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Heróis da minha infância

História 1

 

Passando pelas imediações do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, região central de Barbacena deparei-me com dezenas de pessoas amontoadas e ouvi uma voz estridente. Como eu era muito magro e ágil, não tive dificuldades em abrir caminho entre a plateia para verificar o que estava acontecendo. Os gritos eram de um jovem alto e muito magro tentando persuadir a plateia a comprar  ervas, capins, cascas e troncos de árvores, flores, frutos, cipós, classificados por ele como medicina natural. Todas elas ficavam expostas sobre jornais, tinha até cascos de tatu e de tartaruga. Ele fazia piadas, gritava na tentativa  de comercializar o seu produto. No meio da multidão tinha um jovem questionando os produtos considerando-os ineficazes. Que sujeito chato! Os dois chegaram a discutir num tom de brincadeira. O vendedor pegou uma casca de uma árvore dizendo que ela curava qualquer doença inclusive levantar o que estava quase morto, se estivesse morto ela ressuscitaria.  O moço chato da plateia gargalhou e pediu uma prova dos benefícios daquela casca. Ninguém se apresentou para provar. Com certeza, foi o produto mais vendido.

 

O vendedor perguntou se na plateia tinha alguém disposto a participar de uma mágica para provar sua idoneidade. Um jovem, magro e alto se apresentou como cobaia. O vendedor o agradeceu dizendo com voz altíssima que o faria botar um ovo. O rapaz amedrontado disse: “Moço! Eu não vou botar ovo não, quem bota ovo é galinha e pata e eu não sou galinha  nem pato, sou um ser humano e ser humano não bota”.  O vendedor disse: “Eu vou lhe provar que ser humano também bota!”.  Ele fechou os olhos, orou, desmaiou, se recompôs e pude perceber que seus olhos estavam vermelhos e lacrimejantes. Ele pediu silêncio na plateia para melhor se concentrar. O público acatou o seu pedido. Nesse momento ele colocou uma mão na testa do menino e a outra na sua bunda (menino), tirando de lá um ovo. Ele foi ovacionado (kkkkk) com salvas de palmas. Na minha humildade, ignorância ou ingenuidade fiquei perplexo diante do que vira: um jovem botando um ovo. Como eu estava do lado da igreja, entrei nela para rezar e para espantar os demônios do ato que eu acabara de presenciar. No outro dia quando eu rumava pensativo para o centro da cidade, deparei-me com os  três artistas participantes do show. Eles caminhavam alegres, saltitantes, conversando e sorrindo. Eles deviam estar zombando da ingenuidade do povo, inclusive da minha. Descobri que os três eram irmãos. Essa descoberta nunca tirou o brilho deles.

 

História 2

 

A minha vizinha era sempre visitada pelo seu sobrinho que vou chamá-lo de “Borracha”. Rapaz alto, forte e que fazia coisas com o seu corpo que fugia do meu entendimento de aluno do grupo escolar.  Eu vi o Borracha tirar a camisa, fechar os olhos, colocar as mãos nos joelhos e movimentar todos os órgãos abdominais. Não tenho dúvidas de que os seus rins trocaram de lugar, o intestino subiu e o estômago desceu, o fígado revezou a localização com o pâncreas. Borracha era genial. Na outra visita à casa da tia eu o vi de pé fazendo o peitoral bailar e repetia a cena com o bíceps, tríceps e musculatura dos ombros. Genial, fantástico, sobrenatural, extraordinário, inacreditável! Nada disso superou quando ele apareceu com um pedaço de barbante nas mãos colocando uma ponta na narina, inspirou com força e a ponta do barbante apareceu saindo da boca. Eu tive que aplaudi-lo. Criei coragem e lhe perguntei o que era aquilo e como ele conseguia fazer aquelas coisas. Ele me respondeu dizendo que aquela técnica se chamava Hatha Yoga e que tudo era provocado pela força da mente. Não entendi, mas me fiz de entendido. Durante os exercícios ele tocava em algumas partes do corpo e repetia uma palavra que eu me apaixonei por ela: Chakra. Cheguei a pensar em batizar meus filhos de  Chakra 1, Chakra 2 e Chakra 3. Só pensei, para não ser linchado pela esposa e pelos filhos no futuro. No final dos exercícios ela fazia uma saudação e dizia: “Manaste”, que hoje aprendi o seu significado, “eu o saúdo” ou “eu o reverencio”. Namastê!

 

História 3

Eu admirava em ver o Senhor Olavo, um homem de estatura baixa, cabelos e grisalhos, taciturno, semblante sério, que ficava todos os domingos ao lado do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, depois da missa das 10h girando a manivela do seu realejo, que emitia um som inconfundível. Junto dele, uma gaiola com um periquito que atendia rapidamente a voz de comando do Senhor Olavo O periquito  abria a portinhola da gaiola e puxava uma gaveta cheia de papéis dobrados e escolhia um deles. As mensagens eram de otimismo, fé, esperança, amor e perseverança como: “Não desista porque hoje não deu certo! Tenha fé e lute dia após dia por um futuro melhor”, “Nunca desista dos seus sonhos; fé, coragem e perseverança, são as palavras chaves para que eles sejam alcançados”, “Não importa a cor do céu. Quem faz o dia bonito é você”, “Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela”. Fantástico!

História 4

 

Era carnaval. Na rua muita gente fantasiada, homens travestidos de mulheres e mulheres travestidas de homens, palhaços, colombinas, pierrôs  e muita gente que não precisava se mascarar de tanta feiura e excesso de maquiagem. Fiquei curioso quando apareceu perto da minha casa um jovem carregando uma mala grande chamada de Catarina. Ele ia para lá e para cá, sempre com a Catarina em suas mãos. Um aglomerado de curiosos se formou em seu redor. De repente, ele abriu a Catarina, ou melhor, a mala, tirando do seu interior uma boneca de roupa estampada e muito maquiada. Os dois dançavam, requebravam, ele a jogava para o alto a pegava e continuava a dançar, requebrar e etc. O cansaço chegou. Ele pegou a boneca ajeitou seus braços, suas pernas e a acomodou cuidadosamente dentro da mala. De repente, simulando ouvir algo saindo de dentro da mala, ele a abriu e de lá saiu uma mulher. Inacreditável! Todos nós sacudíamos a cabeça não acreditando no que víamos e como pode uma mulher caber dentro daquela mala e me questionei se ela tinha osso na sua formação corpórea.

 

Você tem alguma história de sua infância para nos contar?

 

Francisco de Santana

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