Autismo – como não falar?

Maria Solange Lucindo Magno

No mês de conscientização do espectro autista, eu, como educadora, não poderia deixar de falar um pouco sobre o tema.

Fui professora durante um bom tempo e não tive a oportunidade de receber em nenhuma das minhas turmas uma criança autista. Isso, considerando que demorou um bom tempo para que o diagnóstico de autismo se tornasse prioridade. Há que se levar em conta que os professores não eram formados e nem preparados para lidar com tal condição. Sabemos ainda que o diagnóstico não era feito com a regularidade com que é feito hoje em dia, quando pais, professores e especialistas estão mais atentos.

O autismo, que é um transtorno que afeta diretamente as interações sociais pela dificuldade na comunicação de quem é portador com as outras pessoas e com o mundo à sua volta, causa perturbação para todos os envolvidos: pais, irmãos, professores, colegas, sociedade em geral, sobretudo, por não estarem preparados para lidar com a situação.

Como já foi amplamente discutido e divulgado por especialistas, o autismo se apresenta de diversas maneiras, comprometendo e limitando diferentes áreas do desenvolvimento. E, em cada criança diagnosticada, o transtorno se apresenta de uma forma.

Como a condição se manifesta ainda na primeira infância, é preciso que os pais fiquem atentos a todo sinal de alerta, pois quanto mais precocemente começar o tratamento adequado, melhores serão as condições de convívio da criança portadora desse transtorno. Todavia, os sintomas variam bastante de uma criança para outra e o autismo não se restringe apenas a uma faixa etária.

Segundo dados da OMS, uma entre cem crianças é diagnosticada com TEA e não há como mensurar a angústia e dificuldades enfrentadas por familiares dessas crianças. Eu mesma, já tive a oportunidade de presenciar como mães (ou parentes) de autistas os defendem como leoas, pois sabem o quão difíceis são as condições para que um autista seja inserido nos vários grupos sociais.

Há bem pouco tempo era raro, ou melhor ainda, desconhecido falar ou mesmo identificar o autismo. Não se tinha conhecimento de como tratar e as crianças ficavam fadadas a terem uma vida limitada, sem inserção na sociedade. Seu universo se limitava ao núcleo familiar.

Uma das pistas do autismo é quando uma criança, por exemplo, começa a demonstrar interesse específico por algumas coisas. Outro comportamento que pode chamar a atenção é quando a criança não olha para mãe ao ser amamentada. Não é obrigatório que seja autismo, mas desperta a atenção. Por volta de um ano de idade, a criança geralmente dá tchau, bate palminhas ou aponta com o dedo. Numa criança autista isso demora para acontecer e o que mais merece destaque, é o fato de seus olhos se dispersarem muito rapidamente.

A conjunção de fatores para um diagnóstico do TEA é o comportamento social da criança, dificuldades de linguagem e padrões restritos e repetitivos de comportamento, dificuldade em aceitar mudanças na rotina, adoção de rituais.

Acompanhamos pelas redes sociais e através do engajamento de pais o que provoca nos autistas os sons estridentes e barulhos ensurdecedores. Isso se dá devido à alta sensibilidade que as pessoas com TEA têm a estímulos sensoriais: cheiros, luzes, sons, texturas. Um estímulo desses, de forma exacerbada, pode desencadear uma crise de desespero e descontrole. Contudo, essa reação varia de pessoa para pessoa, assim como o grau de autismo de cada um.

Daí a importância de se fazer o diagnóstico com o profissional especializado.

Embora o neuropsicólogo e psiquiatra é que possam validar o laudo de autismo, uma equipe multidisciplinar formada por profissionais como o fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta, pedagogo, e de uns tempos para cá, o professor de apoio, dentre outros, é que tem o preparo necessário para lidar com o portador de autismo. Muitas vezes, o diagnóstico é fechado mais tarde, quando a criança se torna adulta.

O TEA não tem cura, mas há tratamento que permitirá ao portador desfrutar de uma vida plena, com o maior bem-estar possível.

Ouvindo a entrevista de uma especialista, pude me inteirar de que um autista pode levar uma vida normal dentro de suas potencialidades. Ele pode, inclusive, trabalhar e sua atividade recebe o nome de Emprego Apoiado. Isso acontece num ambiente adaptado para ele, considerando as suas limitações. Há alguns pilares que precisam ser respeitados para a admissão de um autista: elaboração de um perfil personificado; mapeamento de uma vaga que se adeque ao seu perfil; adaptações necessárias para inserir o autista; mapeamento da pessoa na função; monitoramento para ajustes, quando necessário. Para que isso possa funcionar a contento, a empresa precisa contar com o Instrutor Laboral, que vai prestar um suporte a esse funcionário.

É perfeitamente possível o portador do TEA adquirir autonomia, desde que ele seja assistido desde a mais tenra idade.

É preciso que membros da sociedade se unam aos pais para que coletivamente possam colaborar para uma vida o mais normal possível para os autistas, num esforço contínuo. Um grande exemplo disso, é se conscientizarem de que os barulhos de fogos de artifício causam um grande transtorno e sofrimento para eles e esperemos que num futuro próximo, todos possam aderir ao uso de fogos silenciosos, apenas aqueles que são jogos de luzes. Os autistas, idosos e animais agradeceriam. Além disso, é preciso respeitar os seus momentos de crise.

As formas de tratamento abrangem a ABA (bastante utilizada) que consiste no ensino de habilidades importantes de comunicação, imaginação e autorregulação e o medicamentoso, quando há um nível muito grande de irritabilidade ou existe um TDAH associado ao autismo. Quando apresentam ansiedade ou dificuldade para dormir podem também ser tratados com medicamentos. O mais importante é que seja dada prioridade em melhorar a evolução, oferecer um ambiente acolhedor e enriquecido que possa proporcionar à pessoa com TEA o mínimo de acomodação à realidade vivida por ele, tudo fundamentado em evidências científicas.

Como cidadã e educadora, não quis deixar de falar sobre um tema tão presente em nosso cotidiano. Se não temos na família, conhecemos alguém que tem, e essa luta é árdua, mas suportada com amor.

Gostaria de citar em Barbacena, a mãe do Artur, Terezinha Fortes, que com sua experiência, envolvimento com a causa, luta com tenacidade em todas as frentes pelos direitos e uma vida melhor para os portadores do TEA.

Já faz algum tempo, houve uma grande repercussão quando Sylvester Stallone divulgou para o mundo que tem um filho autista, porém, apesar de na época a síndrome não ser muito conhecida, o ator optou para manter o filho mais reservado, longe dos holofotes e com tratamentos em casa. O apresentador Marcos Mion também tem um filho autista e não raro ele comove a todos com o carinho que demonstra pelo filho e vibra com os seus feitos. Recentemente, ele deu uma entrevista explicando por que não leva o filho autista em grandes viagens de férias com o restante da família. Segundo ele, com as peculiaridades do filho, uma viagem de avião, por exemplo, para lugares distantes, mudaria demais a rotina já organizada do garoto, o que geraria um grande transtorno para todos da família, especialmente para o portador do autismo. Quando famosos dão visibilidade à condição, falando dos desafios enfrentados e adaptações, é um alento para todas as famílias que lidam com os mesmos problemas. Eles já não se sentem tão sós. São muitas as dificuldades enfrentadas por aqueles quem lidam com esse estado, com a discriminação e intolerância por parte de alguns.

Que reflitamos sobre o nosso papel diante dessa realidade tão presente no mundo atual, tendo respeito e compaixão pelos autistas e seus familiares.

 

Observação: alguns dados divulgados pela CNN Brasil.

 

 

Maria Solange Lucindo Magno, professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental na rede estadual – aposentada

Atuou como Inspetora Escolar na rede estadual – SEE

Técnica em Educação da rede municipal de ensino de Barbacena – aposentada

Amante de livros, cinema, teatro e música, enveredou pelos caminhos da escrita

Lançou em 2020 o seu livro de caráter intimista “Escritos Com o Coração”

Autora de diversas crônicas

Comentarista na página do Leitor – Revista Veja

Foi aprovada como colunista do site O Segredo

Aprovada em quatro Antologias

Atualmente é articulista do Complexo de mídia eletrônica Barbacena Online

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