Vovô Santana e seu neto Bernardo

Comemoramos o Dia dos Avós em 26 de julho, data escolhida por referência à comemoração do dia de Santa Ana e São Joaquim, que, segundo a tradição da igreja católica seriam pais de Maria e portanto, avós de Jesus Cristo. Filhos nos enchem de orgulho, alegria e nos provocam a paz interior. O encantamento é tão grande que passamos a nos considerar os seres mais felizes e realizados da terra. Certo? Errado! Com a chegada dos netos passamos a entender o real valor dos filhos. Neto transcende as definições de amor, felicidade e alegria. É um sentimento tão puro que talvez só bisneto seja mais emocionante.

“Ser avô é um privilégio único. É conhecer um amor ainda maior com os filhos dos seus filhos, acolhendo-os com um carinho que transcende gerações. É se doar como um porto seguro contra as tempestades e mostrar caminhos com lições valiosas. E é com imensa gratidão que reconhecemos o perfil maravilhoso que os avós desempenham em nossas vidas” (SISTEL).

Eu tenho uma neta com 17 anos, Ana Luísa (Nalu) e Bernardo (Bê), com sete. Nalu reside em Belo Horizonte e o Bê, em Barbacena. Não há tristeza onde eles estiverem, só alegrias. A Nalu é mais contida e o Bê, mais arteiro, peralta. É um menino inteligente, comunicativo, cheio de graça, simpático, falante, recíproco e leva alegria onde quer que esteja. Adora futebol. Torcedor fanático do Clube Atlético Mineiro, clube que ele participa de sua escolinha em Barbacena. É um vibrante aprendiz de jogador de futebol. Muito dedicado acorda cedo aos sábados, se prepara e vai à luta. A sua canhota é fortíssima e chama a atenção dos professores e colegas. O seu toque na bola é refinado. Se vai seguir a carreira futebolística só o tempo dirá. Hoje posso dizer que ele é uma expressiva promessa. Bernardo é muito estudioso. Quando tira uma nota máxima e é cumprimentado ele diz: “Tirei nota máxima porque estudei”. Estudante de  inglês ele gosta de criticar sua vovó pela sua pronúncia. É muito esnobismo.

De tanto falar nos colegas, eu já os conheço pelos nomes e pelas características. Se me perguntarem que dia da semana eu mais gosto, responderei sem titubear: 5ª, 6ª, sábado e domingo. Nesses dias o pai dele, Rodrigo, trabalha na cidade de Tiradentes e ele (Bernardo) vem para nossa casa para nos alegrar, trazendo amor e felicidade. O nosso final da semana mudou muito, para melhor com a visita dele. A nossa sexta feira é diferenciada, é como ele diz “sextou” onde nos reunimos à noite para festejar. Particularmente a minha grande festa, a minha grande comemoração é a presença dele, que sempre dá pitacos no cardápio – lasanha, pizza, macarronada e panquecas.

Ele lê muito. Possui um rico vocabulário. Isso tudo gerou nele uma comunicação fácil, entendimento rápido, interpretações inteligíveis, gosto de escrever e até compor músicas. Em breve estaremos, eu e ele escrevendo um livro. Aguardem. No fundo de nossa casa, improvisamos um campinho de futebol todo demarcado por ele a giz. A gente joga, brinca, briga, ri, discute, se diverte e eu me encanto. A grande diferença desse campo está no comprimento dos dois gols. O dele mede 50cm de comprimento e o mesmo de altura. O meu mede 3 metros de comprimento e 2,5m de altura. Adivinha quem sempre ganha? As regras do  jogo são criadas e impostas por ele, que quando está perdendo, as modifica. Só ele tem esse direito (ditador).  Sei que estou errado, mas vibro com suas leis e regras. Bernardo é filho de músico e adora música. Na pandemia Bernardo se apresentou com o pai em algumas lives e ajudou o pai a arrecadar dinheiro.

No que tange a gostar e amar ele sempre diz: “Primeiro é o vovô Santana, depois vem meu pai, minha mãe e por último vem a vovó Catarina”. Na minha concepção, pelas atitudes penso que a graduação é a seguinte: Mamãe, Papai, Vovó Catarina e em último lugar o Vovô Santana. Sem acirrar competição ele discorda da minha classificação. Tento todos os dias convencê-lo a torcer pelo Fluminense, São Paulo e  a gostar dos Beatles e do 14 Bis. Bê é um roqueiro nato. No campo musical estou quase o convencendo, mas no tocante ao futebol está muito difícil.

Ele só dorme depois de ouvir uma história. Ama e sempre está pronto para ouvir as lições do Evangelho do Lar, depois, exaurido pela luta, adormece. Seus pais são exímios incentivadores à leitura. Ainda é muito cedo para vislumbrar sua futura profissão. A gente nem pensa nisso. Deixamos que ele viva intensamente o presente sem se importar com o futuro. Ele gosta muito de jogar futebol e de nadar. Pensávamos que ele pudesse seguir a profissão do pai, cantor, compositor e instrumentista. Nós o presenteamos com um pandeiro, uma corneta, um teclado, uma escaleta, uma gaita, uma guitarra e uma bateria. Ele optou pela guitarra e pela bateria. Ainda no campo artístico, ele foi presenteado com uma caixa de lápis de cera e algumas tintas. Baixou nele os espíritos do Picasso, Van Gogh, Salvador Dali, Leonardo da Vinci e ele produziu suas primeiras obras de arte em algumas paredes da casa, para ira da vovó Catarina que ficou uma fera.

Bernardo possui dezenas de livros arrumadinhos dentro de uma caixa, que são espalhados pelo chão quando ele vem à nossa casa. Ele adora ouvir as histórias narradas pelos pais e vovó. Pelo vovô, não. Eu dou vida aos personagens e isso parece assustá-lo. Bê é um falante contumaz, conversa o tempo todo, até dormindo. Pensei: ele vai ser político, aí pensei: político ele não vai ser. Por que político não?  A resposta é simples, ele tem pai, mãe, avô e avó para lhe educar, sabe ler, escrever, visa sempre o coletivo e sabe interpretar textos.

Essa é uma síntese do meu querido e amado neto Bernardo Santana Ferreira.

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