Gotas que salvam vidas

A crônica de Francisco Santana

Meu querido amigo escritor Henrique Sergio Discacciati, as ondas podem ser vermelhas, amarelas, verdes, roxas, mas a cor que prevalece em Barbacena é a preta por simbolizar a morte, isolamento, medo e solidão. Em todos os bairros, o coronavírus espreita os moradores para infestá-los e até matá-los. A cor preta, meu amigo, também simboliza o respeito e o que se vê aqui é o contrário. O desrespeito campeia nossa cidade numa total falta de humanidade, amor próprio, amor à vida e de empatia. 

Você já percebeu como a nossa trajetória nesse planeta é regida por números? Data de nascimento, registro civil, CPF, CGC, senhas bancárias, virtuais, número da casa, do apartamento, CEP e temos ainda as datas de casamento, nascimento próprio, da esposa, filhos, familiares, marcos importantes da história do Brasil, do mundo e de muitas outras que aparecem no decorrer do nosso dia a dia. Vou lhe dar um exemplo, a data de 30.03.21 entrou na minha vida fazendo parte dela. Foi nesse dia que recebi a primeira dose da vacina contra a Covid-19 do Laboratório Butantan. 

Passei intermináveis 3h15 numa fila de centenas de carros sob um sol escaldante até chegar a minha vez para receber o líquido milagroso que vai me imunizar contra a ação do vírus mortal. Confesso que fui dominado pela ansiedade, estresse e reclamações da lentidão dos trabalhos. O meu propósito era o de não me esquecer de vigiar a enfermeira sobre os procedimentos da vacinação. Nada disso aconteceu porque a emoção me dominou. Quando me dei conta do propósito inicial, ela já estava aplicando a vacina e dando explicações sobre o procedimento. Por instantes parei de pensar para refletir na falta de vacina, na irresponsabilidade humana, na política sórdida que deixou o Brasil chegar a esse ponto, nas mentiras ditas pelo Poder Executivo, na falta de oxigênio, materiais para entubar pacientes, vagas hospitalares, nas UTIs, logística, atrasos nos serviços e nas milhares de mortes advindas dessas irresponsabilidades. Quanta desumanidade em nome do poder e do ego dominador. 

Amigo Henrique, minhas reclamações cederam lugar a sorrisos depois de conversar com meu neto Bernardo, 4 anos. Ressabiado, ele me abraçou, beijou e quis ver a marca da picada e do algodão utilizado pela enfermeira. Saciei sua curiosidade. Ele quis saber o porquê de sua mãe, seu pai e ele não serem vacinados comigo. Para encurtar a conversa, eu lhe disse que a prioridade é vacinar os idosos. Ele arregalou seus enormes olhos pretos e disse: “Vovô Santana, eu sei que não vou ser vacinado agora, porque eu ainda sou uma criança. A gente nasce bebê, vira criança, adolescente, jovem, adulto, idoso e depois vira estrelinha” Com voz triste, ele continuou: “Vovô, eu não quero que você vire uma estrelinha, eu quero que você fique comigo para brincarmos juntos, isso porque eu gosto muito de você” A frase me encantou. 

Amigo Henrique Sérgio Discacciati, estou lhe escrevendo essa mensagem no dia 07 de abril, data em que comemoramos o “Dia Mundial da Saúde”. Eu lhe pergunto: devemos comemorar ou lastimar?                                          

Saúde!

   Sabedoria! Segurança!

Gotas

Gotas de orvalho que inspiram os poetas,

De chuvas que engravidam a terra,

Lágrimas pelo desconhecido, conhecido, parentes e amigos

Que se foram para o Oriente Eterno.

Gotas de sangue, que salvam vidas,

De álcool que imunizam, embriagam e viciam

 De fragrâncias que purificam, apaixonam 

Gotas de vacinas 

Que preservam vidas de esperanças também

De suor dos profissionais da saúde 

Para salvar o semelhante

Gotas de amor, sensibilidade e de esperanças por dias melhores. 

Gotas de felicidades pela vida. 

Gotas de Você 

(Francisco de Santana)

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