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Pauta em prosa, Verso em Trova (Volume 117)

Por JGHeleno*

 

Arte é um se deixar levar; é um sentido momentâneo da vida manifesto em prazer. Pense numa música gostosa, agradável de ouvir. Para você sentir prazer ao ouvi-la não precisa se perguntar nada sobre ela; basta ouvi-la. Ler uma poesia é, até certo ponto,  assim também. Leia poesia. Leia muita poesia. Entre dentro da poesia e se deixe levar por ela. Uma vez dentro desse mundo, você saberá o que é e o que não é poesia. Enquanto isso, curta as obras  que a voz geral diz que são poesias.

Pensar sobre a peça artística, sobre seu sentido, conversar sobre ela se somam ao prazer imediato, mas não o substituem. Analisar a peça artística também é um prazer, mas não subsitui as outras formas de curti-la. Ficar procurando, na peça artística, mensagens sobre o que a gente deve ou não deve fazer, o que o poeta pretende ou não pretende dizer empobrecem qualquer arte. Cada um é livre para entender a arte da maneira que bem entender, mas é fundamental que saiba que arte não é expressão de nenhuma teoria, nem lição de moral. Uma peça de arte existe para dar prazer. E esse prazer consiste especialmente em ampliar o sentido da vida no momento da fruição.

Eu poderia buscar um poema distante, mais distante ainda se atirado ao alto até as elites poderosas pela crítia oficial. No entanto, prefiro lançar mão do poeta que mora ao lado, nesta mesma cidade, numa rua próxima, talvez num contíguo bairro. Busco, então, um soneto do acadêmico (Academia Barbacenense de Letras) Paulo Maia Lopes, publicado no Anuário número 22 desta Academia (ano 2024, pág. 162.

                                                         “PETIT DÉMON

 

A onda última feriu de morte

a carícia que punha-me em prisão;

e eu vi nascer a cólera, a má sorte,

na face juvenil da Sedução.

 

Clarões de Sol e mármore! E esse porte

que céus sugere; e o Mal, sangrento irmão

da tortura, a infiltrar, na coorte

dos anjos, o satânico embrião.

 

Nunca me olhar assim! Assim despindo

o corpo em bronze olímpico incendeia

meu sonho azul, para o pulverizar.

 

Pois tu só te chegaste a mim partindo,

– adeus! – nessa escaldante e rubra areia

que freme aos beijos ávidos do mar.”

 

Para acabar em trova:

 

Muito mais que entender

a poesia, o leitor

quer é sentir e poder

s’tar dentro do seu fulgor. (JGHeleno)

 

                                                                  *ABL, AJL, LEIAJF, SBPA, UBT.

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