Os Bordados de Fia

Cordonê,  bastidores,  tesoura  de  ponta  fina,  riscos  em  papel  de  seda  e  máquina  de  costura.  Eram  objetos  com  que  a  Fia  fiava  enxovais  para  toda  aquela  comunidade.  Punha  os  papéis  de  seda  sobre  os  panos  que   se tornariam  toalhas  e  colchas.

 

E  aí  era  só  correr  o  risco  dos  traços.

 

Primeiro  com  o  carbono  entre  o  papel  e  o  pano.  A  Fia  enfiava  a  tesoura  nos  bordados.  Tudo  virava  renda:  bordado  e  dinheiro.   Mas  tinha  que  correr  o  risco  de  sua   arte.

 

Noivas  corriam  os  riscos  de   casamentos:   bem  sucedidos  ou  enviuvavam   na   má   sorte.  Tudo  com  vestido  que  a   Fia  tinha   rendado.

 

Batizados  eram  feitos  com  mantas   feitas  pela  Fia.

 

Nas  procissões,  as  janelas  eram  enfeitadas  com  bordados  que  Fia  tinha  corrido  o   risco  sobre  o   carbono   para  o melhor  traço  do   bordar.

 

Fia  correu  os  riscos  e   se  casou.

 

Foi  bem  riscado!  Mas  valeu  à  pena!   Porque  um  dos  “fios”  da  Fia  produziu   esta  crônica  poética.

 

O  filho  da  Fia  achou  que  ficou   tão  singela  que preferiu  deixá-la  nesta formatação.  E  não segundo  o  propósito  primeiro  quando  começou  a  escrever.

 

Correndo  os   riscos  optou  pela  homenagem  e  não  o  formato  primeiro  para  a   participação  naquele  grupo  de   escritores.

 

Leonardo Lisbôa

Barbacena, 08/07/2018

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NOTA DA REDAÇÃO: Leonardo Lisbôa  é professor da rede pública de ensino de Minas Gerais. Fez sua especialização em História na UFJF e seu mestrado em psicopedagogia na Universidade de Havana, Cuba. Publica textos também no sítio www.recantodasletras.com.br onde mantém duas escrivaninhas (Perfis): o primeiro utilizando o próprio nome ‘Leonardo Lisbôa’ e o segundo o de ‘Poesia na Adega’.  Registro no CNPq: http://lattes.cnpq.br/0006521238764228