Contra-Ataque: Um conto de fadas que deveria ser eterno

Sérgio Monteiro

 

 

Um conto de fadas que deveria ser eterno

 

As olimpíadas são mágicas. Têm a capacidade de nos tornar íntimos de heróis que até outro dia eram ilustres desconhecidos para a maioria de nós. E não há exemplo melhor para ilustrar isso do que a menina Rayssa Leal, a nossa fadinha, que nos emocionou ao conquistar a prata no skate olímpico. Aos 13 anos, ela gravou o seu nome na história do esporte nacional e também das Olimpíadas ao se tornar a medalhista brasileira mais jovem da história dos jogos. Logo na estreia do skate, o que nos dá a certeza de que ainda teremos muitas alegrias com essa modalidade e de que o ouro está logo ali, à frente e ao nosso alcance.

Rayssa fez a madrugada de segunda-feira ser especial para muitos de nós. Para mim, foi a senha para um mergulho pelos jogos olímpicos de Tóquio – estava evitando esse vício já que o horário das competições é pouco compatível com os horários de um trabalhador. Mas não teve jeito. Depois do skate, foi preciso acompanhar o surfe, o judô, o tênis de mesa, a natação, os esportes coletivos… As olheiras que me perdoem, mas até 08 de agosto terá que ser assim.

A pequena Rayssa foi gigante. Não apenas em suas apresentações, mas também em todos os momentos dos últimos dias. Foi a nossa representante quando estavam se apresentando os seus companheiros do skate street, modalidade que nos trouxe outra medalha, também de prata, com Kelvin Hoefler. Como não se apaixonar pela fadinha que tanto nos representou na torcida enquanto os demais competiam? Se o torcedor não pode estar presente em Tóquio, lá estava ela, gritando e incentivando um por um. Letícia Bufoni, sua fiel companheira, que nos diga.

Aliás, Letícia teve um papel fundamental nessa história. Mesmo ficando de fora das finais da categoria – amargou um nono lugar nas classificatórias – ela foi a inspiração de Rayssa desde os primeiros passos, aos sete anos. Uma relação inicial de idolatria que se transformou em uma linda amizade e uma história vitoriosa. Nas competições, na vila olímpica, nas redes sociais, uma coisa era certa: onde estava Letícia, estava a nossa fadinha. Ganharam elas. Ganhamos nós.

Mas não foi só em Tóquio que Rayssa nos encantou e se agigantou. Ao chegar em sua cidade natal – Imperatriz, no Maranhão –, já com a medalha no peito, a menina mulher novamente mostrou-se guerreira. Dona de uma personalidade forte, recusou-se a posar ao lado de políticos locais que tentaram, de forma oportunista, tirar uma lasquinha do momento que era só dela. Afinal de contas, são os mesmos que muitas vezes negaram a ela – e porque não dizer a tantos outros atletas olímpicos – o apoio necessário para a prática do esporte em nosso país. E se hoje as medalhas ainda são escassas, a culpa é exatamente da falta de apoio e patrocínio. Para aparecer na foto na hora da conquista, sobram papagaios de pirata. Mas na hora de apoiar…

Sempre despojada, alegre e carregando a leveza que sua idade requer, Rayssa mostrou-se ainda firme e decidida. Obrigado, Rayssa. Você uniu, ao menos por instantes, um país cada vez mais dividido. Você nos tirou sorrisos e lágrimas que estavam guardados a sete chaves. E nos mostra, com suas atitudes e uma encantadora maturidade o quanto é importante ter atitude diante das mais diversas situações cotidianas. O Brasil agradece! A humanidade também!

 

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Crédito – Ulio Detefon/CBSK/Reprodução

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