Faz algum tempo que o Halloween é comemorado no Brasil, embora não seja uma festa ligada às tradições nativas. É sempre divertido ver a criançada transformada em bruxas, magos, monstrinhos e diabinhos, pedindo doces sob uma inocente ameaça de travessuras.
Sempre entrego os doces que tenho.
Acho essas bruxinhas e esses diabinhos muito fofinhos, especialmente quando são miúdos de 3 a 6 anos.
Certa vez, um bando deles me pegou desprevenido, sem doces. Tive de aceitar a alternativa da travessura, que só constatei no dia seguinte quando vi minha soleira cheia de talco.
Quem me dera se toda travessura fosse essa. As piores são as dos adultos.
Há os que reclamam que a festa da bruxaria é uma imitação das tradições estadunidenses. Eu não sou tão ranzinza.
Na verdade, é uma festa antiga, difundida, justiça seja feita, pelos norte-americanos em filmes e desenhos, mas isso vem de longe.
O Halloween, corruptela de hallow (santificados) e eve (véspera), é uma comemoração que agrega tradições celtas do dia de todos os santos – véspera do dia dos mortos – e outros elementos.
Na Europa da Idade Média, o Dia de Finados era comemorado pelas crianças, que pediam o bolo das almas de casa em casa e ofereciam, em troca, orações pelas almas dos parentes falecidos dos doadores. Com o tempo, o bolo foi substituído por doces e as orações por travessuras.
Vamos conhecer um pouco dessa história.
No começo da Idade Moderna, na Inglaterra, a religião católica já não era bem-vinda e o rei Jorge I, protestante, perseguia implacavelmente os fiéis. Eram prisões, multas, suspensão de direitos e até pena de morte.
Tamanha persecução fez alguns católicos planejarem um atentado contra Jorge I e o parlamento, a Conspiração da Pólvora, que deu errado, pois os ingleses prenderam e enforcaram, em 5 de novembro de 1605, o soldado inglês católico, Guy Fawkes, por ter pólvora estocada em casa.
A data da prisão de Fawkes passou a ser comemorada na Inglaterra, quando protestantes mascarados visitavam as casas dos católicos e exigiam cerveja, doces e bolos sob ameaça de travessuras.
Os colonos ingleses levaram esse costume para os Estados Unidos e anteciparam a data de 5 de novembro para 31 de outubro, coincidindo com as comemorações do dia de todos os santos e véspera de finados, o Halloween, que já havia sido levado pelos colonos da Irlanda.
Hoje a festa tem a indefectível presença do Jack O’ Lantern (a abóbora iluminada com cara de monstro) e as ameaças de travessuras feitas por crianças fantasiadas em busca de doces. A comemoração mistura, então, tradições célticas e celebrações inglesas. E talvez outras mais. Com a palavra, os historiadores.
A meninada brasileira acaba levando vantagem nisso tudo. É porque temos, há séculos, a tradição de distribuição de doces do dia de São Cosme e São Damião, em 27 de Setembro (ou 26, conforme a instituição).
Essa é outra história incrível, que merece um artigo inteiro.
Os dois irmãos gêmeos, provavelmente nascidos no ano 300 depois de Cristo, eram médicos e nada cobravam por seus serviços, aos quais acrescentavam orações e milagres. Em muitos países e igrejas os dois são comemorados em datas diferentes.
No Brasil, a riqueza do sincretismo com as religiões de matriz africana fez dessa data uma verdadeira festa de crianças pelas ruas em busca de balas e doces, distribuídas por católicos e adeptos do candomblé e da umbanda, uns pagando promessas, outros apenas celebrando.
E assim passamos os meses de setembro e outubro, que levaram consigo o dia de Cosme e Damião, o Dia das Crianças, da Padroeira e o Dia das Bruxas. Ano que vem tem mais, espero.
Torço para que a sanidade retorne às mentes e aos corações dos dirigentes israelenses, palestinos, russos, ucranianos e de todos os governos em guerra, para que suas crianças, afastadas pelos muros da intolerância e pelos foguetes do ódio, possam manifestar-se em sua plenitude, lambuzando-se de doces, chocolates e sorvetes, mas em paz.
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