O tricolor Cartola morreu exatamente num dia de título do Fluminense
Hélcio Ribeiro
Cartola era tricolor. Isso muita gente sabe. Na infância, morou na Rua das Laranjeiras, de onde viu a construção do Estádio das Laranjeiras e de onde levou o gosto pelo Fluminense para o Morro da Mangueira, onde foi residir mais tarde.
Sua predileção pelo tricolor influenciaria também na escolha que fez para as cores da Mangueira, a escola de samba fundada por Cartola.
O que muita gente não sabe é que sem a interferência de Cartola a estreia de Rivelino pelo Fluminense não teria ocorrido. O então craque e camisa 10 da Seleção Brasileira tinha sido adquirido junto ao Corinthians em 1975.
A apresentação de Rivelino para a torcida teve um calendário apertado. Para poder jogar pelo clube e, assim, também pela Seleção Carioca, a solução encontrada pelo presidente Francisco Horta foi um amistoso com o Corinthians em pleno sábado de Carnaval, algo bastante incomum naqueles tempos. Era o modo de incrementar a estreia de Rivelino, comprado quando o Fluminense não tinha verba em caixa, uma grande jogada do cartola e magistrado, Francisco Horta.
Horta, então, sobe o Morro da Mangueira em busca da ajuda de Mestre Cartola e com a seguinte ideia na cabeça: estrear, no mesmo dia de “Riva”, a Torcida Manga-Flu acompanhada de um desfile da Mangueira, incluindo baianas e bateria. É recebido por Dona Zica e Cartola.
Cartola aceita a proposta. A “Manga-Flu” sairia do Morro da Mangueira, a menos de 1 km do Maracanã. A velha máxima junção brasileira entre samba e futebol daria mais um passo.
Cartola convocou o mestre Valdomiro e a bateria teria mais de 120 ritmistas, todos bem pagos. Afinal, convencê-los foi o mais difícil, pois a maioria era flamenguista. Eles usaram a camisa tricolor, mas não sem levantá-la e mostrar a do Flamengo por baixo.
A estratégia de Horta e de Cartola funcionou. Mais de 70 mil pessoas foram ao Maracanã naquele Carnaval de 1975. Para não deixar dúvidas do sucesso da empreitada, Rivelino marcou 3 dos 4 gols tricolores na goleada de 4 a 1 sobre o Corinthians.
Depois do Carnaval, novo gol de Rivelino na vitória dos cariocas sobre os paulistas: 1 a 0.
Começava muito bem a Máquina Tricolor, o time bicampeão carioca de 1975 e 76, que contou com grandes jogadores além de “Riva”, como Carlos Alberto Torres, Edinho, Gil, Rodrigues Neto etc. Nesses mesmos dois anos, Cartola gravou seus dois primeiros discos, incluindo a música “As rosas não falam”, uma das suas grandes obras ao lado de “O mundo é um moinho”, “Acontece” e tantas mais.
Foto 2 – Cartola e Dona Zica na capa do disco “Cartola” – 1976.
Fonte: uol.musica.com.br
A “Máquina” não ganhou o Brasileirão de 75 como previu Horta e os torcedores. Quedou diante do Inter, que foi o campeão.
Foto 3 – Uma das formações da Máquina Tricolor.
Fonte: Blog Futebol, Cultura e Geografia.
O Fluminense voltaria a vencer o estadual em 1980. Esta final, diante do Vasco, ocorreu exatamente no dia em que Cartola faleceu: 30 de novembro de 1980.
Cartola deixou-nos, mas levou o sabor de um título. Aliás, dois: campeão carioca de 80 e maior craque do samba brasileiro. Alguém como ele não podia partir num dia comum.