coitado. Não, é uma pessoa com suas vivências, seus defeitos e qualidades. Mas nem por isso merece maus-tratos e abandono. Existem filhos ou parentes que guardam tanto rancor dessa pessoa que um dia lhe fez mal, que não conseguem perdoá-la e nem conviver com ela em sua fase mais vulnerável.

Eu considero que só o estado da velhice, da solidão e abandono, e, muitas vezes, a falta de paciência a que está sujeita, já é uma redenção suficiente para quem envelheceu e está à mercê de terceiros e de sua boa vontade. Penso, no entanto, que nossa velhice pode ser menos ou mais sofrida de acordo com o caminho que percorremos até chegar lá, no relacionamento que mantivemos com as pessoas, nas boas ações que praticamos. E nada de pensar que filhos, netos ou sobrinhos têm a obrigação moral de cuidar de seus velhos porque isso não vai acontecer. Eventualmente, nem os filhos o fazem, optando por deixá-los em instituições de longa permanência, ou seja, ILPIs. Entretanto, essas instituições não devem ser consideradas depósito de velhos, apesar de haver um estigma quanto a isso. Em algumas situações, torna-se imprescindível que os idosos sejam mantidos nesse tipo de instituição. O que é preciso é a sociedade incorporar essa realidade e se programar para oferecer aos seus velhos as oportunidades mais acolhedoras possíveis.

Em vez de algumas pessoas, jovens em sua maioria, se referirem com tanto desprezo aos mais velhos, às pessoas idosas, deveriam é pensar que estão caminhando para lá. Em nosso país há uma perspectiva galopante de que teremos muitos idosos em pouco tempo. É preciso preparar melhor a caminhada para chegar lá, pois só “não fica velho quem morre cedo”.

Triste essa abordagem, mas real como poucas coisas na vida. Não há escapatória, embora haja uma tendência entre algumas pessoas em dar um fim à vida com “dignidade”, ou melhor, abreviar o fim antes que se torne muito sofrido.  

Lendo a declaração de uma mulher jovem fiquei meio estarrecida (se é que isso ainda é possível) quando ela diz não suportar velhos, não tolerar ficar perto deles e que com ela não vai acontecer, pois ela dará fim à própria vida antes disso, não pretendendo ficar velha.

A velhice chega para todos de maneiras mais diversificadas possível e é uma realidade que ninguém pode viver no lugar do outro. Analisando com bastante objetividade, concluo que cuidar de uma pessoa idosa, especialmente de pais, cônjuges ou familiares, requer uma grande dose de altruísmo, generosidade e, sobretudo, muito amor no coração. É um cuidado que não trará retorno ou recompensa e apenas quem cuidou é que saberá o que se passa em seu íntimo e tem a explicação para o que fez. É digno de admiração e respeito. Um grande gesto de doação.

 

Maria Solange Lucindo Magno, professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental na rede estadual – aposentada

Atuou como Inspetora Escolar na rede estadual – SEE

Técnica em Educação da rede municipal de ensino de Barbacena – aposentada

Amante de livros, cinema, teatro e música, enveredou pelos caminhos da escrita

Lançou em 2020 o seu livro de caráter intimista “Escritos Com o Coração”

Autora de diversas crônicas

Possui publicações na plataforma Scriv

Comentarista na página do Leitor – Revista Veja

Foi aprovada como colunista do site O Segredo

Aprovada em cinco Antologias

Atualmente é articulista do Complexo de mídia eletrônica Barbacena Online

Instagram: @mariasolluc

Facebook: Maria Solange Lucindo Magno

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