Dialogando com a morte

A crônica de Francisco Santana

– Santana, estou muito chateado e revoltado com a morte.

– Com a morte? O que ela lhe fez para você ficar tão desapontado assim?

– Embora você tenha me dito que “A morte é um tema evitado, ignorado e negado por nossa sociedade, o fato, porém, é que a morte é inevitável. Todos nós morreremos um dia, é apenas uma questão de tempo. Ela na verdade, é tão parte da existência humana, do seu crescimento e desenvolvimento, quanto o nascimento. É uma das poucas coisas na vida de que temos certeza. A morte estabelece um limite em nosso tempo de vida e nos impede a fazer algo produtivo nesse espaço de tempo, enquanto dispusermos dele. Tudo que se foi, se é e se fez culmina com a morte. Não precisamos nem devemos esperar que ela bata à nossa porta para  começarmos realmente a viver. Se podemos começar a encarar a morte como companheira invisível, então podemos aprender a viver a vida e não apenas passar por ela. que ela é justa”, eu não me conformo com alguns atos que ela vem praticando. Que família sinistra! Os pais se chamam morte, mãe se chama morte e todos os familiares se chamam morte. Corporativismo?

– Nenhum de nós sabe o que nos espera depois da vida.

– Se ela aceitasse dialogar comigo, creio que teríamos muitas coisas a tratar. O problema é que quando ela chega se chama morte e como vou xingá-la se já está morta?

– Vamos imaginar que ela queira dialogar com você. Qual seria o teor dessa conversa?

– Eu iria lhe mostrar alguns projetos e creio que com o aceite dela seria bom para todas as partes.

– Você parece estar revoltado. Quer desabafar?

– Santana, aquele jovem cantor, Gabriel Diniz, cheio de sonhos, que ressuscitou um nome que estava no ostracismo há décadas, JENIFER, morreu nesta semana na plenitude profissional e pessoal. Sua morte me abalou emocionalmente, chego a pensar que a sogra da morte se chama JENIFER. Nesta mesma semana morreu o Ricardinho, um garoto talentoso, inteligente de apenas oito anos. Inconcebível. Morreu também o meu amigo Hércules, 27 anos, noivo, apartamento mobiliado, casamento marcado, convites distribuídos e de repente, morre o Hércules. Eu gostaria de entender esses métodos da morte, embora você já tenha me dito por diversas vezes como ela age sobre idades.

– Sim! Eu me lembro de um texto escrito por Joseph Braga no prólogo do livro “Morte, estágio final da evolução” de Elisabeth Kubler Ross. Era assim: “O ato de morrer jovem ou mais velho é menos importante do que ter vivido intensamente os anos que se teve. Uma pessoa pode viver mais em 18 anos do que outra em 80. Para nós, viver não significa acumular freneticamente uma quantidade e uma soma de experiências fantasiadas pelos outros. É preciso viver cada dia como se fosse o único, encontrar um sentido de paz e força que combata as decepções e dores da vida”.  O que você proporia à morte?

– Morte só a partir de 18 anos. A criança merece viver para conhecimento e prazeres da vida. Saber que uma criança morreu me arrasa e deprime.  Sou totalmente contra os pais enterrarem seus filhos. Os filhos é que deveriam enterrar os pais. Entre morrer pai ou mãe, a prioridade é do pai. A mãe é mais sensível, amiga que sempre leva um sorriso no rosto e mil segredos no coração, como disse Clarice Lispector. Eu aproveitaria a febre da discussão da reforma da previdência social e iria também propor a minha junto à morte. Político morreria com 75 anos. Se reeleger cai para 70. Assim diminuiria sensivelmente o número de candidatos. Se o político fizer obras meritórias para o bem social ganharia um bônus de 10 anos e poderia morrer com 85. Se fizer por merecer poderia comemorar seu centenário de nascimento. Imbecis, babacas, viciados, egocêntricos, pedófilos, traficantes, ladrões, pervertidos, usurpadores da credibilidade popular, corrupto, feminicida homicida e latrocidas ficariam presos por alguns anos para depuração e após sentença judicial justa e perfeita morreriam. É o fator social, vive quem merecer por expandir amor, alegrias e felicidades.

– São dados radicais, reivindicações utópicas, mas não custa tentar.

– Pedir e tentar convencer não mata ninguém, assim espero. Que ela não se enfureça comigo e não tente me levar com ela. O meu intuito é uma longevidade com amor, saúde e sabedoria para todos e que injustiças não aconteçam.

A morte perguntou:

“Por que todo mundo ama você e me odeia?”.

A vida respondeu:

“Porque eu sou uma linda mentira e você uma verdade dolorosa”.

(Fonte: Livro “Morte estagio final da evolução de Elisabeth Kubler Ross).

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