O pouco que não vi, imaginei

Meio-dia em ponto, sob sol a pino, a burrice siderúrgica foi ao encontro do imbecil crônico. De pé no boteco, derretendo o que restava de seus neurônios, falaram de políticos, que é o assunto preferencial da espécie. Ao redor da dupla, algumas fêmeas levavam seus au-aus para espairecer e bostejar a via pública.

 

Entre latidos de um ‘poodle’ histérico, desafiando o vira-latas songamonga, transcorreu mais uma sessão de convívio social, alimentado pelo diálogo acerca de onde se localizava o melhor salão para fazer ‘chapinha’ em cabeleiras revoltas. Após a longa hegemonia dos pelos desgrenhados, o mulherio volta a ser politicamente correto.

 

A burrice siderúrgica e o imbecil crônico, após se fartarem de politicagem, entraram em um supermercado para adquirir, a preço de banana, alguns DVDs que continham fabulosas porradarias elaboradas nos ‘States’. O imbecil crônico, mais abonado, comprou também um delicioso filme em que monstros gelatinosos estragavam a festa de uns panacas oligofrênicos.

 

Isso foi apenas um aperitivo porque a nascente tevê digital lhes reserva emoções ainda mais deslumbrantes. Crimes e acidentes nos mínimos detalhes, com a nitidez da vida real, e tudo relatado por um locutor que fale igual a pobre na chuva. Enquanto não vem a deleitável sapiência visual, a mocidade deserdada pinta o caneco, grafita fachadas, ambiciona caranguejolas possantes e maneiríssimas, mas despreza, entre outras leituras, a das fêmeas curvilíneas.

 

Recolhida a cachorrada aos quitinetes e os videomaníacos a suas telinhas, a madrugada é contemplada por tiroteios, ou seja, bangue-bangue ao vivo e a cores.

 

Se este mundo está perdido? Minhas velhas barbas estão de molho.