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A importância da Educação para a Morte

Por Doutor Delton Mendes Francelino, especialista em Mudanças Climáticas e Urbanidades Ambientais, Criador da Casa da Ciência e da Cultura, Diretor do Instituto Curupira e do Museu de Ciências Naturais Itinerante de Minas Gerais. Autor de livros.

 

Enquanto escrevo este artigo, estou no velório de mais uma tia minha. Meu pai,  partiu há menos de 9 meses, após tempos de sofrimento. Meu tio, e vizinho, há cerca de 10 meses, além de amiga e amigos próximos que também “se foram” em menos de um ano. Muita coisa, não é ? Tudo isso, claro, acentua mais a relevância, que tenho já debatido há anos, sobre a necessária compreensão e educação para a morte.

A morte, enquanto fenômeno natural e inevitável, tem sido tradicionalmente tratada como um tabu na sociedade ocidental, uma questão que se evita discutir e que causa desconforto. A educação para a morte, ou seja, a preparação para esse fim inevitável, é um processo fundamental para que as pessoas vivam de maneira mais plena e para que o sofrimento ao enfrentar a morte seja minimizado. Nas culturas ancestrais, essa questão é abordada de maneira mais aberta, natural e integrada, refletindo entendimento mais profundo do ciclo da vida e da morte. Essas culturas, como muitas etnias indígenas, possuem relação com a morte que pode servir como valiosa fonte de aprendizado e reflexão para o mundo contemporâneo.

Muitos povos ancestrais, por exemplo, enxergam a morte de uma forma diferente da sociedade ocidental. Em muitas culturas indígenas, a morte não é vista como um fim absoluto, mas como uma transição, um retorno ao mundo dos ancestrais. Para essas comunidades, a morte é parte de um ciclo maior e não um evento que deve ser temido ou evitado. Os rituais funerários, que podem incluir danças, cânticos e outras celebrações, são uma forma de honrar a vida e o legado da pessoa que partiu, além de ajudar os vivos a se reconectarem com suas raízes espirituais e culturais. A morte é compreendida como um retorno ao universo espiritual, mantendo-se viva na memória dos que ficaram, na terra e nas tradições.

Essa abordagem das culturas indígenas e ancestrais contrasta fortemente com a perspectiva ocidental, onde a morte é muitas vezes associada ao medo, ao luto profundo e ao sofrimento. Na sociedade moderna, a morte é muitas vezes ignorada até que se torne inevitável, e as pessoas não são educadas para lidar com ela de maneira saudável. O sistema de saúde, embora prepare para tratar o corpo e a dor, não oferece preparo emocional e psicológico adequado para a morte. Isso leva a um tabu social que dificulta a aceitação e o entendimento dessa etapa da vida, resultando em uma sociedade que, muitas vezes, não sabe como lidar com a perda.

O conceito de “educação para a morte” propõe que as pessoas sejam preparadas para lidarem com a morte de forma mais consciente e serena. Isso inclui ensinar às crianças e aos adultos o significado da morte, seus impactos emocionais e espirituais e as várias maneiras pelas quais diferentes culturas lidam com ela. Em uma sociedade que não enxerga a morte como algo a ser temido, mas como parte de um ciclo contínuo de transformação, as pessoas teriam uma compreensão mais equilibrada de sua própria finitude e da finitude dos outros, permitindo-lhes viver de maneira mais plena, com mais empatia e sabedoria.

Refletir sobre a morte de forma aberta e integrada em nossa sociedade poderia mudar a maneira como vivemos. Uma educação para a morte pode nos ensinar a valorizar melhor a vida, a cuidar de nossos relacionamentos e a viver com mais propósito. Se a morte fosse entendida como uma parte natural e aceitável do processo de vida, poderíamos reduzir o sofrimento psicológico e emocional gerado pelo medo do fim. A morte não precisa ser vista com pavor, mas com respeito e gratidão pela jornada vivida. Talvez, ao aprendermos com as culturas que compreendem a morte de forma mais fluida, possamos criar uma sociedade mais saudável e equilibrada, onde a vida e a morte coexistem com mais harmonia e compreensão.

Para contato com a Casa da Ciência e da Cultura, basta enviar mensagem via whatsapp: (32) 98451 9914, ou Instagram: @casadacienciaedacultura/ @delton.mendes. O site é: www.casadacienciaedacultura.com.br

Apoio Divulgação Científica: Samara Autopeças e Anjos Tur – Turismo e escolares. 



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