Por JGHeleno*
Quando fiz o poema UM HERÓI, eu estava tomado de intenso sentimento de saudade e tristeza pela perda de um ente querido. Eu queria expressar esse meu estado, mas não simplesmente pelo choro. Fui, então, buscar inspiração num poema que falasse poeticamente da perda pela morte. E o encontrei em Angelus Politianus (1454 e 1494 d. C), num poema cujo tema é a morte de Lourenço de Médicis (Anthologie de la poésie lyrique latine de la Renaissance. Paris: Gallimard, 2004, p. 87). Não fiz uma simples tradução (longe disso), nem resumo, nem interpretação. Não sei se é um grande poema, mas tenho certeza de que ele é original. Estou cumprindo o que prometi há uma semana no último PAUTA EM PROSA VRSO EM TROVA.
UM HERÓI
JGHeleno*
Viajante Inesperado,
não há quem sobre as faces
reponha a água que esses olhos choram,
e esgote a sua fonte.
Improvisado herói,
ninguém enxugará
tudo o que nos olhos dói
e o sofrer que o imo infesta.
Herói ausente,
para que à noite o silêncio chore,
de dia, o sabiá de setembro
module o canto que ficou de julho.
Recordado herói,
pássaro frágil capturado
em garras de rapina
que agora planta-dor
É como o “peixe-frito”
passarinho aos gritos pela noite insone
ante a companheira atropelada
chora seu par agonizante…
Solidão de dor! De abandono!
eis seu fã prostrado
por nocaute e quase louco
de um “cruzado” imprevisível.
Pequeno príncipe, precioso herói,
flutuante ave leve,
doce como a sede morta
suave penugem do pêssego
Infantil e passageiro herói
lúdica dança das folhas
da primavera a alegria farta,
viçosa flor deste jardim
Menino herói, o mais amável,
maleável, doce como a jataí
sacro olhar, nato da selva
viva imaculada fonte que não jorra
Predestinado e sublimado herói
cabelos tenros como os de Cupido
ou do Baco livre e tão juvenil
que se fez meu neto no amor profundo
Estimado herói na pressa da partida
a quem contemplar já não se pode,
pai maior inconsolável triste,
vago sozinho a imaginá-lo aqui.
Curumim, herói distante
para louvores ora sem ouvidos.
no abrigo das Ninfas e das Musas,
à sombra das imperdoáveis Parcas,
Calado infante, infante mouco,
nem suavemente soa sua voz
no dia mudo a que tudo cala
no dia surdo que é a tudo alheio
Como desviar das pálpebras a água
secar os olhos, engolir o canto
inusitar o pranto
esfacelar o desencanto? (JGHeleno)
Como tudo termina em trova:
Nato de mim, neo-herói,
quem, de sob a minha testa,
vai colher a água que sói
marcar a dor manifesta?
- ABL, AJL, UBT
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