O amor é sempre a resposta, não importa a pergunta

Por Francisco Santana

A Basílica de São José Operário de Barbacena – MG realiza anualmente no mês de abril seu tradicional Jubileu. É uma festa de fé e de comércio. Alguns milhares de fiéis comparecem aos rituais cristãos na busca da paz interior, empregos, cura e milagre. Outros milhares comparecem para negociar, comprar, embebedar, comer, namorar e paquerar. Antes do meu ceticismo e descrença, participei desse festejo e ainda guardo na memória muitos fatos que assisti e participei. 

 

No início, eu estava sempre acompanhado de familiares para orar e pedir a Deus que nos dê luz e paz. Depois, comecei a visitar as barraquinhas diversas e principalmente as de guloseimas. Eu era um aficionado e um comprador contumaz das gigantescas cocadas pretas e brancas. Elas eram tão grandes que a gente pedia sempre por quilo para risos de compradores e vendedores. Gostava também de algodão doce, pé de moleque, churros, milho verde dentre muitos outros. A maçã do amor nunca me seduziu. Os colegas diziam que os churrascos eram de carne de gato e que os pastéis da barraca da dona Maria miavam na primeira mordida. Cruz credo! 

 

A festa sempre foi muito bem organizada e era costume receber os simpáticos Capuchinhos vindos do sul do país. Eu conversava muito com eles para adquirir conhecimento e discutir futebol onde metade era gremista e a outra metade era colorado. A programação religiosa era diversificada e cada dia da semana era reservado para homenagear a família, os jovens, os animais, os carros, paz mundial, os homens e as mulheres. Os Capuchinhos, exímios oradores e com muito poder de persuasão, convocavam a todos para comparecerem afrontando: “Hoje estamos festejando as moças, estou vendo mais de três mil. Amanhã é o dia dos moços, espero que eles ultrapassem cinco mil!” Esse método atiçava os fiéis a superlotar o adro da basílica.   A gente comentava e ria muito porque tinha moça que não era moça e moço que não era moço. 

 

Depois da última missa, eu dava uma passada nos leilões e gostava muito de ouvir o cantador do bingo que era um show à parte. Na década de 70, eu trabalhava numa emissora de rádio e um colega de nome Toninho veio a mim todo sorridente me dizendo que foi convidado para ser o cantor do bingo em substituição ao titular que estava afônico. Toninho estava alegre e muito tenso. A noite lá estava eu para vê-lo trabalhar. Em torno do seu palanque havia um aglomerado de pessoas. Toninho começou nervoso e aos poucos tomou conta da situação. As palavras escolhidas por ele eram simples e parecia agradar a todos. “Letra A de América, letra B de Barbacena, letra R de relógio, letra X de xícara”. E alguns participantes questionavam se xícara era com “x” ou com “ch”. Letra J de jeito. E havia quem discordasse do Toninho dizendo que jeito é com “g”. 

 

Percebi que Toninho estava ficando mais leve, solto e descontraído. Ele se apresentava como o dono da situação. Ele brincava, contava piadas e aquela humildade inicial foi embora para muito longe. Vocês conhecem a história daquela vaca leiteira holandesa que deu 20 litros num dia e quando acabou a ordenha chutou o balde, jogando por terra todo o seu trabalho? Pois é, foi exatamente isso que aconteceu com o Toninho. Quando tudo parecia em ordem, aconteceu essa:

 

– Vou começar a cantar as letras! Prestem bastante atenção, façam silêncio para que todos possam ouvir. Letra U de uva, letra R de rua, letra V de viagem.

 

Agora é quem vem o fiasco.

 

– Letra P de João Batista Figueiredo, Presidente do Brasil.

 

Depois da confusão formada, muito bate boca, gente que já havia desmarcado as cartelas e o Toninho jurava que falou letra P de Presidente João Batista Figueiredo.  Eram todos contra ele. Infelizmente não tinha replay e tampouco o VAR (Video Assistant Referee). Teve apostador que ensaiou chamar o Padre Hilário para resolver a confusão que se formou. Uma nova rodada foi feita e no outro dia o amigo Toninho fora despedido. Ele me disse:

 

– Santana, sei que errei, mas corri atrás do meu sonho. Tive algumas horas de fama, de coadjuvante passei a protagonista e estou muito feliz. Se pudesse, faria tudo de novo. 

 

(Fonte: Imagem ilustrativa Jornalismo UFSJ).

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