Contra-Ataque: O Policarpo Quaresma azul?

Sérgio Monteiro

 

 

O Policarpo Quaresma azul?

 

Insônia, preocupação, ansiedade, medo. A vida do cruzeirense não tem sido fácil nos últimos tempos. Acostumado a grandes conquistas, o torcedor da Raposa tem tido dificuldades para se adaptar à nova realidade. Fato é que em dois anos o mundo azul caiu, literalmente. Pelo segundo ano consecutivo na Série B, o Cruzeiro sequer consegue uma vaga na “primeira página da classificação”, quem dirá no tão sonhado G-4. O direito a esse sonho parece ter sido tirado do torcedor, assim como tantas outras coisas foram tiradas do clube por dirigentes irresponsáveis, como em um passe de mágica.

Mas há uma luz no fim do túnel e ela tem nome e sobrenome: Vanderlei Luxemburgo. Não propriamente pelo treinador, que vem acumulando trabalhos de modestos pra baixo há algum tempo, mas pelo que esse projeto (sem intenção de trocadilhos), encabeçado por Pedro Lourenço, pode representar. Mas é preciso ter muita calma nessa hora. É preciso olhar a questão sob dois pontos de vista. E eles são completamente distintos.

Foquemos primeiro no ponto de vista do torcedor. Era preciso dar uma sacudida no elenco e no próprio clube. Caso contrário, a chance de uma reviravolta era praticamente nula. A continuar com técnicos de poucas experiência e representatividade, a coisa não ia decolar. Vários passaram nos últimos dois anos pela Toca da Raposa e nada aconteceu. Além do mais, Luxemburgo tem identificação com o clube.

Ou seja, para o torcedor é hora de acreditar, sim. O “pofexô” foi campeão por onde passou, inclusive pelo Cruzeiro, onde conquistou a badalada tríplice coroa, em 2003, erguendo as taças do Brasileirão, da Copa do Brasil e do Mineiro. Tem capacidade e vivência de sobra e sabe como gerir um vestiário. A tarefa é difícil, mas só de enxergar uma luz no fim do túnel o torcedor já consegue dispensar o antidepressivo.

Mas quase tudo na vida tem um porém, não é mesmo? Olhemos de forma pessimista então. A chegada de Luxemburgo é arriscada por vários motivos. Pode ser ele o fator que fará a bomba explodir de vez. Afinal, as promessas feitas ao treinador para que aceitasse a dura missão são as mesmas feitas a Felipão ano passado. Salários em dia, investimentos no elenco, paz para trabalhar. Qualquer um sabe que o Cruzeiro não tem condições de assumir um pacto desses. E é aí que começam as dúvidas.

Pedro Lourenço é o principal parceiro da Raposa nesse projeto Luxemburgo. Aliás, a ideia de trazer o experiente treinador é dele. Faz tempos que Pedrinho tenta empurrar, goela abaixo do presidente Sérgio Santos Rodrigues, o Luxa. Terá Pedrinho fôlego e disposição para tocar o projeto até o fim de 2022, quando termina o contrato do técnico contratado? Cumprirá com as promessas feitas ou esse será mais um casamento com data de validade? Em dois anos, Pedrinho já “roeu a corda” duas vezes. Primeiro, abandonou o barco que era guiado por um grupo de empresários, na transição entre a gestão passada e a anterior. Mais recentemente, pulou fora após se desentender com o presidente e a forma como o clube estava sendo conduzido.

O Cruzeiro precisa que esse projeto seja levado a sério. Caso contrário, Luxemburgo será apenas mais um a entrar na justiça muito em breve solicitando o que lhe é de direito. Por uma dessas coincidências do destino, no momento em que Luxa era anunciado oficialmente, outros dois treinadores – dos sete que passaram pela Raposa durante a estadia na Série B – entraram com ações na Justiça solicitando seus pagamentos: o próprio Felipão e Ney Franco. O custo do projeto Luxemburgo, caso fracasse, será alto demais para um clube que notadamente não consegue colocar ordem na casa.

E não é só esse o risco. Vamos supor que dessa vez o Pedrinho vá cumprir a promessa. Além do recheado salário do treinador e de sua comissão, ele terá que pagar o salário de funcionários e jogadores. O que não fez na era Felipão.  E mais: as dívidas na Fifa, que tanto têm ameaçado a paz pelos lados do Cruzeiro. Porque senão, Luxa, além de provar que ainda tem capacidade para realizar um bom trabalho, terá que ser mágico. O elenco atual é fraco e tem sofrido perdas importantes nos últimos dias – já saíram Matheus Barbosa, Airton e Bissoli e a porteira continua aberta.

Por fim, qual o Luxemburgo que foi apresentado ontem na Toca da Raposa? O campeão de tudo em 2003 ou aquele que não deixou saudades em 2015, com 10 derrotas em 19 jogos? Cheio de si, o “pofexô” chegou com um discurso que quase ninguém entendeu. Entre ideias tresloucadas e surreais, me fez lembrar do major Policarpo – uma espécie de última esperança, ou de salvador da pátria em “Triste fim de Policarpo Quaresma”. O herói de Lima Barreto, no entanto, não teve o fim que a torcida cruzeirense espera para seu treinador.

A verdade é que Luxemburgo é daqueles que, quando chega, parece que chegou um ônibus. Ou uma caravana, de tanto estardalhaço que faz. Resta saber se o cruzeirense verá um feliz ou um triste fim de tudo isso. É confiar com o pé atrás e saber que, sem salários em dia e sem contratações, a missão passa de difícil a impossível. E sinceramente desafiar o impossível é tarefa de outro time de Belo Horizonte.

 

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Crédito – Cruzeiro/Divulgação

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