Na sala de espera – parte 2

Por Débora Ireno Dias

Sala de espera de consultório médico é sempre a mesma coisa: pessoas mexendo nos seus celulares, a TV ligada em algum programa que, às vezes, suscita comentário aleatório, cumprimentos educados, alguma criança chorando ou bagunçando (e isso quebra um pouco da monotonia e da ansiedade causada pela espera), raramente se vê alguém lendo uma revista ou livro (algo que era tão comum antes dos smartphones). Porém, numa tarde qualquer de inverno – naquelas tardes que fizeram jus à estação do ano em que nos encontramos – algo quebrou o nosso silêncio e frieza. 

Éramos alguns poucos pacientes naquela sala. A Secretaria fazia seu papel com cordialidade e mantinha o ambiente alegre. Na verdade, um ambiente bem alegre, onde todos conversávamos e trocávamos ideias sobre COVID, receitas culinárias, cirurgias de adenóide e afins. Enfim, um ambiente um pouco mais descontraído do que se vê normalmente. Até que chegou uma Paciente, ansiosa demais, ofegante demais, segurando o que parecia ser sua Vida em suas mãos – o papel de um exame laboratorial. Não teve como passar despercebido seu comportamento, que foi seguido por um silêncio de todos que ali estávamos. 

A Secretaria foi até o Médico, levando aquele papel. Ainda não tínhamos percebido o que estava acontecendo, apenas nos silenciamos. A Paciente, sentada, olhos claros e assustados, esperando. Todos esperamos! A Secretaria voltou, e por trás da máscara e óculos de proteção, podemos ver seu sorriso e suas palavras caíram como um afago sobre aquela Paciente: “Está tudo bem, não tem nada a temer, pois o resultado está ótimo!”. A Paciente, em prantos, só agradecia a Deus, agradecia ao Médico. Chorava e sorria, num sentimento de alívio e gratidão. Novamente, pegava aquele papel, mas agora aliviada por saber que terá novas chances de Vida. Impossível não nos sentirmos parte daquele momento. Chorei, outros também se emocionaram. “Não sei do que se trata, mas vejo que algo muito bom aconteceu, e fico feliz com você!” – eu disse. “Deus é muito bom!” – disse outra Paciente. 

A Senhora Paciente, de olhos claros e assustados, foi embora, radiante com a Vida, com as possibilidades e oportunidades. Ficamos ali na sala, à espera da consulta, cada um esboçando um sorriso cúmplice. Em tempos de tantas dores e incertezas, uma boa notícia alheia fez bem à alma e, certamente, aqueceu nosso coração naquela tarde fria de inverno. Os olhos claros daquela Paciente clarearam aquela sala. A Vida! Há Vida!

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