Os Militares da minha vida

A crônica de Francisco Santana

Lembranças e saudades ficam mais fortes com a proximidade das comemorações do Dia da Independência do Brasil. Desde pequeno, ela se tornou um marco na minha vida. Fui criado num ambiente militar onde pai, irmão, sobrinhos, tio e primos prestaram serviços à gloriosa Policia Militar de Minas Gerais. Todos participaram condignamente dos eventos cívicos alusivos com glamour e patriotismo. Recordar se tornou para mim um ato de amor.

Os momentos que antecediam o ponto máximo das comemorações, que era o desfile da tropa pelo centro da cidade, eram de muitas tensões, expectativas e concentrações. Na véspera, meu pai, Sargento Santana e meu irmão, Cabo Santana eram dominados pelo silêncio. A família respeitava sabendo que por dentro eles estavam vibrando.  

Ambos eram extremamente vaidosos e se preparavam muito bem fisicamente para se exibirem nos festejos do dia 7 de setembro. A gente compartilhava com eles de todos os momentos para que eles se sentissem valorizados e amparados. E eram. A natureza presenteou o meu irmão com um físico privilegiado, muito forte além de comunicativo, simpático e boníssimo. Usando um termo da moda ele era um metrossexual, pelo excesso de cuidados com a aparência, gostava de se vestir bem e de estar na moda.

Os preparativos começavam com visitas à barbearia. Cabeça e rosto impecáveis. Os coturnos eram engraxados, lustrados até brilharem. Meu irmão gostava de inovar na amarração de seu coturno. Era tipo Exército, Paraquedista, Fuzileiros Navais e até com zíper. O fardamento era engomado e as partes metálicas eram polidas com o uso de kaol. Chegou o grande dia. Os dois astros estavam prontos para entrarem em cena. O último toque dado pelo meu irmão era o uso do inseparável perfume Lancaster e da brilhantina Glostora. Ele gostava de armar o topete e o chamávamos de Elvis Presley. Ele gostava da comparação.

A família já estava no centro da cidade para assistir o desfile. Estrategicamente nos posicionávamos do lado esquerdo da rua porque sabíamos que os nossos astros se posicionariam daquele lado.   De longe se ouvia o toque da banda. O coração acelerava. Na frente dela o maestro, meu tio, José Onofre Santana. Ele comandava aqueles sons ensurdecedores com calma, equilíbrio e sabedoria. Ele nem piscava. Depois vinha meu primo e padrinho Schubert Gonzaga Santana se equilibrando sobre o jeep e fazendo movimentos concatenados com a espada diante das autoridades no palanque. Equilíbrio em todos os sentidos.

O próximo pelotão a desfilar era o considerado pelo meu irmão, o mais importante do 9º Batalhão. Pouco modesto, né! Ele dizia que os componentes eram selecionados pelo porte atlético. Eu me lembro que por vários desfiles estavam lá Geraldo Ireno, Damião, Nascimento, Arinos e outro primo Inácio (Coroca). De longe eles pareciam flutuar pelo asfalto e, obedecendo a uma voz de comando, as passadas se tornaram fortes e pesadas. Outro pelotão se aproximava com um fardamento diferente. Consegui distinguir nele outro primo: Vicente Inácio, totalmente concentrado.  O desfile do 9º Batalhão de Polícia Militar estava terminando. Só faltava o último pelotão, onde só tinha baixinhos. De longe avistei meu pai, João Pedro de Santana, sério e compenetrado. O fuzil parecia pesado sobre seus ombros. Coitado! Quis o destino que ele parasse onde eu estava. Mexi com ele, toquei nele e não obtive nem um olhar. Esse é o papel de todo artista: concentração.

Com exceção do Vicente, os demais são falecidos.  O show não pode parar. Meu sobrinho Márcio Martins Sant`Anna chegou ao cargo de Comandante Geral da Polícia Militar e passou a desfilar em Belo Horizonte e meu sobrinho neto, Gustavo Sant`Anna, oficial da Força Aérea Brasileira, desfila em Natal rasgando os céus pilotando sua aeronave.   

Tentei unir a família Santana nesse contexto. Quanto orgulho pertencer a ela.   Salve meus militares

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