O lugar mais seguro e confortável que sentimos, seja ele qual for, é o lugar onde moramos. Nossa morada! A palavra por si só nos remete à muralha: proteção, fortaleza, abrigo contra perigos e intempéries.
Morada nos reporta à casa. Casa de família. Seja a família que for conforme o novo conceito pós-moderno.
Nossa casa de família nos faz lembrar LAR. Palavra latina, cuja etimologia é “ …vem do nome dado aos deuses romanos protetores de um domicílio, os LARES, que se relacionavam ao local onde era aceso o fogo para cozinhar e aquecer… A palavra “lar” em nosso idioma ainda se usa para “local onde se acende o fogo numa casa”, mas sendo substituída por “lareira””*. Deve ser por isto que o lugar mais aconchegante para uma conversa ou “os causos” com familiares, amigos e visitas íntimas seja a cozinha – os não tão íntimos não passam da sala de visita.
O lar… A família pode ser um grupo de amigos… Amigos que se reúnem para expressar a arte que lhes são intrínseca: o Teatro, que representando, mostra, como em lupa em sua lente de aumento, o social. E foi assim que AFOITA, grupo de teatro, presenteou Barbacena no Espaço Rotunda com seu espetáculo “MORADA”.
A representação não ocorreu sobre o palco, mas na área da plateia que ocupava as laterais. O centro, espaço espetacular, trazia como cenário a cozinha do domicílio de qualquer um que se via representado. Era o lar de toda morada nossa. Os personagens eram figuras paternas, maternas e filiais – arquétipos e máscaras de qualquer família. Os atores, por isto, não tinham “papéis” definidos. Ocasionalmente os figurinos determinavam as “personas” que atuavam. A roupa ou a seminudez eram as máscaras usadas no teatro. O histórico heleno dialogou com o contemporâneo.
Luz. Som. Objetos. Tudo isto completava a narrativa sinuosa (não linear) encenada: história de pais, filhos e mães. Eram evidentes as angústias femininas diante do machismo opressor. Queriam, enquanto grupo, afoitar impondo o femismo** pós-moderno? O crítico faz a provocação.
Os preâmbulos da narrativa inicia-se com a produção de uma receita de bolo – quer cena mais familiar e intimista que esta atitude carrega em si?!
Os entremeios prosseguem com a autoridade paterna se fazendo e sendo questionada. Brincadeiras infantis aparecem entre irmãos. Jogos sexuais ilustram a intimidade do casal. Brigas e desencontros marcam os amores e os interesses sexuais. Tudo aquilo que é cotidiano debaixo de um teto que abriga a MORADA de toda gente.
E finalmente a plateia é convidada para tomar o café coado naquela cozinha que é de todos e comer os pedaços de bolo que assou no forno enquanto as contracenas aconteciam.
O espetáculo foi trazido para o público e para os discentes dos Cursos Preparatórios de Ator do Espaço Rotunda. Foi iniciativa do professor atuante neste espaço com o objetivo de demonstrar o Processo Colaborativo de fazer teatro nos dias atuais.
Parabenizamos o Espaço Rotunda com os seus sujeitos, o grupo Afoita e o público que assistiu ao espetáculo prestigiando esta arte.
Barbacena agradece por esta iluminação e inovação cultural.
*http://origemdapalavra.com.br/pergunta/lar/
**”Ideologia que busca a inversão da lógica do patriarcado, almejando construir uma sociedade matriarcal, em que o poder é exercido somente por mulheres… Não confundir com o feminismo, com a doutrina que busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres. https://www.dicio.com.br/femismo/
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 17/04/2018
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L.L..
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NOTA DA REDAÇÃO: Leonardo Lisbôa é professor da rede pública de ensino de Minas Gerais. Fez sua especialização em História na UFJF e seu mestrado em psicopedagogia na Universidade de Havana, Cuba. Publica textos também no sítio www.recantodasletras.com.br onde mantém duas escrivaninhas (Perfis): o primeiro utilizando o próprio nome ‘Leonardo Lisbôa’ e o segundo o de ‘Poesia na Adega’. Registro no CNPq: http://lattes.cnpq.br/0006521238764228