Meus vizinhos, minha extensão familiar

A crônica de Francisco de Santana

– Amigo Santana, eu vou lhe contar algumas histórias e gostaria que você as transformassem em crônica. Pode ser? Minha filha se casou com um Magistrado, que presta serviços na cidade de São Paulo. Estive lá para conhecer sua nova residência e retornei não acreditando no que vi. Eles residem num condomínio que, pela estrutura, parece uma cidade. A segurança é total e isso porque habitam lá muitas autoridades municipais.  O controle dos visitantes é rigorosíssimo.

O prédio é imenso e perdi as contas de quantos andares e apartamentos. Fiquei lá por vinte e um dias só observando e a cada dia conhecia algo inusitado. A área de lazer é um espetáculo à parte. Lá tem: duas piscinas cobertas com água aquecida, duas quadras de futsal, vôlei e basquete.  Dois campos de futebol com grama sintética, sauna e sala de jogos. No próximo mês inaugurarão uma quadra de tênis de grama. Há um mini supermercado, uma mini padaria, uma mini farmácia, um mini açougue, todos terceirizados. Tem também, uma agência bancaria, uma central dos correios, uma academia de ginástica com atividades de musculação, com espaço para yoga, pilates, defesa pessoal, dança do ventre, dança de salão, balé, alongamento e outros. Os professores são contratados pelo condomínio. Há um salão de beleza, um mini salão de convenções que promove festas nos dias dos pais, mães, crianças, natal e juninas. Palestrantes visitam o espaço para falar de assuntos diversos como doenças, vacinações, artes, psicologia, segurança pessoal e familiar. A palestra que mais chamou a atenção dos moradores neste ano foi a sobre crianças – cuidados, segurança e saúde.  Professores de idiomas dão cursos para grupos interessados.

A segurança é prioridade máxima do condomínio que utiliza acessórios que protegem os patrimônios e os moradores. Modernidade e riqueza de detalhes. Cachorros e gatos levam uma vida de rei. Tem um pet shopping e um hotelzinho para caso de enfermidade e hospedagem para quando algum morador viajar.

– Eu conheço cidades que não possuem a estrutura desse condomínio.

– Sim, Santana! Verdade. Infelizmente, com toda essa estrutura, falta o essencial: calor humano, interação entre os moradores. Ninguém conhece ninguém. Usamos o elevador que estava lotado e quando entrei falei bem alto: BOA TARDE! Apenas um ou dois cabisbaixos, responderam. Muitos paravam nos andares e não se despediram. Não há aquilo que chamamos de olho no olho. Minha filha não sabe o nome dos seus vizinhos e nem suas profissões. Ela me disse que isso é normal, cada um cuida da sua vida. Não gostei!

Eu a aconselhei que tentasse modificar a comunicação social de lá. Que começasse com uma visita aos seus vizinhos, se apresentasse e se colocando ao dispor deles. Talvez esse gesto se propagasse e o ambiente se tornasse mais amigo, fraterno e solidário. Conheço o talento e o poder de persuasão da minha filha principalmente, no quesito comunicação. Pedi a ela também que implantasse a ideia de vários meios de comunicações virtuais. Afinal, ter um bom relacionamento com os vizinhos é um sistema de ganhos, no qual todos os lados da relação se beneficiam, economizando dinheiro, construindo amizades e promovendo soluções para o bem geral dos condôminos.

– Acredito que você tenha estranhado o ambiente porque se acostumou morando em casas do interior de Minas, onde a amizade era sagrada. A gente pedia, sem cerimônias, emprestado aos vizinhos um ovo, uma caixa de fósforos, uma xícara de café e muitas outras coisas para pagar depois. Os vizinhos eram uma extensão de nossas casas. Ainda me lembro com carinho e saudades dos casais: Sr. Abílio Ladeira/Dona Carminha; Sr. Tonico/Dona Maria doceira; Sr. Luizito Discacciati/Dona Regina e Sr. Henrique Rossi/Dona Florinda. Todos falecidos, mas deixaram o legado de hombridade e caráter para seus filhos.

– Santana, você saberá colocar no papel esses casos que lhe contei. Tenho certeza que seus leitores opinarão e enriquecerão a sua crônica. Obrigado por me ouvir.

(Fonte:blog/myvillage).

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