Por Débora Ireno Dias
Falta-me o ar, faltam-me palavras, falta-me a consciência.
Excede-me a indignação, a dor, a raiva que preciso controlar em meu pulso e transformar em impulso para dar um passo à frente e sair do meu comodismo, do meu lugar e me juntar àquele que sofre.
Falta-me o ar diante da janela da TV, da Internet, das redes sociais, da minha casa: o que vejo são cenas de algum lugar do passado onde não havia moralidade, nem ética, nem regras nem lei, nem respeito. Ledo engano! Este lugar ainda existe e está aqui, neste mesmo chão que piso. Este lugar ainda existe, mesmo que tenhamos leis, regras, regulamentos, valores! Ah, estes valores! O que temos ensinado nas escolas, em casa, nos cultos e missas?! O que temos levado de casa, da escola, dos cultos e missas?! O que temos sido e construído? O que deveríamos destruir é o racismo, o preconceito, o “sou melhor”, a supremacia racial. O que vemos ser destruído a cada dia é a sensação de liberdade, de direitos para todos, de acesso às políticas públicas para todos.
Falta-me o ar! E sobra um grito preso aqui dentro. Uma dor que me consome e me faz pensar, melhor, questionar: “o que somos”? Não posso chamar de Humanos, porque não consigo pensar que humanos se destroem pelo simples fato de sermos de “cor diferente”. Não me entra na cabeça, muito menos no coração, que ainda, em pleno século XXI, com tanta tecnologia e tanto avanço da medicina e demais ciências, ainda não evoluímos na forma de ser, fazer, sentir e, principalmente, conviver! Não podemos ser humanos! Há ainda muito por se evoluir! Nada adianta as vacinas chegarem – sim, ainda temos uma pandemia nos assolando – se não aprendermos a conviver, a respeitar, a acolher uns aos outros, principalmente, aqueles que sofrem discriminação racial.
Vidas Negras importam! Vozes Negras importam! Sentimentos dos Povos Negros importam! A Cultura Negra, toda a sua influência, as religiões de matriz africana, tudo importa! E enquanto não aprendermos a dar valor a toda esta questão, a tudo o que envolve o Negro e suas questões, sua vida, enquanto não aprendermos que esta luta é de todos que desejam um Mundo melhor, a partir da minha Comunidade, não seremos capazes de entender nossa própria história!