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Pauta em prosa, verso em trova (volume 94)

Por JGHeleno*

 

Vou focar mais uma vez um poema de Correia de Almeida. Mas quero um poema que fuja a seu rótulo de poeta satírico. Sim, de fato ele é um poeta satírico, e ele tem consciência disso. Um poeta que publica mais de vinte livros de poesia, certamente não se atém apenas a um gênero poético.  Vamos, pois,  ler o poema:

Soneto

 

Epígrafe: “Presunção e água benta cada um toma o quanto quer (Anexim)”

 

Sei que não sou poeta delicado,

sentimental, de estética e de amores,

aplaudido por dar o seu recado

redundante de tropos e de flores.

 

Sei que não sei fazer versos de eirado,

inefáveis delícias dos leitores,

sobretudo se é neles apurado

o gosto dos artísticos lavores.

 

Sei que, se o tenho, o mérito é somenos

e acima de mim vejo esses amenos

petrarcas de que a turba faz alarde.

 

Mas também sei, e isso é o que me anima,

que as verdades que digo em metro e rima

registradas estão para mais tarde

((ALMEIDA. José Joaquim Correia de. Puerilidades de um macróbio. Rio de Janeiro: Laemert. e C. Livreiros, 1898,  1).

Nas duas primeiras estrofes, C.A. diz o que ele não  é: não é um poeta delicado, sentimental ou lírico. Seus poemas não são atraentes por seus lances de puro-gosto e elaborações poéticas.

Nas duas últimas, ele diz que, apesar de todas essas “restrições”, ele reconhece em si algum mérito: o mérito da punição moral (própria da sátira), e o reconhecimento futuro de sua qualidade poética.

Ele deixa claro que a sátira é uma opção pessoal, não resultado de uma incapacidade de criar poemas de outros gêneros.

Há aqui também uma espécie de balanço de sua vida dedicada à literatura. Ele conclui que vale a pena. Pelo menos a imortalidade poética já lhe está garantida. “Isso é o que me anima”, pois seu reconhecimento terá continuidade mais tarde. Ele sabe que é sonetista, mas afirma que seu soneto não tem a envergadura de um poema de Petrarca, o poeta italiano criador do soneto no século XIV. A evocação desse nome, justaposto ao seu, não deixa de ser uma afirmação sutil segundo a qual, mesmo não sendo equiparável a Petrarca, ele não se julga um poeta desimportante.

 

 

Para terminar em trova:

 

Pra ser imortal poeta

Correia mira Petrarca

tendo-o sempre por meta

evitando a morte Parca. (JGHeleno)

 

 

 

.                                                                 * ABL, AJL, LEIAJF, UBPA, UBT

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