Por Delton Mendes Francelino
Cresceram no Brasil, nos últimos anos, crenças e valores não científicos, que se valem de saberes desenvolvidos pelo conhecimento gerado pela ciência para fazer afirmações e atestar fatos, argumentos, não comprovados. Muitas pessoas podem afirmar que isso não acarreta em nenhum problema para a sociedade, mas, infelizmente, o fato é que pode sim trazer aspectos muito negativos, como o que tem sido percebido na questão das vacinas, por exemplo, na atualidade, na qual significativa parcela da população tem recebido informações falsas e deixado de acreditar e praticar a vacinação. Mas afinal, o que é uma pseudociência?
Antes de entender o que são pseudociências, é preciso compreender o que é a ciência. Fortalecido, sobretudo, a partir dos recentes séculos, o conhecimento científico é baseado em processos muito importantes, como o duvidar, o lançamento de hipóteses, a observação, a experimentação e o debate sobre os resultados encontrados, podendo eles serem falseados, confrontados e criticados sempre. Logo, fazer ciência significa testar repetidamente, observar de forma ética e idônea o mundo natural, por exemplo, os fenômenos da natureza, e só lançar publicamente resultados que tenham sido obtidos por esses processos. Assim, a ciência não afirma nada que não possa ter sido comprovado, ou, pelo menos, exaustivamente pesquisado e estudado, ou que ainda esteja nesse âmbito, em contínuo, por exemplo.
Por outro lado, as pseudociências são um problema por que não se baseiam na metodologia de observação, experimentação e lançamento de conclusões via métodos científicos. Pior que isso: valem-se de informações científicas do jeito que bem entendem para defender seus pontos de vista. Um exemplo claro disse são curas ditas quânticas, feitas por pessoas não qualificadas, não cientistas, afirmando que o mundo da física quântica pode ajudar a resolver problemas pessoais, depressão, doenças, por exemplo. Vejam: a física quântica nunca afirmou isso, é baseada em modelos altamente matemáticos, em física profunda. Algumas pessoas utilizam frases, textos científicos para defender ações que não são cientificamente comprovadas. As pseudociências, então, são um problema, porque mentem ao dizer que possuem embasamento científico, quando na verdade, dizem ser ciência sem sequer terem processos robustos de pesquisa. Outro exemplo contemporâneo é o terraplanismo, no qual seus seguidores afirmam ser ciência, sem terem qualquer procedimento de fato baseado em métodos científicos. Astrologia também figura como pseudociência, apesar de muitos de seus seguidores afirmarem o contrário. Não estou dizendo que a única verdade do mundo é a verdade científica, mas, sim, que o equívoco está em pseudociências se afirmarem baseadas em práticas científicas.
Claro, há falhas na ciência. Existem sim arrogância e hegemonia no mundo científico. Mas isso não pode ser argumento para que pessoas mudem suas vidas, ou ate mesmo as percam, por falsas ciências, por falta de ética de grupos e cidadãos que querem, de qualquer modo, confirmar suas crenças, suas ideias, expectativas e opiniões a partir da manipulação de informações. Devemos defender uma ciência mais inclusiva, mais dialógica e com mais investimentos para diversos setores, como a divulgação científica e, junto a tudo isso, termos olhares críticos sobre as informações que nos chegam e suas fontes para não sermos vítimas de Fake News. Numa realidade de extrema desvalorização da ciência e crescente acessibilidade à internet, é preciso ter discernimento sobre tudo o que temos acesso e ampliar as percepções para além daquilo que estamos cotidianamente acostumados.
Apoio divulgação científica: Barbacena Online e Samara Autopeças
NOTA DA REDAÇÃO – Delton Mendes Francelino é Professor Col. na Graduação em Ciências Biológicas e coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana, no IF Barbacena. Doutorando na UFMG, é diretor do Instituto Curupira e tem 3 livros publicados. Contato: [email protected]