Minas e sua religiosidade

A opinião de Geraldo Trindade

A grandeza da união das Minas e dos Gerais gerou o diversificado e rico estado que temos hoje. Difere dos demais pelo seu linguajar peculiar, pela cultura rica, mesa farta, caráter desconfiado e precavido do seu povo, por sua geografia diversificada… Popularmente, Minas é o mundo que cobre o mundo da gente. João Guimarães Rosa na crônica “Aí está Minas: a mineiridade” escreve: “Seu orbe é uma pequena síntese, uma encruzilhada; pois Minas Gerais é muitas. São, pelo menos, várias Minas.” E nesta constelação das Minas das Gerais que se destaca outro aspecto único: a religiosidade e a fé do povo mineiro.

A espiritualidade liga o ser humano a Deus, ou seja, religa o homem ao Criador por meio da religião e na alma mineira isso sempre se deu por meio da fé católica arraigada existencialmente nas rezas, rogos, procissões, templos religiosos e expressões, que foram ganhando destaque por meio da devoção aos santos e a Maria, para assim chegar mais facilmente à Deus.

Expressão disso se pode perceber na história da circunscrita cidade mineira, Pedra Bonita, localizado na Zona da Mata Mineira. Interiorana, com uma população que estabelece suas relações de modo familiar e apadrinhamentos, onde a vida se mostra singela e pacata, está em suas raízes a religiosidade popular. O povoamento iniciou-se com o Major José Luiz da Silva Viana que deu o nome da fazenda de São José e logo mais tarde o povoado foi chamado de São José dos Quatis. Após a emancipação passou a ser chamada de Pedra Bonita e dedicada a São José.

Outro fato bem próprio é que no dia 31 de outubro a cidade revive um fato peculiar, que remonta ao ano de 1993, quando se narra que Nossa Senhora das Graças teria aparecido em sonho convidando a cultivar a oração, a conversão e a retidão de vida. A partir daí essa expressão tem sido oportunidade de tantas pessoas voltar-se com devoção a Maria.

Em ambos fatos enxergar-se o quanto o mineiro exerce sua mineiridade por meio da expressão religiosa. A mineira Adélia Prado em uma entrevista afirmou sobre sua experiência de infinito: “É um desejo infinito que nós temos de adoração, e de algo que nos suspende com o sentido absoluto. Nós somos finitos e relativos, e queremos sempre uma coisa absoluta: que esse café maravilhoso não acabe, que a minha paixão não acabe, que essa casa bonita permaneça. A gente tem sede de infinito e de permanência. Então, esse ser que assegura a permanência das coisas, é que eu chamo de Deus. É o Absoluto.” É esse Absoluto que está tão palpável na realidade mineira, capaz de impulsionar o coração para além das montanhas que se elevam e cercam as pitorescas cidades, que trazem no seu bojo, na sua vivência atual a necessidade que temos do Transcendente e se lançar com a vida nesta perspectiva traz a garantia de não nos bastarmos. O mineiro é a encarnação desse Absoluto, que não está distante, mas próximo como seu compadre, com quem canta e decanta a certeza de não estar só, mas totalmente imerso no Transcendente.

NOTA DA REDAÇÃO: Geraldo Trindade é Graduado em filosofia e teologia, padre na Arquidiocese de Mariana. Contato: [email protected]

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