Por Doutor Delton Mendes Francelino, Diretor da Casa da Ciência e da Cultura de Barbacena, Coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana do IFET, Campus Barbacena, Diretor do Instituto Curupira e autor de livros. Instagram (@delton.mendes)
Muitas pessoas já tiveram contato com o conceito “Ciência”, mas, grande maioria da população não sabe o que realmente é o conhecimento científico e como é desenvolvido. A base da Ciência são as perguntas calcadas na busca/construção de respostas baseadas em evidências, a partir de métodos claros, bem estabelecidos e testáveis/falseáveis. Justamente, por estas características, a sociedade contemporânea consegue desfrutar de milhões de “coisas” positivas advindas da Ciência, como as tecnologias, tratamento de doenças e as próprias vacinas, exploração espacial e a lista só aumentaria se eu focasse nisso, neste artigo.
Todavia, meu objetivo com vocês, leitores, hoje, é mostrar como educar para a Ciência, e com a Ciência, pode mudar vidas, no sentido, sobretudo, da construção do senso crítico. Atualmente, um dos temas mais debatidos no mundo são as Fake News, informações falsas propagadas via internet e outros meios. Como saber o que é notícia falsa, e o que não é? Quem passa por processos de educação científica naturalmente é “treinado” para duvidar, questionar, a partir de elementos simples, como: de onde vem esta informação? Quem a escreveu, ou gerou, e com qual objetivo? Quem compartilhou comigo? Como verificar se esta notícia é verdadeira?
A Ciência tem como “grande ponto forte” os métodos para busca de respostas. Não podemos, como cientistas, usar afirmações como: “eu acho que as mudanças climáticas são isso, ou aquilo”. Devemos nos pautar nas evidências do que os dados nos mostram; do que os resultados dos métodos nos permitem inferir. Exatamente por isso vocês não verão qualquer cientista ético, e de credibilidade, dizer que sabe de todas as respostas sobre o Universo, que o Big Bang é certeza absoluta e sabemos tudo sobre ele, ou, ainda, que temos conhecimento sobre tudo o que se relaciona à natureza, biodiversidade, ecologia, sociologia terrestres.
A educação científica nada mais é que educar as pessoas, desde crianças, até adultos, a inserirem o modo de compreensão do mundo da Ciência no seu dia a dia. Opinarem apenas após ouvirem as versões diferentes de uma história, ou de um acontecimento. Não repassarem informações “para frente” sem antes checarem a veridicidade delas. Terem responsabilidade para com as outras pessoas, seus sentimentos e suas percepções de mundo. Respeitarem com ética os mais diversos debates, emitindo opinião com embasamento, e não meramente a partir daquilo que “acham correto”. Outro exemplo bem típico de pessoas com arrogância é; “esta é minha opinião é ninguém a mudará”. Para quem trabalha com Ciência, frases assim não são nem um pouco positivas, uma vez que a Ciência nos permite sempre melhorar modelos, inferências, percepções, a partir de novas evidências e modelos melhores. Logo, aquela pessoa que diz que sua opinião, mesmo não fundamentada, é melhor que a do outro, deveria passar por processos de educação científica.
Como eu disse no começo deste texto, poderia ficar aqui falando por horas sobre aspectos positivos da Educação Científica; entretanto, preciso ser breve. Por fim, então, cabe destacar que, embora as escolas devessem ser âmbitos de defesa da Ciência (e ensino desta), muitas vezes noto que isso não acontece. Nesses ambientes, devemos estimular a curiosidade, a busca por respostas, a construção de métodos de entendimento, ou busca pelo entendimento, do mundo. Se ensinamos nossos estudantes a apenas decorarem fórmulas, normas gramaticais, a fazerem “provas” de múltipla escolha nas quais sequer é possível saber o que pensam sobre aquele conteúdo, o que de fato estamos lhes oferecendo em termos de prática, de aplicabilidade do que aprendem? Ou ainda: será que de fato estão aprendendo algo desta maneira? Precisamos mudar os sistemas de ensino, favorecendo com que os estudantes sejam protagonistas em seus processos de aprendizagem e, assim, no futuro, sejam sujeitos críticos, conscientes de suas vidas, e atuantes nas tomadas de decisão de suas cidades, estados e países.
Como diria Carl Sagan, existem muitos “dragões nas garagens” por aí. Fantasias, arrogância, mitos, falsas ciências criadas para manipular as pessoas, charlatanismo, formas de ver o mundo nada éticas e que não contribuem para uma sociedade mais justa e equitativa. O papel do educar para a Ciência reside em estimular a construção do conhecimento a partir de algo muito simples, e que mudou nossa história: permitir questionar e gerar afetos a partir do maravilhamento pela, e com, a busca por respostas daquilo que nos move e nos instiga.
Apoio divulgação científica: Samara Autopeças, Jornal Barbacena Online e SEAM – Serviços Ambientais.
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