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Flores amarelas

A escritora barbacenense Susana Furtado

Uma cena linda tem contrastado as manhãs congestionadas e agitadas de quem passa pelas proximidades do Colégio Sesi, no bairro do Carmo, em Barbacena. Em meio aos galhos ressecados, despidos pelos restos do outono, de uma árvore que parece centenária, brotam cachos deslumbrantes de flores amarelas, como uma cachoeira invadindo a paisagem e obrigando, até os mais céticos e apressados, a vislumbrarem o vigor da natureza.

Para onde estamos caminhando? Essa pergunta vem me consumindo há algum tempo, consideravelmente nesse período pós-pandêmico. Há tanta beleza na vida, mas a artificialidade dos meios que temos escolhido afasta da percepção o que consiste na razão própria de ser da humanidade: o apuro dos sentidos. Não é possível que depois de tanta indireta do planeta ainda insistimos em acreditar que existe, de fato, alguma forma tão efetiva de poder que não seja à da Grande Mãe, e ela anda dando recados incisivos de que a convivência, para que permaneça, há de ser sustentável e harmônica.

Às vezes sinto que estamos passando por um luto desconhecido, um sentimento novo de uma geração seccionada por várias revoluções importantes, dentre elas, as consequências psíquicas de uma pandemia. É como se, parafraseando o poeta, soubéssemos que alguma coisa aconteceu, está tudo assim, tão diferente, mas não conseguimos detectar com precisão o problema. E nessa medida, quando pensávamos que a aceleração iria diminuir diante do “novo normal” instalado, eis que presenciamos o inverso, atropelando perdas inestimáveis, seguimos na imprescindibilidade do fútil, porém, muito mais frágeis, com o emocional destruído pelo medo, impotência e, pela saudade.

A chama da vida tem que encantar, despertar os sentidos, estimular a paixão, a vontade de seguir em frente, assim como o cacho de flores amarelas que, mesmo diante das intempéries dos galhos de uma velha árvore vizinha, resiste em dar o seu belo espetáculo, simplesmente porque acredita que valha a pena. Há sempre uma nova emoção a despertar, nada permanece, somos feitos de outonos e primaveras, se observássemos mais o que as flores têm a nos ensinar a respeito, procuraríamos menos motivos e mais entendimentos.

Porém, não é transformando a natureza para a qual fomos inventados, criando mecanismos artificiais em busca de justificativas egocêntricas para otimizar lucros, conquistas e objetivos estritamente materiais, dissociados dos sentimentos autênticos que nos move, que iremos aproximar o tão almejado e deliberadamente utópico ideal de felicidade.

Muito oportuno mais esse recado das flores em um mês consolidado como: “Setembro Amarelo”, em atenção à preservação da vida. Todo o esforço em produzirmos cada vez mais e, paradoxalmente, cuidarmos cada vez menos do que nos faz verdadeiramente humanos, precisa ser revisto. É tempo de acolher os sentimentos, repensar os passos, deixar um pouco de lado o excesso do que recebemos já embrulhado em tanta tecnologia para buscar, nas profundezas de onde existimos, aquilo que torna cada dia uma incrível oportunidade de encantamento com as coisas mais simples e belas da vida e que não custam absolutamente nada, a não ser um olhar cuidadoso e emocionado.

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