Agroecologia em Barbacena: um passeio pela primeira agrofloresta da região

Plantação de agroecológicos da Fazenda Jacob, em Barbacena, completa três anos.

Fotos: Bianca Almada (@re_bobinando)

Texto: Fernando Neto

A um olhar desavisado, aquela poderia parecer uma plantação normal. Ou talvez uma plantação um pouco confusa demais, com árvores invasivas e plantas não cultivadas no meio do terreno. Um olhar mais atento, porém, é capaz de compreender o que faz dela uma plantação de alimentos tão importante na região.

Fomos recebidos na Fazenda Jacob por Irani, a proprietária das terras. Ela nos conta que o projeto de agroecologia foi idealizado por seu filho, Guilherme Sena, engenheiro ambiental. Após se formar, Guilherme decidiu usar as terras da família para plantar uma agrofloresta, que foi inaugurada no final de outubro de 2020. Desde então, a Fazenda Jacob se transformou na primeira produção de alimentos pelo sistema agroflorestal da cidade.

Hoje, em um pedaço de terra relativamente pequeno, são cultivados vários legumes, verduras e frutas, como couve, tomate, pimentão, brócolis, couve-flor, quiabo, repolho, beterraba, banana e maracujá, dentre outros. Tudo sem o uso de agrotóxicos ou fertilizantes químicos, utilizando as técnicas da agroecologia.

Um dos canteiros da fazenda

Agroecologia

O terreno é dividido em talhões, separados de acordo com o tipo de solo. Nos talhões, há canteiros com as hortaliças, intercalados com fileiras de árvores perenes. Mas nem as verduras cultivadas nem as espécies perenes são escolhidas por acaso: os vegetais são plantados no talhão com o tipo de solo mais adequado, e as árvores perenes são escolhidas entre aquelas que mais fornecem nutrientes para as espécies cultivadas.

O princípio que rege a agrofloresta é o mutualismo. As diversas espécies se complementam, produzindo nutrientes umas para as outras e mantendo o solo rico e saudável. Como nas florestas, a diversidade ecológica mantém a produtividade do solo.

Placa identificando um dos talhões

Quem explica as técnicas da agrofloresta é Bianca Almada, mestre em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). De acordo com ela, agrofloresta é um tipo de cultivo dentro da agroecologia. Como o próprio nome já diz, a agrofloresta usa as características da natureza a seu favor.

Ao contrário da monocultura, que planta apenas uma espécie em grandes áreas de terra, a agrofloresta aposta na diversidade de plantas. As árvores perenes, como bananeira, cedro, pêssego, aroeira, pimenteira e palmeira-juçara, fornecem nutrientes para as hortaliças e as protegem do sol.

Além da diversidade de plantas, há outras diferenças entre o sistema agroflorestal e outras plantações. Bianca enumera algumas: os produtos agroecológicos atendem preferencialmente o consumo local, enquanto outras plantações vendem seus produtos para longe, muitas vezes exportando-os para outros países. Além disso, a agroecologia tem a preocupação de gerar justiça social e ambiental. E, talvez a mais importante, a agroecologia não utiliza agrotóxicos ou fertilizantes químicos.

Couve-flor é um dos vegetais cultivados

Carlos, um dos funcionários da Fazenda Jacob, diz: “se as plantas estão bem cuidadas, não há praga. Se há praga, é porque as plantas não estão bem cuidadas”. Com as técnicas de cultivo, geralmente as plantas crescem fortes e resistentes a doenças, insetos ou ervas daninhas.

Para auxiliar na saúde das plantas, utiliza-se compostagem e um biofertilizante natural, produzido lá mesmo. Bianca diz que os materiais utilizados tanto na compostagem como no biofertilizante são os mesmos – esterco e restos de plantas, como mamona -, sendo a diferença apenas na técnica de produção. A matéria orgânica da compostagem e o biofertilizante fornecem nutrientes para as plantas e para o solo, como por exemplo o nitrogênio.

Tambor de biofertilizante

Enquanto caminhamos ao longo dos canteiros, Bianca vai explicando mais técnicas. De acordo com ela, para impedir a perda de umidade do solo, é colocado sobre o canteiro uma camada de matéria orgânica.

Para impedir insetos, planta-se ervas aromáticas entre os canteiros, como arruda, alecrim, manjericão e cravo de defunto. De tempos em tempos, é feita uma rotação de cultura, e sempre são plantadas sementes da época.

Canteiro coberto com matéria orgânica, para evitar a perda umidade

Para conseguir a certificação de produção agroecológica, são necessários alguns requisitos. De acordo com Bianca, é preciso que a produção agroecológica esteja a uma distância segura de uma plantação que utilize produtos químicos. Também é necessário que haja uma porcentagem de vegetação preservada, além de 10 metros de matas ciliares intactas. Tudo isso assegura que os produtos agroecológicos sejam, além de saudáveis para quem os consome, saudáveis para a natureza ao redor.

O início do projeto

Guilherme Sena, idealizador do projeto, diz que tudo começou com um sonho. Ele sempre teve vontade de trabalhar com desenvolvimento sustentável, mas nem sempre soube de que forma. Foi após se formar no curso de Engenharia Ambiental que ele decidiu o que fazer: “eu conheci a permacultura, a agroecologia e a agricultura regenerativa, e entendi que isso era o que eu queria fazer. Eu também pensei que eu não conseguiria fazer isso em lugar nenhum se eu não começasse na minha própria fazenda, nas minhas próprias terras, de onde eu vim”, diz ele.

“O meu intuito com esse projeto não era só começar a trabalhar com agricultura, era começar a regenerar o solo da minha fazenda e mostrar para as pessoas da nossa região que é possível cultivar alimentos de uma maneira alternativa, que vá de acordo com os princípios da natureza”, continua Guilherme.

A diversidade de espécies da fazenda

De acordo com ele, a Fazenda Jacob está de portas abertas para quem quiser comprar os produtos ou conhecer a agroecologia: “o meu objetivo é abrir a porteira pro pessoal vir conhecer, que a gente ajude outras pessoas a implementar a agrofloresta, que a gente inspire outras pessoas a consumir orgânicos. Então eu diria que a maneira mais legal de comprar nossos produtos é vindo na fazenda”, ele conclui.

A Fazenda Jacob possui parceria com a Casa da Ciência e da Cultura, que realiza passeios educativos na propriedade. Quem quiser comprar os produtos da Fazenda, pode encontrá-los na Feira da Seapa (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento), que acontece às sextas-feiras, na Praça dos Andradas, no Centro de Barbacena. Lá, é possível adquirir tanto os produtos in natura, quanto fubá, geleias, molhos e compotas produzidos por Irani.

Canteiros intercalados com espécies perenes

Mais informações sobre a fazenda, entrar em contato pelo perfil no Instagram @organicosfazendajacob.

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