Gostoooooo…

A crônica de Francisco de Santana

Quando se diz: “assédio”, qual é a primeira imagem que lhe vem à cabeça?  Muitos pensam em um desconhecido importunar uma mulher com palavrões e gestos. Na vida das mulheres isso é uma prática comum e diária. Homem não pode ver uma mulher que logo quer se engraçar para chamar sua atenção. O assédio se compreende como uma “série de comportamentos que incomodam, importunam, humilham ou perseguem uma pessoa ou grupo específico. Ele pode se manifestar de muitas formas, algumas mais explícitas e outras mais “veladas”. Um tipo mais comum é o sexual ou seja “é um tipo de violência que se caracteriza por qualquer ação ou comportamento sexual que acontece sem o consentimento da outra pessoa. Esse tipo de assédio engloba uma série de comportamentos, que vão desde o contato físico até um comentário com conotação sexual’. O homem se considera o caçador e a mulher sua presa. Por pensar assim o feminicídio vem crescendo assustadoramente em todo o país. 

 

Você conhece a história do “Rapto das sabinas”?  

 

Rapto das sabinas – como não houvesse quase mulheres em Roma, Rômulo usou de um ardil. Organizou jogos públicos e fez acender grandes fogueiras. Os sabinos – que habitavam a nordeste de Roma – dirigiram-se com as esposas até as portas da cidade. A um dado sinal os romanos apoderaram-se das donzelas sabinas e levaram-nas consigo. Os sabinos reuniram-se para atacar Roma, quando as raptadas apareceram pedindo paz. Uniram-se romanos e sabinos, ficando celebrado que daí por diante seria aclamado um rei romano e um rei sabino, alternadamente”. 

 

Interessante, né? Eu me lembro de um assédio bastante cômico. Eu diria meio assédio, porque a palavra não se consumou. Não sei como se comportaria um juiz ao julgar esse caso. E você, como analisaria? 

 

Adão era um negão alto e muito forte. No aperto de mãos a dele envolvia a minha inteirinha. Ele me lembra o ator Michael Clarke Duncan do filme “A espera de um milagre”. Lembra? O que tinha de forte, Adão tinha de meiguice, simpatia e bondade. . Nós trabalhávamos na mesma empresa. Ele em Belo Horizonte e eu em Barbacena. Adão além de técnico na área de licitação/leilão era também goleiro de um time de uma cidade da Grande Belo Horizonte. Já imaginaram ele de braços abertos? Ele só não espantava porque todos conheciam o temperamento calmo, tranquilo, sereno e sempre bem humorado. Só um louco poderia discordar dessas virtudes. Ele adorava banalizar alguns fatos, só para amenizar o ambiente e ver as pessoas alegres e felizes. 

 

Uma vez nos reunimos em Barbacena para tratarmos do leilão de um imóvel na cidade de São João Del Rei. Aprendemos muito com ele sobre estratégias de um leilão de final bem sucedido. Adão era um gênio no blefar e persuasão. Ele viajou de São João Del Rei a Barbacena e daqui para Belo Horizonte. Tarde de muito calor em Belo Horizonte. A viatura subia a Avenida Afonso Pena rumo ao Morro do Cruzeiro. Otávio era o motorista, ao seu lado o nosso personagem Adão, alegre, serelepe, contando casos, piadas e às vezes, cantarolando: “Tire suas mãos de mim/eu não pertenço a você/não é me dominando assim/que você vai me entender/eu posso estar sozinho/mas eu sei muito bem aonde estou/você pode até duvidar/acho que isso não á amor. Será só imaginação?/será que nada vai acontecer?/será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer.  

 

Repentinamente a cantoria para e Adão pede aos gritos que Otávio diminua a velocidade do carro. Otávio assustado obedece e pergunta o porquê da ação repentina. Adão lhe aponta uma pizzaria, cheia de garotas bonitas e “saradas” ocupando a calçada, tomando refrigerantes, sorvetes e etc. Ao passar por elas bem devagarzinho Adão coloca a cabeça para fora da janela e grita com toda força dos seus pulmões: – Gostoooo……… (Uai cadê o final da palavra?). Coitado do Adão, ao tentar dizer a palavra gostooooosa parou no “to” porque sua dentadura fora arremessada para fora do carro caindo pertinho das jovens encantadoras. Ele ficou possesso dentro do carro e pedia insistentemente para que Otávio parasse o carro. Otávio não entendia nada do que Adão estava falando, ou melhor, tentando falar. Chegou a pensar que estivesse passando mal tendo um infarto ou um AVC, pois as palavras saíam incompreensíveis. O carro parou. Adão desceu que nem um velocista foi até a pizzaria tapando a boca com a mão e conseguiu localizar pedaços da dentadura entre copos de plástico, canudos, restos de alimentos e guardanapos. Ele catou o que sobrou silenciosamente sob os olhares das jovens que faziam carinha de nojo e diziam: eca! Cruzes! Que nojeira! Aiiiii! Uma delas jogou para longe uma sacola de batatas fritas, um copo de refrigerante e fez menção de vomitar. Adão voltou para o carro muito sério, carrancudo e pediu ao motorista Otávio que o levasse ao protético amigo seu para tentar colar a sua dentadura. 

 

Francisco de Santana

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