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Mãe, Avó e Bisavó que ultrapassa o século com Sabedoria e Fé

No início do século passado nasceu uma bebê clarinha, de olhos castanhos, e cabelo preto na Fazenda da Ilha. Esse lugar era lindo e muito movimentado, pertencia ao município de Tiradentes, uma das mais famosas cidades históricas de Minas Gerais.

O pai da bebê era muito conhecido na região, pois além de fazendeiro vendia cal, que foi utilizada em inúmeras Igrejas da região do Campo das Vertentes.  Além disso, saía pela região vendendo remédios que seu amigo e compadre Emídio fazia no Sítio do Bengo, município de São João Del-Rei.

Francisco Antunes de Cerqueira Primo, recebeu Primo no sobrenome, devido ter um primo com o mesmo nome; mas era conhecido por Chico Antunes.

A mãe da maravilhosa nenê era Waldemira Rosa Pinto da Silva, naquela época a esposa não adotava o nome do cônjuge.

Chico Antunes estava no segundo Matrimônio, no primeiro teve dez filhos. Neste Matrimônio, a menininha chegou em oitavo lugar.

Os pais escolheram o nome compatível com a formosura da menina: Cândida! A família continuava crescendo. Cândida nasceu em vinte de abril do ano de mil, novecentos e vinte três. Após onze meses nasceu Sebastiana em trinta de março do ano seguinte. Em seguida nasceram Alzira, Raimundo, Terezinha, Andrade e José Waldemiro.

Segundo Cândida, que hoje está com cento e um anos de idade, seu pai “tinha muito movimento e se enrolou em dívidas: adquiriu dois caminhões para transporte de produtos da fazenda e cal; construiu, com recurso próprio, um desvio férreo para o trem da Rede Oeste Minas transportar a cal para igrejas e residências da região, bem como outros produtos: queijo, cereais…

Waldemira, como a maioria das esposas daquele tempo não era ouvida pelo esposo. Chico Antunes acumulou dívidas e após longa “Demanda” recebeu Ordem de Despejo. A família sai em direção à Casa da Escola, uma pequena casa que Chico Antunes havia construído, carregando os pertences. Triste cena! A maioria desses não coube na minúscula residência.

Waldemira, chora muito, pois saiu de uma casa com todo conforto: água encanada, telefone, jardim, curral, forno, espaço amplo… Agora mora em uma pequenina casa, onde tinha que carregar água da bica para dentro de casa, tomar banho na bacia, desfazer de vários pertences da família, pois a nova residência era minúscula. Essa moradia ficava ao lado da Capela de Nossa Senhora da Conceição e do Cemitério na localidade Pitangueiras, perto da Fazenda. Ambos foram construídos em terreno doado pela avó paterna de Cândida sob a liderança de Chico Antunes. Grávida do 14º filho, Waldemira percebeu que aproximava a hora do parto. A tristeza continuava em seu semblante. Chamou as filhas maiores que estavam em casa, a mais velha havia casado com 16 anos e morava na Fazenda do Pinhão, município de Prados. Deu uma volta ao redor da Igreja, Cemitério e residência. Na conversa com as filhas, Cândida recorda de suas palavras: “Cuidem bem dos irmãozinhos menores, pois vocês já estão crescidas, meninas! Eu estou muito fraca, acho que não aguentarei o parto”. As filhas, abatidas também, consolaram a mãe dizendo que iria aguentar sim.

No mesmo dia, à noite, Waldemira começou a gemer com agudas dores. Não demorou muito e a Parteira anunciou o nome do caçula: José Waldemiro nasceu! O nome havia sido escolhido antes, seria Waldemira Rosa ou José Waldemiro. Antes que a alegria imperasse na casinha, Waldemira começa com dores incontroláveis e a parteira comunica ao senhor Chico Antunes. Esse acorda todos os filhos que dormiam e ao redor da cama, rezam e despedem da Mãe de 14 filhos. Aos três meses de idade morre José Waldemiro!

O pai resolve não contrair novo matrimônio nem entregar os filhos para adoção, embora tenha recebido inúmeros pedidos, principalmente dos padrinhos e madrinhas dos mesmos.

Cândida vai morar com sua madrinha Ana, filha do senhor Emídio do Bengo, em São João Del-Rei para estudar. Após ser examinada pela diretora Dona Celina Viegas – esta a matricula na 2ª série do Grupo Escolar “Aureliano Pimentel,” onde estudou até concluir a 4ª série e receber o Diploma Primário. Lá ajudava a madrinha nos afazes domésticos. A madrinha pede ao Senhor Chico para deixar Cândida ficar mais um ano para que fossem feitas costuras para suas cinco filhas e esposo, José Cândido da Silva.

A família do senhor Chico Antunes muda para Santos Dumont e Cândida vai de trenzinho para casa, localizada nos Pires. Logo é convidada pelos fazendeiros da época para lecionar para seus filhos. Naquele tempo, os pais esperavam os filhos crescerem, eram muitos, para mandá-los para a escola. Cândida recebia dos pais “uma Palmatória e uma Vara de Marmelo para corrigir os alunos levados. “Eu só usei a palmatória uma única vez”, afirma a professora centenária. Os alunos me tomavam bênção e me chamavam de Dona Cândida.” Durante o dia ela ia à cavalo arriado com Sião até a Escola, que ficava na mesma localidade: Pires. À noite, após um dia árduo de trabalho para todos, era o momento de Cândida alfabetizar os irmãos: Sebastiana, Alzira, Terezinha, Raimundo e Andrade.

O tempo passa, após ensinar tudo que sabia, inclusive aulas de Desenho, Música e Educação Física para os educandos, a jovem Cândida vai para a Fazenda do Manhanguá, Munícipio de Ibertioga. Era um Arraial que pertencia a Barbacena. Sua tarefa era auxiliar a amiga Jovinha, noiva do jovem Nestor, preparar o robusto enxoval para o casório.

Na Fazenda do Senhor João Neto e D. Jovem, pais da noiva e compadres de senhor Chico Antunes, a movimentação era intensa com os preparativos para o grande dia.

Nesses afazeres está um maravilhoso pintor que troca olhares com Cândida. Amor à primeira vista! Abílio e Cândida logo iniciaram um namoro que prosseguiu ao noivado e Matrimônio.

Em 05/07/1947 acontece o lindo casamento na localidade Pires. Havia caravanas de Ibertioga e de outros municípios para o evento. O padre foi celebrar o casamento no lar do Senhor Chico Antunes. Almoço, petiscos e show de Sanfona, viola, violão e cantoria duraram três dias. Não havia condições de acomodar todos os convidados, então dançavam, comiam e cochilavam sentados nos bancos da Barraca preparada com esmero.

Cândida foi convidada para continuar atuando como professora, mas Abílio não autorizou, achou que seria uma vergonha a sua esposa ter de trabalhar fora para ajudá-lo a manter o lar. Essa atitude era muito comum na época do Machismo, que ainda existe de forma velada até os dias atuais.

Cândida, que já sabia costurar e bordar muito bem – inclusive à máquina, investe na costura e bordado. Em pouco tempo torna-se famosa costureira em Ibertioga e região. Entre muitos clientes fez o Avental para Dr. Júlio Fagundes Vargas, um dos fundadores do Hospital Ibiapaba em Barbacena; na ocasião os médicos usavam aventais.

Confeccionou o Vestido de Noiva para Odília que se casou com Jerônimo, irmão de sua sogra D. Maria.

A vida de Cândida foi recheada de emoções:

– No dia em que completou 25 anos de idade tornou-se mãe de um lindo menino. Ganhou seu melhor presente de aniversário. Quando o filho estava com 6 anos, a família muda para a cidade de São João Del-Rei, onde Cândida ganha uma linda filha e dois filhos maravilhosos. A família estava completa.

Após o falecimento de seu sogro, senhor Marinho, Abílio fica muito abalado e resolve mudar para um pequeno sítio, distante 9 Km de Ibertioga. Em 1972, Abílio e Cândida sofrem uma dor incalculável com a morte do primeiro filho que estava com apenas vinte e quatro anos de idade.

A dor foi tão aguda que a família deixa tudo, vende o sítio e muda para Ibertioga e, em seguida para Barbacena, onde os três filhos estudam, se formam e aposentam. Dois como professores e um como militar.

Cândida sempre foi serena, calma, fervorosa, incapaz de pronunciar palavras de baixo calão e guardar ódio ou raiva de alguém. Dedica sua vida à família e, quando o ninho fica vazio se dedica a cuidar do esposo, que após sofrer AVC ficou 9 anos acamado e bem depressivo.

Em 2002, Abílio, seu amor, parte para junto de Deus e Cândida vai morar com sua filha, genro e netos. Novos desafios surgem em sua vida: sofre com várias enfermidades, cirurgias, perde o peso – chega pesar apenas 36 Kg. Muitos membros da família e amigos partem, principalmente na época da COVID 19.

Hoje ela praticamente não anda, mas alimenta com as próprias mãos, gosta muito de conversar, rezar, trabalhar, passear e receber visitas. Dos 23 irmãos que possuía conta apenas com a irmã Terezinha, que reside no Estado de São Paulo.

Essa é a história de uma Mãe, avó e bisavó amorosa, que vence com fé, esperança e amor os percalços da vida há 101 anos. Quem convive com ela rende graças a Deus por sua sabedoria, fé e alegria.

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Abracem suas mães, avós, bisavós e tetravós, bem como seus pais …Eles são enciclopédias incomparáveis!

Marina Lucia de Cerqueira Marinho Oliveira, sanjoanense de nascimento e barbacenense há 43 anos, ama ler e escrever. Autora de três livros, vários poemas e textos. É mestre da Educação, Psicopedagoga e Pedagoga. Atuou em todas etapas da Educação Básica, Ensino Superior e Pós-graduação. Casada com José Augusto, mãe de três filhos e avó. Felicidade envolve amor à vida, por isso ama a Cultura, principalmente a Literatura.

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