Série Especial de fim de ano: Natal e Pobreza no mundo – Artigo 2
Por: Doutor Delton Mendes Francelino – especialista em mudanças climáticas e ecologia Urbana/ Diretor e Criador da Casa da Ciência e da Cultura, do Museu de Ciências Naturais Itinerante de Minas Gerais e do Observatório Astronômico. Autor de livros
As mudanças climáticas, fenômeno que engloba alterações significativas nos padrões climáticos globais, têm se intensificado nas últimas décadas. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o aumento da temperatura média global está relacionado a ações humanas, principalmente a emissão de gases de efeito estufa gerados pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e práticas agrícolas não sustentáveis. Esse aquecimento global intensificado pela humanidade contribui para eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, inundações e tempestades mais intensas, afetando diretamente as populações mais vulneráveis. A causa humana do fenômeno se reflete no aumento de emissões desde a Revolução Industrial, quando a atividade humana passou a impactar a atmosfera em uma escala sem precedentes.
A relação entre as mudanças climáticas atuais e as ações humanas é respaldada por uma vasta quantidade de evidências científicas, coletadas ao longo de décadas de estudos em diversas áreas da climatologia, biologia, geologia e outras disciplinas. Uma das principais comprovações que indica que as mudanças climáticas são, em grande parte, causadas por atividades humanas, é o aumento significativo da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, especialmente dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxidos de nitrogênio (NOx). Esses gases são responsáveis pela retenção do calor na atmosfera da Terra, intensificando o efeito estufa natural. A queima de combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e gás natural), o desmatamento e a agricultura intensiva são as principais fontes dessas emissões. As proporções de CO2 atmosférico, por exemplo, mostram um aumento de cerca de 40% nos últimos 150 anos, coincidente com a Revolução Industrial e o aumento da atividade humana.
O consenso entre a vasta maioria dos cientistas do clima é claro: as atividades humanas são a principal causa da intensificação do aquecimento global. Relatórios de instituições como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e diversas academias científicas ao redor do mundo, como a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, afirmam que as evidências acumuladas são robustas e apontam para a intervenção humana como o motor principal das mudanças climáticas no mundo moderno.
E a pobreza?
No contexto das questões sociais, a pobreza, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a condição em que os indivíduos não conseguem satisfazer suas necessidades básicas, como alimentação, moradia, saúde e educação. A miséria vai além, sendo uma forma mais extrema de privação, onde a subsistência é seriamente comprometida. A fome, que está diretamente ligada à pobreza, é a falta de acesso a alimentos adequados, resultando em desnutrição crônica. O agravamento das mudanças climáticas intensifica essa realidade, pois desastres naturais e a escassez de recursos aumentam as dificuldades para essas populações, criando um ciclo vicioso que é difícil de quebrar.
As intensas chuvas registradas no Sul do Brasil ano passado e este ano, e as inundações, são reflexo direto das alterações climáticas contemporâneas.
O Natal, tradicionalmente celebrado como época de confraternização e solidariedade, oferece uma oportunidade para refletirmos sobre nosso papel no enfrentamento das crises sociais e ambientais. Em tempos de grandes desigualdades, pode ser um momento para repensar nossas relações e a forma como nos vinculamos aos outros.
Várias culturas pelo mundo, com no antigo Egito, já refletiam sobre maneiras como acabar com a fome, embora existissem desigualdades sociais extremas. Figura: National Geo (2013)
O sociólogo Marcel Mauss, em seu clássico Ensaio sobre a Dádiva (1925), defende que a troca de presentes, e a dádiva em geral, constitui um elo fundamental nas relações sociais. No Natal, ao invés de apenas consumirmos de forma individualista, podemos resgatar o sentido de generosidade e reciprocidade, não apenas entre familiares, mas também em nossas comunidades e no ambiente em que vivemos. Propor mudanças em nossas práticas cotidianas, como o consumo consciente e o apoio a iniciativas que combatam as desigualdades sociais, é uma maneira de transformar o espírito natalino em ação prática. Podemos começar, portanto, pela reflexão sobre a solidariedade, levando em conta as necessidades de quem vive em situações de vulnerabilidade, seja por questões climáticas, seja pela falta de acesso a recursos básicos.
No Natal, o verdadeiro espírito de dar e receber deve envolver, assim, uma troca que não se restrinja aos bens materiais, mas se estenda à promoção de uma sociedade mais justa e equilibrada, onde a luta contra a pobreza e as mudanças climáticas andem lado a lado.
Apoio divulgação científica: Barbacena Online, Samara Autopeças e Anjos Tur Turismo.