Por Delton Mendes Francelino, Diretor do Instituto Curupira, Coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana do IF Barbacena/MG. Doutorando na UFMG e autor de dois livros.
É comum, no meio popular, as pessoas não saberem sobre a origem e história evolutiva da nossa espécie. Algumas pesquisas mostram que a imensa maioria de nosso povo acredita que não somos animais, que somos os seres vivos mais relevantes dentre todos os outros, ou, ainda, que a humanidade é a espécie “melhor do planeta”. Muitos ainda não acreditam na Evolução das Espécies, modelo no qual a ciência comprova que todas as espécies de seres vivos atuais vieram de outras, anteriores, ao longo dos últimos 3,5 bilhões de anos. Esse panorama obscuro que ainda marca a sociedade é grave, e acredito que é provocado por uma série de problemas e ausências, seja no sistema educacional, seja na divulgação de ciência, já que muitos de nós, cientistas, não estamos habituados a transmitir esse tipo de conhecimento para além dos muros das universidades.
A evolução da humanidade é um grande quebra cabeças, cujas peças temos encontrado bem aos poucos, sobretudo nos últimos dois séculos, a partir de recursos fósseis e estudos de DNA. Biologicamente estamos no grande grupo de primatas, dentro do qual temos maior proximidade filogenética, atualmente, com gorilas, orangotangos, chipanzés e bonobos (hominídeos). Nós, humanos, somos Homo sapiens, uma das diversas espécies hominíneas e do gênero homo que já habitaram a Terra, ou seja, que domina a capacidade de se locomover “em pé”, com relevante desenvolvimento cerebral, favorecendo inteligências para diferentes problemas ambientais. Atualmente, somos os únicos homo existentes: todos os outros estão extintos.
Os “galhos” mais recentes de nossa árvore da evolução mostram que apenas nos últimos milhões de anos é que nossos ancestrais bípedes (arcaicos) se diversificaram pelo planeta, tendo se originado na África. Antes dos homo, uma variedade de primatas teve processos evolutivos que culminaram com a nossa linhagem. Um exemplo são os Australopithecines, que não são homo, mas certamente foram o “ponta pé” natural para o nosso gênero (quem nunca ouviu falar da Lucy?). O Homo habilis é o primeiro primata hominineo que conseguiu, segundo pesquisas, maior capacidade de deslocamento a partir do bipedismo e solucionar mais profundas problemáticas ambientais. Também encontramos fósseis posteriores de Homo ergaster, mais dinâmico e com cérebro maior. Após ele, estudos levam a crer que mutações deram origem ao Homo erectus (que dominou o uso do fogo), seguido, de forma mais relevante em termos de linhagem humana, pelo Homo heidelbergensis, que, por sua vez, originou, segundo o modelo mais atual, há cerca de 350 mil anos, o Homo de neandertal e o Homo sapiens, que somos, seres com alta capacidade de dispersão pelo planeta.
Importante sempre destacar que essa é uma descrição sintetizada de todos os estudos, e que temos uma grande variedade de espécies não mencionadas aqui. Além disso, vale ressaltar que, apesar de parecer uma linha reta, a evolução não é linear: é em mosaico, ou seja, uma série de fatores biológicos e ambientais, como as mutações e a seleção natural, atuam em micro e macro populações, ao longo de milhares, ou milhões de anos, dando origem a outras espécies ou sub espécies, de forma contínua. Prova disso é que já sabemos que até 40 mil anos atrás coabitávamos a Terra com outros hominineos, como o Heidelbergensis e o Neandertal. Imagine se, ainda hoje, convivêssemos com essas outras 2 espécies do gênero homo: como seria nosso convívio, nossos processos comunicativos? Como seriam as culturas? Será que os subjugaríamos, por preconceito e discriminação? São algumas das várias dúvidas que nos motivam, na ciência, a cada vez mais aprofundar no mistério do desconhecido, em busca de respostas.
Em término, é impossível deixar de falar sobre uma pergunta que nos últimos anos tem sido recorrente: afinal, somos macacos? Todos os primatas são considerados macacos e, assim sendo, porque apenas nós, dentre todos os grupos e espécies primatas, não seríamos? É comum associar a ideia de macacos a seres que vivem em árvores, apresentando pêlos por todo o corpo, rabo, por exemplo, mas essa é uma visão muito restrita do termo, que é mais popular que científico. Somos, sim, macacos e certamente muitas pessoas podem não gostar disso, sobretudo ao observarem o comportamento selvagem e arredio, (nada educado segundo nossos moldes culturais) de nossos parentes mais proximais, como os orangotangos, gorilas e chipanzés, que ainda convivem conosco e com os quais compartilhamos cerca de 98% do DNA. Todavia, a ciência cada dia mais nos mostra que precisamos ser humildes e reconhecer que todas as espécies da Terra estão evolutivamente conectadas e que todos somos “parentes”, alguns mais próximos, outros mais distantes, mas parte da mesma história complexa e muito bonita da vida aqui no planeta.
Apoio divulgação científica: Samara Autopeças e Jornal Barbacena Online