Sim, eu conheço um mundo cor-de-rosa! Pode ser que você o conheça também, mas em outras cores. Pode causar um espanto naqueles que se denominam “normais”, os que gostam de insistir na ideia que as cores são perigosas para a ordem monocromática social, mas como posso falar do meu mundo cor-de-rosa para aqueles que perderam a batalha contra o descolorir? Sem querer ser intolerante, mas não falamos o mesmo idioma que eles. Deixemos de lado minha completa inaptidão para dialogar com essa espécie, voltemos ao assunto: SIM, ELE EXISTE. No íntimo de cada um, uma cor se desponta num horizontal degradê que se estende como pando de fundo da experiência individual. Um universo para se chamar de céu, um céu para pedir afago, um afago para chamar de seu. Apesar do conforto, sempre me pego fugindo da ousadia de juntar as malas e morar definitivamente nele.
Eu, vislumbrado tal como Américo Vespúcio, até cogitaria mandar notícias e detalhes sobre esse meu novo mundo para que meus amigos e familiares venham compartilhar do meu Éden. Mas quem sou eu? Moisés? Guiarei meu povo para um lugar apartado do mal e da injustiça? Sou um homem nos olhos de um menino demasiadamente sonhador que sabe a existência das cores de cada um! Talvez seus eclipses sejam em outros tons que não o rosa.
Entretanto, uma coisa eu asseguro: O mundo individual de cada um parece buscar outras tendências ao invés do fracassado desbotar das ideia que rege modernamente nossas paletas. Por isso, sou um hóspede não muito usual de mundo rosado. Sempre nos ensinaram a temê-lo, se os números provam a lucratividade coercitiva do descolorir… por quê contestar? Costumo visitá-lo quando preciso de um abraço, sentir aconchego ou ter meu próprio espaço, mas algo sempre. Quando eu o visito eu acordo antes do sol nascer, arrumo minha bagunça, recuso educadamente um café – ou cigarro – e faço, sem jeito, o ritual de despedida. Meu horizonte rosado me questiona:
– Você já vai? Ficou tão pouco tempo! Fique até o nascer do sol – insiste o inocente horizonte.
– Infelizmente tenho afazeres no mundo caótico, – tento inventar uma desculpa – semana que vem eu volto.
Então, o rosa é substituído pelo cinza da poluição e do medo, e eu volto para o mundo “normal”. A gente não se questiona muito o porquê, mas voltamos. Onde terceirizamos abraços, matamos por espaço, não queremos acordar, não arrumamos nossa bagunça, brigamos por café e viciamos em cigarro.
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