O herói vive

Por Débora Ireno Dias

Lembro-me de que, naquela noite, saí do cinema com o coração acelerado, desejando viver num país tal qual retratado na telona, com pessoas que se respeitavam – do Líder aos liderados, e todos tinham acesso aos serviços básicos e necessários para viver. Todos respeitavam a ancestralidade e os ensinamentos dos Antigos eram passados aos mais novos e por eles atualizados, mas sem perder a essência. Nem tudo eram “flores”, mas havia algo ali, naquelas terras, naquele Povo, que o fazia se unir, se proteger, e junto, lutar por algo bom para todos, por todos.

Assisti ao filme “´Pantera Negra” e saí do cinema procurando no Google onde ficava Wakanda e descobri no dia seguinte, que a palavra mais buscada na última semana tinha sido esta, pois muitos desejavam saber sobre este país retratado na ficção, mas que, na verdade, era o país onde sonhavam – sonhávamos – morar. Este filme trouxe à tona uma série de temas que precisam ser debatidos, merecem reflexão e ação, para nós que desejamos viver num País mais democrático, com mais igualdade de direitos e oportunidades para todos, principalmente para os mais vulneráveis, para as minorias, com um governo que olhe para e por estas minorias. Assistir ao filme e manter-se indiferente é quase impossível! (Mas se você o assistiu e não se sentiu “mexido”, ok! Sem problemas!)

Falo sobre Wakanda e Pantera Negra ao completar uma semana da Passagem de Chadwick Boseman. A maturidade me faz diferenciar o ator da personagem por ele interpretada, mas, como muito bem dito em todos os veículos que cobriram sobre a morte de Boseman, ele ficou memorável no papel de “Pantera Negra” não só por sua atuação na tela, mas principalmente por sua atuação “por trás das câmeras”! Na vida real, até onde se sabe, trouxe o que aprendeu com sua personagem ou personagens, porque interpretou outros da vida real que também lutavam por direitos das minorias, principalmente os Negros. 

Ao saber do seu falecimento, senti-me meio órfã de herói. Pelo que vi na mídia em geral, muitos também se sentiram assim. Ele trouxe para perto de mim um misto de ficção que poderia se tornar realidade caso eu – e todos – soubéssemos lutar por todos. Bosenam e seus personagens, principalmente “Pantera Negra” aproximaram de muitos de nós um ideal de lugar e comportamentos a que aspiramos, e pelo qual muitos estão lutando. 

Bosenam se foi. Como também se foram tantos heróis da Vida Real: Dom Pedro, Dom Luciano, Dom Helder, Irmã Dorothy, Chico Mendes, São Maximiliano, Frederico Ozanan, Dom Oscar Romero, Irmã Dulce, João Paulo II. Cada um ao seu jeito deixou seu legado, seu heroísmo impresso por onde passou, seja no cinema, seja nas ruas, florestas, campo de concentração, junto à população ribeirinha ou indígena, junto aos jovens. E este legado continua na atuação de tantos heróis que fazem parte da nossa vida: Papa Francisco, Padre Arlindo, Padre Júlio, Irmã Amanda, Pastor Henrique, Leonardo Boff, o pessoal que atua no Pão e Beleza, os que atuam junto aos encarcerados e os que estão junto aos pobres das periferias físicas e existenciais; difícil enumerar pois são tantos! E há também meu Pai. São heróis e heroínas da nossa vida que nos fazem refletir e nos chamam a agir, a fim que de “Wakanda” possa acontecer aqui! 

#WakandaForever

Chadwick Boseman esteja na Paz!

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