Antes que o “mundo” acabe

Por Delton Mendes Francelino, Doutor pela UFMG, Cientista e Professor. Diretor da Casa da Ciência e da Cultura de Barbacena e do Instituto Curupira. Coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana, do IFET Barbacena. Autor de dois livros. Acesse o podcast: “Falando de Ciência e Cultura, com Delton Mendes” no Spotify ou outros agregadores de áudio!

Desde a infância, tive contato com desenhos animados, filmes, livros que abordavam a questão do “fim do mundo”. Lembro-me quando, um dia na escola, fiquei pensando sobre isso e imaginei o que seria o “vazio”. Se o mundo acabasse algum dia, o que restaria? Ou não sobraria “nada”? Bom, hoje sabemos que para refletir sobre isso é necessário, em primeira instância, definir sobre qual mundo estamos falando: nosso corpo e nossa subjetividade (ou eu)? nosso planeta? O Sistema Solar? Nossa galáxia? O universo observável?

Fato é que, mesmo nosso planeta, como objeto astronômico, só deixará de existir quando nossa estrela, o Sol, expandir-se, “inchar”, daqui a alguns bilhões de anos. Todavia, se consideramos como mundo tudo aquilo que nos permite existir, aí a situação fica, digamos, um tanto quanto mais complicada e muito possível de um fim mais proximal. Para vocês terem ideia, são milhares de pessoas que morrem todos os dias, sobretudo em países mais pobres, de fome. Outros milhares, por acidentes. Isso sem levar em consideração a quantidade enorme que falece por doenças e outros acometimentos. Ou seja, se pararmos para pensar bem, a cada segundo que vivemos, alguém está “deixando de existir”, está falecendo. E se projetarmos também as outras formas de vida, não humanas, esta reflexão fica ainda mais ampla, pois estamos em meio à Sexta Grande Extinção de Espécies da história da vida terrestre (provocada pela humanidade).

Poucos refletem sobre o fato de que a vida humana é extremamente “curta”, em tempo, quando comparada a diversos outros seres vivos. A expectativa de vida de indivíduos de nossa espécie, embora varie de acordo com a região do planeta, já foi de apenas 30-40 anos há alguns séculos/milênios. Hoje, pode-se chegar, a maioria da população mundial, aos 70 anos, com certa “tranquilidade”. No entanto, o que são 70, ou mesmo 100 anos, em comparação aos 4,5 bilhões de anos que é a idade de nosso planeta, ou os 13,7 bilhões de anos, a idade de nosso Universo?

Neste dia, agora, enquanto você lê este artigo, então, te convido a pensar: quem você deseja ser antes que o mundo acabe? Mas encare você como mundo, e não o planeta. Você é um universo biológico, social e cultural…e, literalmente, embora sua carga genética seja 99,99999% idêntica à minha e todos os outros humanos, ninguém é exatamente igual a você em todo o universo. Parece um texto de auto ajuda, eu sei, e talvez até o seja, vai saber. Entretanto, realmente, como cientista, sempre “me pego” refletindo sobre como posso ser uma pessoa melhor a cada dia.

Compreendo cada dia de minha vida como se fosse o último e, assim, busco tecer experiências e construir relações o mais positivas possível. Sabemos que nosso planeta não deixará de existir tão rápido, mas, a vida, por outro lado, pode deixar os corpos os quais habitamos a qualquer momento. Portanto, viva-a, aproveite-a e busque sempre aquilo que lhe faz bem, inclusive ajuda profissional, no caso de doenças, questões psicológicas em geral. A “vida é um sopro”, já disse o poeta, e esta é uma verdade que a Ciência e a Filosofia nos escancaram todos os dias. Que saibamos viver e adquirir sabedoria constantemente – os mais felizes, as pesquisas mostram, são aqueles que vêm muito em pouco, e não aqueles que têm muito e nada percebem neste muito.

Apoio divulgação científica: Samara Autopeças, Jornal Barbacena Online e SEAM – Serviços Ambientais.

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